Por Mark Fisher, via ZeroBooks, traduzido por Rodrigo Gonsalves
O quarto capítulo da obra mais difundida de Mark Fisher, articula os desafios e as dificuldades do ensinar dentro do Realismo Capitalista. Porém, no desenvolvimento de sua leitura crítica acerca da relação professor-aluno dentro do neoliberalismo
, suas articulações se deparam com a falta de engajamento dos jovens estudantes ingleses da atualidade, ressalta as modalidades de sofrimento subjetivo pelo qual estes jovens atravessam e por fim, oferece reflexões vitais acerca do modelo atual de trabalho dentro do capitalismo. Ao se debruçar sobre a relação do ensino na atualidade, o mesmo evidencia os desafios da comercialização da educação, que impõe um estado confusional aos estudantes tornando-se “consumidores” de um serviço e também seu próprio produto. A leitura crítica proposta por Fisher, aponta para indícios claros de como tal relação cabe perfeitamente aos moldes do pós-fordismo e aos interesses neoliberalistas.
Em contraste com seus ancestrais de 1960 e 1970, estudantes ingleses hoje parecem estar politicamente desengajados. Enquanto estudantes franceses ainda podem ser encontrados nas ruas protestando contra o neoliberalismo, os estudantes ingleses, cuja situação é incomparavelmente pior, parecem estar resignados com seu destino. Mas isto, quero argumentar, é uma questão não de apatia, nem de cinismo, mas de impotência reflexiva. Eles sabem que as coisas estão ruim, mas mais do que isto, eles sabem que não podem fazer nada à respeito. Mas este “conhecimento”, que a reflexividade não é uma observação passiva do estado das coisas já existente. É uma profecia auto-realizável.
A impotência reflexiva se soma a uma visão de mundo não declarada dentre os jovens ingleses e, tem seu correlato com patologias amplamente difundidas. Muitos destes adolescentes com quem trabalhei sofriam de problemas de saúde mental ou dificuldades de aprendizado. A depressão é endêmica. É a condição mais tratada pelo Serviço Nacional de Saúde e que está afligindo pessoas incrivelmente jovens. O número de alunos que sofrem de algum nível de dislexia é impressionante. Não é um exagero dizer que ser um adolescente no capitalismo tardio na Inglaterra hoje em dia, é praticamente como ser classificado enquanto uma doença. Essa patologização em si já encerra qualquer possibilidade de politização. Justamente, pela privatização destes problemas – tratando-os enquanto dificuldades causadas por desníveis químicos na neurologia do indivíduo e/ou por sua herança genética familiar – qualquer questionamento de uma causa social sistêmica é descartada.
Muitos estudantes adolescentes que conheci pareciam estar em algum estado que gostaria de chamar de depressão hedonista. A depressão é habitualmente caracterizada enquanto um estado de não-hedonismo, mas a condição cujo me refiro aqui é constituída não por uma inabilidade em se obter prazer mas sim, pela inabilidade de fazer qualquer outra coisa senão buscar por este prazer. Há uma sensação de que se “está perdendo algo” – mas sem nenhuma apreciação de que esta misteriosa, satisfação perdida possa apenas ser acessada para além do princípio do prazer. Em grande parte isto é a consequência do posicionamento estruturalmente ambíguo dos alunos, encalhado entre seu antigo papel enquanto sujeitos de instituições disciplinares e seu novo status enquanto consumidores de serviços. Em seu crucial texto “Posfácio sobre as Sociedades de Controle”, Deleuze distingue entre sociedades de controle descritas por Foucault, organizadas nos ambientes de confinamento das fábricas, escolas e prisões, e as novas sociedades de controle, onde todas as instituições estão embutidas em corporações dispersas.
Deleuze está correto ao argumentar que Kafka é o profeta da distribuição do poder cibernético que é típico das sociedades de controle. Em O Processo, Kafka crucialmente distingue dois tipos de absolvição disponíveis ao acusado. A absolvição definitiva não é mais possível, se algum momento esta de fato o foi (“temos apenas referências míticas de casos primevos [onde] indícios de absolvição foram providos”). As duas opções reminiscentes são assim: (1) ‘Absolvição ostensiva’, onde o acusado é para todos os indícios e propósitos absolvido, mas pode depois, em algum momento não especificado, encarar as acusações por completo ou (2) ‘Postergação indefinida’, onde o acusado se engaja (na esperança de que infinitamente) num processo prolongado de disputa legal, para que o julgamento derradeiro arraste-se ao passo de que dificilmente chegue. Deleuze nota que sociedades de controle descritas pelo próprio Kafka, mas também por Foucault e Burroughs, operam usando a ‘postergação indefinida’: Educação é um processo para toda vida… Treinamento que persiste enquanto a sua vida profissional durar… Trabalho que você leva para casa com você… Trabalhar de casa, usar coisas do trabalho para uso pessoal. Uma consequência deste modo ‘indefinido’ de poder é que a vigilância externa é sucedida pelo policiamento interno. O controle apenas funciona se você for cúmplice dele. Logo, a figura do ‘viciado por controle’ de Burroughs: aquele que é viciado em controle, mas também, inevitavelmente, aquele que fora dominado e possuído pelo controle.
Entre, em praticamente, qualquer sala de aula na universidade onde lecionei e você irá imediatamente notar que você está sob um enquadre pós-disciplinar. Foucault dolorosamente enumerou os modos como a disciplina fora instalada através da imposição do enrijecimento das posturas corporais. Durante as aulas na universidade, entretanto, estudantes podiam ser vistos deitados sobre as mesas, falando praticamente constantemente, comendo incessantemente (ou até mesmo, em algumas ocasiões, comendo refeições completas). A antiga segmentação disciplinar do tempo está se esfacelando. O regime carcerário disciplinar está sendo erodido pelas tecnologias de controle, com seus sistemas de consumo perpétuo e desenvolvimento contínuo.
O sistema como a universidade é financiada, implica literalmente no fato de que esta não pode excluir alunos, mesmo que quisesse. Os recursos são alocados em universidades com base no quão bem sucedidas estas atingem suas metas de empreendimento (resultados de provas), frequência e retenção de alunos. Esta combinação de imperativos de mercado com ‘metas’ burocraticamente definidas é típica das iniciativas de “propaganda Stalinista” que agora regulam serviços públicos. A falta de um sistema disciplinar efetivo para dizer o mínimo, não fora compensado por um aumento na auto-motivação do estudante. Estudantes estão cientes de que se não comparecerem por semanas a fio, e/ou se não produzirem nenhum trabalho, eles não irão enfrentar nenhuma sanção significativa. Eles tipicamente respondem a esta liberdade não buscando por projetos mas caindo na estafa hedonista (ou não-hedonista): na narcose leve, no palatável esquecimento reconfortante do Playstation, na TV a noite toda e no uso de maconha.
Pergunte para os estudantes para ler por mais de algumas frases e muitos – e esses são os estudantes nível-A, acredite você – irão protestar que eles não podem fazê-lo. A reclamação mais frequente que professores ouvem, é a de que é entediante. E, isto não é tanto por conta do conteúdo do que está escrito no material; mas no ato em si da leitura que é tido como ‘entediante’. O que estamos lidando aqui não apenas o tradicional torpor adolescente, mas o desencontro entre uma ‘Nova Carne’ pós-literária que é ‘muito conectada para se concentrar’ e a concentracional, confinatória lógica decadente dos sistemas disciplinares. Estar entediado significa apenas removido-se da matrix comunicativa de sensação-estímulo do estar digitando, no YouTube e do fast food; estar privado, por um momento, do fluxo constante da gratificação açucarada sob demanda. Alguns estudantes querem Nietzsche da mesma maneira como querem um hamburger; eles falham em notar – e a lógica do sistema de consumo estimula esta apreensão equivocada – que o indigesto, a dificuldade é Nietzsche.
Um exemplo: eu questionei um aluno sobre o porque ele sempre usava fones de ouvido em sala de aula. Ele respondeu que não fazia diferença, porque ele não estava ouvindo música. Em outra aula, ele estava ouvindo música pelos fones de ouvido num volume bem baixo, mas sem colocá-los nas orelhas. Quando o pedi para desligar, ele respondeu que nem ele conseguia ouvir. Por que usar fones de ouvido que não estão tocando música ou tocar música sem usar os fones de ouvido? Porque a presença dos fones nas orelhas ou a ciência de que a música está tocando (mesmo que você não possa ouvi-la) era uma garantia de que a matrix ainda estava lá, ao alcance. Além do mais, no clássico exemplo de interpassividade, se a música ainda estivesse tocando, mesmo que ele não pudesse ouvir, então o tocador poderia ainda aproveitar por ele. O uso dos fones de ouvido é significativo aqui – o pop é experimentado não como algo que poderia ter impactos sobre o espaço público, mas como um retiro em direção ao privado “ÉdIpod” da apreciação consumista, uma parede contra o social.
A consequência de estar enganchado na matrix de entretenimento é a ansiedade, agitação interpassiva, uma inabilidade em concentrar-se ou em manter o foco. A incapacidade de alunos em ligar a falta de foco com a falha no futuro, sua inabilidade em sintetizar o tempo em qualquer narrativa coerente, é sintoma mais do que apenas da desmotivação. É, em realidade, estranhamente reminiscente da análise de Jameson em ‘Pós-modernismo e Sociedade de consumo’. Jameson observou que a teoria lacaniana acerca da esquizofrenia oferece um ‘modelo estético sugestivo’ para compreender a fragmentação da subjetividade em face à emergência do complexo da indústria do entretenimento. “Com a quebra da cadeia significante”, Jameson resume, “a esquizofrenia para Lacan é reduzida a uma experiência da materialidade pura dos significantes, ou, em outras palavras, uma série pura e não relacional de presentes no tempo”. Jameson estava escrevendo no final de 1980 – ou seja, no período em que a maioria dos meus alunos estava nascendo. O que nós na sala de aula estamos agora lidando é uma geração que nasceu nesta cultura pontual a-histórica e anti-memória – a geração, quero dizer, para aqueles que o tempo sempre vem já cortado e embalado em micro fatias digitais.
Se a figura de disciplina era do trabalhador-prisioneiro, a figura do controle é a do devedor-adicto; William Gibson reconhece isto em Neuromancer onde ele tinha Case e outros cowboys ciberespaciais que sentiam insetos sob a pele em abstinência quando desplugados da matrix (a utilização de anfetamina por Case é claramente um substituto pelo vício em uma velocidade muito mais abstrata). Então, se algo como o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade for uma patologia, é uma patologia do capitalismo tardio – uma consequência de estar conectado aos circuitos do controle do entretenimento da cultura de consumo hiper-mediada. Similarmente, o que é chamado de dislexia pode em muitos casos se somar à pós-lexia. Adolescentes processam dados de densidade imagética do capital com grande efetividade sem precisar ler – o reconhecimento-de-slogans é o suficiente para navegar no plano informativo da revista-internet-celular. “Escrever nunca foi coisa do capital. O capitalismo é profundamente iliterato”, como diz Deleuze e Guattari no Anti-Édipo. “A linguagem elétrica não vai do mesmo modo que a voz ou a escrita: o processamento de dados se dá sem ambas”. Logo, a razão pela qual tantos empresários de sucesso são disléxicos (mas seria sua eficiência pós-lexical a causa ou o efeito de seu sucesso?)
Professores estão agora postos sob uma intolerável pressão para mediar entre a subjetividade pós-letrada do consumidor no capitalismo tardio e as demandas do regime disciplinar (passar nas provas e etc…). Isto é um dos caminhos onde a educação, longe de ser uma torre de marfim seguramente desdenhada do ‘mundo real’ é a sala de máquinas da reprodução da realidade social, diretamente confrontando as inconsistências do campo social capitalista. Professores estão aprisionados entre serem facilitadores-animadores e autoritários-disciplinares. Professores querem ajudar alunos a passarem nas provas; eles querem que sejamos figuras de autoridade quem digam para eles o que fazer. Professores sendo interpelados por estudantes como figuras de autoridade exacerba o problema do ‘tédio’, uma vez que qualquer coisa que advém de um lugar de autoridade não é apriori entediante? Ironicamente, o papel disciplinador é exigido do educador mais do que nunca, exatamente no momento em que a estrutura disciplinar está ruindo dentro das instituições. Com famílias se afivelando sob a pressão do capitalismo que exige que ambos os pais trabalhem, professores agora estão cada vez mais sendo exigidos a agir como pais adotivos, instalando os protocolos mais básicos de comportamento nos estudantes e provendo apoio emocional e pastoral aos adolescentes que, em alguns casos, são minimamente socializados.
Vale enfatizar que que nenhum dos estudantes que ensinei tinham alguma obrigação legal para estar na universidade. Eles poderiam sair se quisessem. Mas a falta de qualquer oportunidade de trabalho significativa, somada ao encorajamento cínico advindo do governo indicando que a universidade parece ser a opção mais fácil, mais segura. Deleuze diz que sociedades de controle são baseadas mais na dívida do que no enclausuramento; mas há um modo atual onde que o sistema educacional, ao mesmo tempo, endivida e enclausura estudantes. Pagando pela sua própria exploração, a lógica persiste – se endivide para que você possa ter o mesmo Mcemprego que você poderia ter tido se você tivesse deixado a escola aos dezesseis…
Jameson nota que a “quebra na temporalidade de repente liberta [o] presente do tempo de todas as atividades e intencionalidades que poderiam focá-la e torná-la um espaço de praxis”. Mas a nostalgia pelo contexto em que os velhos tipos de praxis operavam são simplesmente inúteis. É por isto que estudantes franceses no final não constituem uma alternativa à impotência reflexiva inglesa. Que o neoliberal Economist ridicularizaria a oposição francesa ao capitalismo, não é nem de perto uma surpresa, mas ainda assim, a zombaria da ‘imobilização’ francesa tem um ponto. ‘Certamente os estudantes que iniciaram os protestos recentes pareciam pensar que estavam re-encenando os eventos de Maio de 1968 que seus pais criaram no Charles de Gaulle’, surgiu num dos principais artigos em 30 de março de 2006:
Eles pegaram emprestado os slogans (‘Sob os paralelepipedos, a praia!’) e sequestraram seus símbolos (a universidade Sorbonne). Neste sentido, a revolta parece ser a sequência natural aos protestos suburbanos de 2005, que levou o governo a impor estado de emergência. Então foram os desempregados, as subclasses étnicas que se rebelaram contra o sistema que os excluira. Ainda assim, o traço marcante dos últimos protestos é que desta vez as forças rebeldes estão do lado do conservadorismo. Diferentemente das juventudes revoltas nos banlieues, o objetivo dos estudantes e do setor público dos sindicatos é previnir a mudança, e manter a França como está.
É impressionante como a prática de muitos destes imobilizadores é um tipo de inversão daquilo que um outro grupo, que também se consideram herdeiros de 68: chamados de ‘comunistas liberais’ como George Soros e Bill Gates, que combinam buscas vorazes por lucro com a retórica da preocupação ecológica e responsabilidade social. Junto com suas preocupações sociais, os comunistas liberais acreditam que as práticas trabalhistas devem ser (pós) modernizadas, em linha com o conceito de ‘ser inteligente’. Como explica Žižek:
Ser inteligente significa ser dinâmico e nômade, é ser contra a burocracia centralizada; acreditando no diálogo e na cooperação contra a autoridade central; na flexibilidade contra a rotina; na cultura e no conhecimento contra a produção industrial; na interação espontânea e na autopoiesis contra a hierarquia fixa.
Tomados em conjunto, os imobilizadores, com suas concessões implícitas de que o capitalismo podem apenas ser resistido, nunca superado, e comunistas liberais, que sustentam que os excessos amorais do capitalismo deve ser compensado com a caridade, passa um senso do modo como o realismo capitalista circunscreve as possibilidades políticas atuais. Enquanto os imobilizadores retém a forma estilística dos protestos de 68 mas sob o nome da resistência à mudança, os comunistas liberais abraçam energicamente a mudança. Žižek está correto ao afirmar que, longe de constituir qualquer modo de correção progressista a ideologia capitalista oficial, o comunismo liberal constitui a ideologia dominante do capitalismo de hoje em dia. “Flexibilidade”, “nomadismo” e “espontaneidade” são as características essenciais do gerenciamento do pós-Fordismo, nas sociedades de controle. Mas o problema é que qualquer oposição a flexibilidade e a descentralização são, para dizer o mínimo, pouco prováveis de serem estimulantes.
Em todo caso, resistência ao ‘novo” não é um causa que a esquerda pode ou deveria se revoltar contra. O capital pensou com extremo cuidado sobre como esfacelar o trabalho; porém, ainda não existem ideias o suficiente sobre quais táticas irão funcionar contra o capital nas condições pós-fordistas e qual nova linguagem pode ser inovada para lidar com tais condições. É importante contestar a apropriação capitalista do ‘novo’, mas resgatar o ‘novo’ não pode ser uma questão de adaptação às condições em que nós nos encontramos – nós fizemos isso bem demais, e ‘adaptação de sucesso’ é a estratégia por excelência dos gestores.
A persistente associação do neoliberalismo com o termos ‘restauração’, favorecida tanto por Badiou quando por David Harvey, é um corretivo importante para a associação do capital com a novidade. Para Harvey e Badiou, a política neoliberalista não trata do novo mas do retorno ao poder de classes e do privilégio. ‘Na França’, Badiou disse: “‘Restauração’ se refere ao período do retorno do Rei em 1815, depois da revolução e de Napoleão. Nós estamos neste período. Hoje vemos o capitalismo liberal e seu sistema político, o parlamentarismo, como a única solução natural e aceitável”. Harvey argumenta que a neoliberalização é melhor concebida enquanto um “projeto político para re-estabelecer as condições de acúmulo de capital e restaurar o poder econômico das ‘elites’”. Harvey demonstra que, numa época popularmente descrita enquanto ‘pós-política’, a guerra de classes ainda continua sendo lutada, mas apenas por um lado: o dos ricos. ‘Depois da implementação das políticas neoliberais no final dos anos 70’, revela Harvey:
O percentual do rendimento nacional do topo do 1% dos assalariados por renda aumentou, buscando atingir 15%… até o final do século. O topo dos 0.1 por cento dos assalariados por renda nos EUA aumentou sua parcela do rendimento nacional de 2 por cento em 1978 para acima de 6 por cento em 1999, enquanto a proporção da compensação média dos trabalhadores assalariados em relação aos salários de CEOs aumentou de um pouco acima de 30 para 1 em 1970 e aproximadamente de 500 para 1 em 2000… Os EUA não estão sozinhos nesta: o topo do 1 por cento dos assalariados por renda na Inglaterra dobrou seu percentual de rendimento nacional de 6.5 por cento para 13 por cento desde 1982.
Como demonstra Harvey, neoliberais foram mais leninistas que os leninistas, usando incubadoras de pensamentos [think-tanks] como vanguarda intelectual para criar o clima ideológico em que o realismo capitalista pudesse florescer.
O modelo imobilizador – onde somam a demanda da manutenção dos regimes Fordistas e disciplinares – pode não funcionar na Inglaterra ou em outros países onde o neoliberalismo já funciona. O Fordismo está definitivamente colapsado na Inglaterra, e com isso, também os lugares políticos cuja a antiga política estavam organizados. No final do texto sobre controle, Deleuze devaneia sobre como seriam como seriam novas formas política anti-controle poderiam ser:
Uma das questões mais importantes se concerne acerca da inaptidão dos sindicatos: amarrados com o todo de suas histórias de lutas contra os sistemas disciplinares ou por dentro dos espaços de enclausuramento, estariam estes aptos a se adaptarem ou eles cederiam diante de novas formas de resistência contra as sociedades de controle? Podemos já capturar demarcações mesmo que grosseiras das formas vindouras, capazes de ameaçar os júbilos dos mercados? Muitos jovens estranhamente ostentam serem ‘motivados’; eles re-requisitam programas de estágio e treinamento permanente. Cabe a eles descobrir o que eles estão sendo moldados à servir, assim como os seus mais velhos descobriram, não com grande dificuldade, o telos das disciplinas.
O que deve ser descoberto é um modo de saída do mecanismo binário da motivação/desmotivação, para que a desidentificação dos registradores de programas de controle enquanto algo outro do que o dejeto apático. Uma estratégia seria alterar o terreno político – sair do foco tradicional dos sindicatos nos salários, em direção às formas de mal-estar específicos do pós-fordismo. Antes de seguirmos esta análise, devemos considerar com maior profundidade o que o pós-fordismo, realmente é.
*originalmente publicado em Capitalist Realism: Is there no alternative?
(1) Grifo do tradutor.
(2) N. do T. Deleuze em Conversações: 1972-1990. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992, p. 219-226
(3) N. do T. Do original OedIpod.
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