Por Vladimir Ilitch Ulianov Lenin, via Marxists.org, traduzido por Catarina Duleba
Nesta exemplar peça de polêmica entre Lenin e os mencheviques, marcada pelo calor da revolução russe da 1905, o bolchevique levanta algumas importantes questões sobre a tática oportunista e a questão do armamento do povo. Publicado originalmente em 25 de fevereiro de 1905, na sétima edição da publicação bolchevique “Vperyod”.
Aconteceu há muito, muito tempo, há mais de um ano. De acordo com o testemunho do não-desconhecido social-democrata alemão, Parvus, “diferenças fundamentais” surgiram no Partido Russo. Tornou-se a principal tarefa política do partido do proletariado combater os extremos do centralismo, a ideia de “dar ordens” aos trabalhadores de alguma obscura Genebra [no exílio, de onde operava o centro editorial do partido] e a superestimação da ideia de uma organização de agitadores, de uma organização de líderes. Tal foi a convicção profunda, firme e inabalável do Parvus menchevique, expressa em seu boletim semanal de notícias alemão, “Aus der Weltpolitik”, em 30 de novembro de 1903.
Foi apontado na época para o estimável Parvus (veja a carta de Lenin aos editores do Iskra, dezembro de 1903 [1]) que ele foi vítima de intrigas, que o que ele considerou como diferenças fundamentais eram, no fundo, meras querelas, e que a mudança nas ideias do novo Iskra, que estava se tornando notável, era uma mudança em direção ao oportunismo. Parvus ficou em silêncio, mas suas “ideias” sobre a superestimação da importância de uma organização de líderes foram retomadas e trabalhadas até a morte pelos neo-iskristas.
Quatorze meses se passaram. O trabalho disruptivo dos mencheviques dentro do Partido e a natureza oportunista de sua propaganda tornaram-se perfeitamente claros. Em 9 de janeiro de 1905, revelou-se plenamente a vasta reserva de energia revolucionária possuída pelo proletariado, bem como a total inadequação da organização social-democrata. Parvus voltou a si. Ele escreveu um artigo no Iskra, nº 85, que, na verdade, era uma reviravolta: das novas ideias do oportunista novo Iskra para as ideias do velho Iskra revolucionário. “Havia um herói”, exclamou Parvus, referindo-se a Gapon, “mas nenhum líder político, nenhum programa de ação, nenhuma organização… A falta de organização produziu resultados trágicos… As massas estão desunidas, está tudo sem planos, não há centro aglutinador, não há um programa de ação orientador… O movimento decaiu por falta de uma organização aglutinadora e coordenadora”. E Parvus propôs a palavra de ordem que sugerimos na edição número 6 de Vperyod – “Organizar a Revolução!” [2] As lições da revolução convenceram Parvus de que “sob as condições políticas atuais, não podemos organizar as centenas de milhares” (a referência é para as massas prontas para a revolta). “Mas”, disse ele, repetindo com boa razão uma ideia expressa há muito tempo em “Que fazer?”, “podemos criar uma organização que serviria como um fermento catalisador e, no momento da revolução, reuniria centenas de milhares de pessoas ao seu lado. Devemos organizar círculos de trabalhadores que devem ter uma tarefa claramente definida, a saber, preparar as massas para a revolta, mobilizá-las para o nosso lado no momento da revolta e lançar a revolta quando a palavra de ordem for emitida.”
Finalmente! Nós exclamamos com alívio, quando nos deparamos com essas velhas verdades enterradas no meio dos entulhos do novo Iskra. Por fim, o instinto revolucionário de um funcionário do partido proletário prevaleceu, ainda que apenas temporariamente, sobre o oportunismo do Rabocheye Dyelo. Por fim, ouvimos a voz de um social-democrata que não se assusta com a retaguarda da revolução, mas aponta sem medo para a necessidade de apoiar a vanguarda da revolução.
Os neo-iskristas, é claro, não poderiam concordar com Parvus. “Nós não compartilhamos com todas as opiniões expressas pelo camarada Parvus”, diz a nota dos editores.
Nós devemos dizer não! Veja-os “compartilhando” pontos de vista que acertam em cheio todos os absurdos oportunistas que eles têm vomitado nos últimos dezoito meses!
“Organizar a Revolução!” Mas nós não temos o nosso sábio Camarada Martynov, que sabe que uma revolução é causada por uma mudança completa nas relações sociais e que uma revolução não pode ser cronometrada? Martynov apontará seu erro a Parvus e provará que, mesmo que este último tenha em mente a organização da vanguarda da revolução, é, no entanto, uma ideia “jacobina”, “limitante” e nociva. Além disso, nosso sábio Martynov tem um Tryapichkin [3] em uma corda na forma de Martov, que é capaz de tornar seu professor mais intenso e que pode muito bem substituir pela palavra de ordem “Desencadear a Revolução!” a palavra de ordem de “Organizar a Revolução!” (Veja o nº 85; itálico do autor).
Sim, caro leitor, esta é a palavra de ordem que nos é dada no artigo principal do Iskra. Hoje em dia, aparentemente, basta “desencadear” a língua de alguém para uma livre tagarelice-processo, ou para o processo da tagarelice, para ser capaz de escrever artigos importantes. O oportunista invariavelmente exige palavras de ordem que, sob um exame mais minucioso, revelam ser nada além de frases de alta sonoridade, nada além de malabarismo de palavras decadentes.
“Organizem-se e, mais uma vez, organizem-se!”, insiste Parvus perante o mundo, como se ele tivesse se tornado bolchevique. Ele não entende, coitado, que a organização é um processo (Iskra, nº 85, assim como todos os números anteriores do novo Iskra, particularmente os magníficos folhetins da magnífica Rosa). Ele não sabe, pobre diabo, que, de acordo com todo o espírito do materialismo dialético, as táticas são tanto um processo quanto a organização. Como um “conspirador”, ele fala sobre sua organização-como-plano. Como um “utópico”, ele imagina que alguém pode simplesmente chegar e organizar algo de improviso durante um, Deus nos livre, Segundo ou Terceiro congresso [do Partido, revindicados pela ala bolchevique e recusados pela direção menchevique].
Os Pilares de Hércules “jacobinos” deste Parvus falam por si mesmos! “Lançar o levante quando a palavra de ordem for emitida” – imagine isso! É ainda pior do que a ideia de “marcar a hora” da revolta, que foi desmascarada pelo nosso formidável Martynov. Realmente, Parvus deveria tirar uma ou duas lições de Martynov. Ele deveria ler o nº.62 do Iskra; o artigo principal lhe contará sobre as “utópicas” ideias prejudiciais sobre a preparação da revolta, que foram divulgadas prematuramente em nosso Partido em 1902 e 1904. Ele deveria ler o prefácio de Axelrod para o panfleto de “Um trabalhador” para aprender que existe “uma doença profunda e prejudicial [sic!], totalmente destrutiva para o Partido”, com a qual a social-democracia está ameaçada por conta das pessoas que “põe todas as suas esperanças em revoltas espontâneas dos mais elementos das massas mais atrasados, com menos consciência de classe e positivamente incivilizados [!]”.
Parvus admite que atualmente é impossível organizar as centenas de milhares e ele considera que nossa tarefa primordial seja “criar uma organização que serviria como um fermento catalisador”. Como os neo-iskristas podem evitar se contorcer quando essas coisas aparecem nas colunas de seus artigos? Obviamente, uma organização que servirá como fermento catalisador é simplesmente uma organização de revolucionários profissionais, à simples menção de que nossos neo-iskristas disparam em uma síncope.
Somos gratos ao Iskra por seu artigo principal, que foi impresso ao lado do artigo de Parvus. Quão marcante é o contraste entre essas frases vazias e confusas, uma ruminação de palavras reboquistas [4], e as palavras de ordem revolucionárias claras, distintas, corajosas e ousadas do velho Iskra. Não é pura grandiloquência dizer que “a política de confiança está deixando o palco para nunca mais enganar a Rússia ou a Europa”? De fato, qualquer edição de jornal burguês europeu mostra que essa enganação ainda está sendo realizada com sucesso. “O liberalismo moderado da Rússia sofreu seu golpe mortal.” É de uma ingenuidade política infantil acreditar que o liberalismo está morto quando está apenas tentando ser “político” e passar desapercebido. O liberalismo está muito vivo, assumiu uma nova vida. Na verdade, está agora no limiar do poder. A razão pela qual está sendo discreto é que o liberalismo deseja dar seu lance pelo poder no momento certo, com a maior certeza de sucesso e o menor risco. Por esta razão, está sempre se disfarçando para a classe trabalhadora. É preciso ser irremediavelmente míope para levar a sério esse flerte (cem vezes mais perigoso por ser praticado no momento) e declarar com orgulho que “o proletariado – o libertador do país, o proletariado – a vanguarda de toda a nação, agora tem o seu heroico papel reconhecido pela opinião pública dos elementos progressistas da burguesia liberal-democrática”. Senhores do novo Iskra, quando vocês entenderão que a burguesia liberal reconhece o proletariado como herói pela mesma razão que este proletariado, apesar de desferir um golpe no czarismo, ainda não é forte o bastante, ainda não é social-democrata o bastante, para vencer por si o tipo de liberdade que este deseja? Quando vocês entenderão que o que devemos fazer é não nos gabar da atual reverência e retórica dos liberais, mas alertar o proletariado contra isso e mostrar o que está por trás disso? Vocês não enxergam isso? Então, observem o que os industriais, comerciantes e corretores da bolsa estão dizendo sobre a necessidade de uma Constituição. Como claramente essas declarações falam da morte do liberalismo moderado! Os falastrões liberais cacarejam sobre o heroísmo dos proletários, enquanto os industriais demandam pesadamente e imperiosamente uma minúscula constituição – é assim que as coisas estão, queridos “líderes”! [5]
Mas nada se compara com os argumentos do Iskra sobre a questão do armamento. “O trabalho de armar o proletariado e construir sistematicamente a organização que garantirá que o ataque do povo ao governo ocorra simultaneamente em todos os lugares” é declarado um trabalho “técnico” (?!). E nós, é claro, estamos acima de trivialidades como técnica, vamos à raiz das coisas. “Por mais importantes que sejam (os empregos ‘técnicos’), não é sobre eles que os nossos esforços devam ser concentrados em preparar as massas para a revolta… Todos os esforços das organizações clandestinas não valerão nada se não armarem as pessoas com a única arma indispensável – uma sensação da necessidade ardente de atacar a autocracia e de se armar com esse propósito. É sobre a propaganda entre as massas para que se armem com o propósito da revolta que devemos concentrar nossos esforços.” (Os itálicos nas duas últimas passagens são do autor).
Esta é realmente uma maneira profunda de afirmar a questão, nada parecido com a mente limitante de Parvus, que quase chegou ao ponto de “jacobinismo”. O cerne da questão não está no trabalho de armar ou na construção sistemática da organização, mas em armar as pessoas com um senso da necessidade ardente de se armar. Que sentimento doloroso de vergonha para a social-democracia se deparar com a visão desses chavões filistinos, que buscam arrastar de volta o nosso movimento! Armar o povo com um sentimento da necessidade ardente de se armar é o dever constante e comum dos social-democratas sempre e em todo lugar, e pode ser aplicado igualmente ao Japão como pode à Inglaterra, à Alemanha como pode à Itália. Onde quer que existam classes oprimidas lutando contra a exploração, a doutrina dos socialistas, desde o início, e em primeiro lugar, arma essas classes com uma noção da necessidade ardente de se armar, e essa “necessidade” está presente logo quando o movimento trabalhista nasce. A socialdemocracia tem apenas que tornar consciente essa necessidade ardente, trazer para casa aqueles que têm consciência da necessidade de organização e ação planejada, e a necessidade de considerar toda a situação política. Caro Editor da Iskra! Por favor, participe de qualquer reunião de trabalhadores alemães e veja o ódio contra a polícia, que queima faces por lá; que sarcasmo amargo e punhos cerrados você vai ouvir e ver lá! Qual é a força que mantém em xeque esta necessidade ardente de impor justiça sumária à burguesia e seus servos que maltratam o povo? É a força da organização e da disciplina, a força da consciência, a consciência de que os atos individuais de assassinato são absurdos, que a hora da luta séria revolucionária do povo ainda não chegou, que a situação política não está madura para isso. É por isso que, sob tais circunstâncias, nenhum socialista jamais oferecerá armas ao povo, mas ele sempre terá como seu dever (senão ele não é socialista, mas um simples falastrão) armá-lo com o senso da necessidade ardente de se armar e atacar o inimigo. No entanto, as condições na Rússia hoje diferem dessas condições cotidianas de trabalho; portanto, os social-democratas revolucionários, que até agora nunca fizeram um apelo às armas, mas sempre equiparam os trabalhadores com a necessidade ardente de se armar – portanto, os social-democratas revolucionários, seguindo a iniciativa dos trabalhadores revolucionários, agora emitiram a palavra de ordem: “às armas!” Em tal momento, quando esta palavra de ordem finalmente foi emitida, o Iskra entrega-se à declaração de que o principal não é armar, mas a necessidade ardente de armar. O que é isso senão intelectualismo estéril, ruminação lógica e incurável Tryapichkin-ismo [3]? Não estão essas pessoas arrastando o Partido, mantendo-o longe das tarefas urgentes da vanguarda revolucionária para a contemplação da “retaguarda” do proletariado? Essa vulgarização inacreditável de nossas tarefas não se deve às qualidades individuais de um ou outro Tryapichkin, mas a toda posição deles, que tem sido tão inigualavelmente formulada nas palavras-chave organização-como-processo e tática-como-processo. Tal posição, por si só, nos condena necessariamente a temer todas as palavras de ordem definitivas, a recuar de todos os “planos”, a se afastar da ousada iniciativa revolucionária, a filosofar e ruminar, a ter medo de correr muito à frente – e isso numa altura em que nós, social-democratas, estamos obviamente atrasados em relação ao proletariado na atividade revolucionária. Verdadeiramente os mortos estão agarrados aos vivos; as teorias mortas de Rabocheye Dyelo também são como uma mão morta sobre o novo Iskra.
Consideremos os argumentos do Iskra sobre “o papel politicamente preponderante da social-democracia como a vanguarda da classe destinada a emancipar a nação”. “Não podemos alcançar esse papel”, dizem-nos, “nem estabelecer firmemente nosso título, mesmo que assumamos o controle total da organização técnica e da condução da revolta”. Pense nisso! Não podemos alcançar o papel de vanguarda, mesmo que consigamos assumir o controle total da condução da revolta! E essas pessoas presumem falar de vanguarda! Elas temem que a história lhes imponha o papel de liderança na revolução democrática, e elas estão aterrorizadas com o pensamento de ter “de conduzir a revolta”. O pensamento espreita no fundo de suas mentes – apenas elas ainda não se atrevem a expressá-lo diretamente nas colunas do Iskra – que a organização social-democrata não deve “conduzir a revolta”, que não deve se esforçar para assumir o controle total na transição revolucionária para a república democrática. Eles pressentem nisso, esses incorrigíveis girondinos do socialismo, o monstruoso jacobinismo [6]. Eles não entendem que, quanto mais nos esforçamos para assumir o controle total da condução da revolta, maior será a nossa participação no empreendimento, e quanto maior essa participação, menor será a influência dos anti-proletários ou democratas não-proletários. Eles estão determinados a serem caudatários [4]; eles até inventaram uma filosofia própria para provar que a retaguarda [4] é o lugar certo para eles. Martynov realmente começou a expor essa filosofia e, amanhã, sem dúvida, ele colocará os pingos nos i’s nas colunas do Iskra.
Vamos tentar seguir o argumento passo a passo:
“O proletariado com consciência de classe, governado pela lógica do processo espontâneo de desenvolvimento histórico, utilizará para seus próprios fins todos os elementos de organização, todos os elementos de fermento que a véspera da revolução cria …”
Bem! Mas utilizar todos os elementos significa assumir a liderança total. O Iskra derrota seu próprio propósito e, percebendo isso, se apressa em adicionar:
“… sem nos deixarmos desanimar com o fato de que todos esses elementos nos roubam uma parte da liderança técnica da própria revolução e, assim, involuntariamente, ajudam a levar nossas demandas às seções mais atrasadas das massas.”
Você pode fazer alguma coisa disso, querido leitor? Utilizar todos os elementos, sem nos desanimarmos com o fato de que eles nos roubam uma parte na liderança?! Mas, esperem, senhores, se nós realmente utilizamos todos os elementos, se são realmente nossas demandas que são adotadas por aqueles que utilizamos, então eles não nos roubam a liderança, mas aceitam nossa liderança. Se, por outro lado, todos esses elementos realmente nos roubam a liderança (e, claro, não apenas a liderança “técnica”, porque separar o lado “técnico” de uma revolução de seu lado político é pura tolice), então não somos nós que os utilizamos, mas eles que se utilizam de nós.
“Nós deveríamos apenas ficar muito contentes se, após o padre que popularizou entre as massas nossa demanda pela separação da Igreja em relação ao Estado; se, após a sociedade operária monarquista que organizou a procissão popular até o Palácio de Inverno; a revolução russa se encontrasse enriquecida por um general, que fosse o primeiro a liderar as massas na última luta contra as tropas do czar, ou por um oficial do governo que fosse o primeiro a proclamar a derrubada formal do governo dos czares.”
Sim, nós também deveríamos estar contentes com isso, mas não deveríamos desejar que um sentimento de alegria sobre perspectivas agradáveis ofusque o nosso senso de lógica. O que significa a revolução russa se encontrar enriquecida por um padre ou um general? O que se quer dizer é que o padre ou o general se tornará um adepto ou líder da revolução. Esses “tyros” [novatos] podem ser totalmente ou não totalmente adeptos conscientes da revolução. Neste último caso (que é mais provável com os tyros), devemos deplorar, não aceitar, a sua falta de consciência e fazer o nosso melhor para curar e preencher esta falta. Enquanto deixarmos isso de lado, enquanto as massas seguirem um líder carente de consciência, temos que admitir que não são os social-democratas que utilizam esses elementos, mas vice-versa. O padre, general ou oficial do governo de ontem que se torna um adepto da revolução pode ser um democrata burguês cheio de preconceitos, e na medida em que os trabalhadores o seguirem, os democratas burgueses estarão “utilizando” os trabalhadores. Está claro para vocês, senhores do novo Iskra? Se sim, então por que vocês temem a suposição de liderança pelos plenamente conscientes (isto é, social-democratas) adeptos da revolução? Por que temem que um oficial social-democrata (propositalmente selecionei um exemplo análogo) e que um membro da organização social-democrata assuma, “tome completamente o controle”, as funções e tarefas de seu hipotético general por iniciativa e sob as instruções desta organização?
Para retornar a Parvus. Ele conclui seu excelente artigo com o excelente conselho para se livrar dos desorganizadores “atirando-os da prancha”. Livrar-se dos desorganizadores é, como mostram os itens da nossa coluna das Notícias do Partido, [7] a palavra de ordem mais apaixonada e enfática da maioria dos social-democratas russos. Precisamente, camarada Parvus, eles devem ser “atirados da prancha” da maneira mais implacável, e o lançamento deve começar com aqueles heróis da imprensa social-democrata que têm sancionado a ruptura por suas “teorias” da organização-como-processo e da organização-como-tendência. A questão é não meramente falar disso, mas fazê-lo. Devemos convocar imediatamente um congresso de todos os trabalhadores do Partido que desejarem organizar o Partido. Não devemos nos limitar à persuasão e aos apelos, mas devemos colocar um ultimato direto e inexorável a todos os que hesitam, a todos os que titubeiam, vacilam e duvidam: “Façam sua escolha!” Desde a primeira edição de nosso jornal, soamos esse ultimato em nome do Conselho Editorial de Vperyod, em nome da massa de trabalhadores do Partido Russo que foram levados à intensa exasperação pelos desorganizadores. Apressem-se, então, e joguem-nos pela prancha, camaradas, e vamos estabelecer o trabalho de organização com toda a boa vontade do coração. Melhor uma centena de social-democratas revolucionários que aceitaram a organização-como-um-plano do que mil intelectuais da tribo Tryapichkin, que tagarelam sobre a organização-como-processo.
Notas:
[1] Disponível em: https://www.marxists.org/archive/lenin/works/1903/dec/15a.htm
[2] Disponível em: https://www.marxists.org/archive/lenin/works/1905/feb/14.htm
[3] Tryaptchkin – um tipo de jornalista inescrupuloso mencionado na comédia de Gogol, “O Inspetor Geral”.
[4] A tradução “reboquismo” é mais comum no jargão militante, mas talvez seja importante uma nota da tradução: Lenin referia-se à tática menchevique como “tail-ender”, ou seja, caudatária. Acusava a tática menchevique de conceder à burguesia liberal a hegemonia sobre a revolução, colocando o proletariado a reboque, ou na “cauda” da revolução democrática, como apêndice do partido Cadete. Sinalizei sob esta mesma nota todas as variantes de “tail-endism” traduzidas no texto.
[5] Nota do autor: “As linhas acima foram escritas quando recebemos do campo liberal as seguintes informações, o que não é isento de interesse. O correspondente especial de São Petersburgo do jornal burguês-democrata alemão Frankfurter Zeitung (17 de fevereiro de 1905) cita um jornalista liberal de São Petersburgo sobre a situação política: “Os liberais seriam tolos em deixar passar um instante como o presente. Os liberais agora detêm todos os trunfos, pois eles conseguiram arranjar os trabalhadores em sua carroça, enquanto o governo não tem ninguém, já que a burocracia não dá a ninguém a chance de progredir”. Que sublime simplicidade deve ser reinante no novo Iskra para eles estarem escrevendo sobre a morte do liberalismo em tal momento!”
[6] A Montanha e o Gironda: designação dos dois agrupamentos políticos da burguesia na época da revolução burguesa francesa no final do século XVIII. A montanha, ou jacobinos, era o nome dado aos representantes mais consistentes da classe revolucionária da época, a burguesia, que defendia a abolição do absolutismo e do feudalismo. Ao contrário dos jacobinos, os girondinos hesitaram entre a revolução e a contrarrevolução e entraram em acordos com a monarquia. Tendo as suas concepções do centralismo democrático acusadas de “jacobinismo”, Lenin chamou a tendência oportunista na social-democracia de “socialistas girondinos” e os social-democratas revolucionários de jacobinos proletários ou “Montanha”.
[7] Lenin tem em vista o item “Desorganização dos Comitês Locais” e as resoluções dos grupos de Minsk e Odessa dos social-democratas publicadas em Vperyod, nº 7, 21 de fevereiro (8), 1905, na coluna Notícias do Partido.