Por Harry Haywood, via marxists.org, traduzido por Bruno Santana
Este artigo de Harry Haywood, publicado originalmente em uma matéria de setembro de 1933 da revista O Comunista, faz parte da obra Uma História Documental do Povo Negro nos Estados Unidos da América, organizado por Herbert Aptheker. De acordo com o editor, o artigo original “está publicado abaixo, em parte, com a argumentação central inalterada.”
O atual programa do nosso Partido sobre a questão negra foi formulado no Sexto Congresso da Internacional Comunista, em 1928. Baseadas nas mais exaustivas das considerações e particularidades, desenvolvimento histórico, econômico, e condições culturais e de vida do povo negro nos EUA, bem como a experiência do partido em seu trabalho de base junto às comunidades negras, aquele congresso definitivamente estabeleceu uma conexão entre o problema da questão negra como aquele de uma nação oprimida em que nela existiam todos os requisitos para um movimento nacional revolucionário contra o imperialismo estadunidense.
Esta resolução era uma aplicação concreta do conceito marxista-leninista da questão nacional aplicado à condição dos negros e foi concebido em cima das seguintes premissas: primeiro, a concentração da população negra nas regiões agrárias do chamado Black Belt, onde constituem maioria da população, em segundo lugar na existência de uma herança poderosa do sistema escravocrata na exploração do povo negro- o sistema de plantação extensiva baseado na supervisão senhorial dos cultivos, escravidão por dívida, etc; em terceiro lugar, o desenvolvimento nas bases destas reminiscências escravistas, de uma superestrutura de desigualdade expressa em todas as formas sociais e na segregação; a negação dos direitos civis, direito à franquias, exercício de cargos públicos, assentos nos tribunais, bem como as leis e custódias empreendidas no Sul. Este sistema cruel é sustentado de todas as formas pela violência arbitrária, as mais cruéis sendo a peculiar instituição dos linchamentos pelo território. Tudo isso encontra justificação na teoria imperialista das classes dominantes sobre a inferioridade “natural” do povo Negro.
Todo este sistema cruel de opressões, sentido na pele de forma mais aguda na população negra do Sul, também afeta as condições de vida em todo o país. Os agricultores pobres e camponeses fugindo da miséria e da fome nas plantações do sul para os centros industriais do norte, não obtém a liberdade desta forma. Pelo contrário, em seu calço está também o flagelo da escravidão no campo, resultando em menores salários, piores condições de vida, discriminação na vida social inclusive no norte “liberal”. Assim, a revolução agrária, isto é, a luta dos negros pobres e famintos da terra do latifúndio e dos camponeses pobres do Black Belt por terra, pela destruição de todos os vestígios dos laços escravistas- isto, junto à luta geral pelos direitos democráticos do povo negro no país, bem como seus direitos pela existência nacional no Black Belt, constituem os eixos principais do movimento de libertação nacional do Povo Negro nos EUA.
A escravidão do povo negro nos EUA é um suporte importante do imperialismo estadunidense. O imperialismo estadunidense está interessado fundamentalmente na preservação dos resquícios de escravidão na agricultura sulista e na opressão nacional do povo negro como condição para extrair destes seus grandes lucros. É a força que se sustenta por trás das classes dominantes brancas do Sul (capitalistas e latifundiários) na pilhagem violenta dos trabalhadores negros no Black Belt. Portanto, as lutas pela libertação das massas negras estão dirigidas às fundações mais profundas da estrutura social do capitalismo imperialista nos EUA.
Na fase atual do imperialismo e da revolução proletária, a questão negra nos EUA deve ser considerada como parte do problema nacional do colonialismo, ou, em outras palavras, como parte do problema mundial mais amplo da liberdade dos oprimidos e do povo dos países dependentes sob os grilhões do imperialismo.
O povo negro, outrora aliados da burguesia nortenha (durante a Guerra Civil e a Reconstrução), se tornaram agora aliados do proletariado. Em sua luta pela libertação nacional estas massas constituem uma parte importante do exército do proletariado revolucionário em sua luta para derrocar o imperialismo estadunidense. Assim sendo, a vitória da revolução proletária nos EUA e a luta do Povo negro pela libertação nacional demandam a consumação de uma frente de luta unificada dos trabalhadores brancos e os negros contra seu inimigo comum,- o imperialismo estadunidense. Tal frente unificada só será eficiente na base do apoio direto e efetivo da classe trabalhadora branca (como parte da classe trabalhadora da nação oprimida) nos esforços das massas negras para se libertarem do jugo imperialista. Nesta conexão é importante ter em mente o dito de Karl Marx à classe trabalhadora inglesa sobre a questão irlandesa: “um povo que oprime ao outro não pode se libertar.”…
As primeiras conquistas reais de nosso Partido na liderança do povo negro datam do começo da estratégia leninista. Um marco histórico no desenvolvimento do nosso trabalho foi o julgamento público de August Yokinen. Neste julgamento o caso de discriminação feita por um membro branco do partido contra os Negros foi razão para uma manifestação política na qual o programa do Partido sobre a questão negra e a luta contra o chauvinismo foram interpretados como sendo ato de enorme efeito sobre as mais amplas massas do país. O camarada Browder em seu relato diante dos estudantes estadunidenses, ao estimar o significado político deste julgamento, declarou “aquilo foi um desafio público que colocava à tona os princípios básicos dos relacionamentos sociais nos EUA- A instituição das leis de Jim-Crow… A expulsão de Yokinen, expressando nossa declaração de guerra contra o chauvinismo branco, exprimiu uma influência enorme para que as massas de trabalhadores negros se aproximassem de nós.”
Neste julgamento o Partido alcançou um grande avanço na educação de seus quadros e das massas próximas ao Partido em nosso programa sobre a Questão Negra. Isto se explicitou particularmente no caso do Camarada Yoniken, que depois de seis meses, voltou ao partido como um dos maiores entusiastas do programa para a libertação do povo negro, e como resultado de sua posição militante no assunto, foi deportado pelo governo racista do imperialismo. O julgamento de Yokinen serviu para preparar o partido ideologicamente para seu compromisso com a luta pelos direitos dos Negros.
O julgamento de Yokinen foi imediatamente sucedido pela organização de um movimento de massas para salvar as vidas dos garotos de Scottsboro. Baseado nas elaborações políticas por meio do julgamento de Yokinen pelo partido, foi possível aproveitar efetivamente a questão para articular ao redor destes garotos o desenvolvimento de uma campanha de ação de massas para expor o sistema nacional de opressão contra os negros por inteiro. A campanha de Scottsboro marcou a primeira mobilização de alcance nacional de massas pelo Partido de luta concreta contra uma das pedras fundamentais da opressão contra os Negros- a instituição do linchamento. Através da luta neste aspecto o Partido foi capaz de trazer a tona seu programa para as massas do proletariado negro e branco, aglutinando sua simpatia e confiança. Scottsboro, como primeira batalha conduzida pelo partido a frente da Frente Nacional Pela Libertação Negra, fez muito em romper com as barreiras tradicionais do chauvinismo e desconfiança separando os trabalhadores negros e brancos. Esta luta, que foi agrupada com uma exposição política do papel traiçoeiro da burguesia negra reformista da NAACP, acelerou o processo de diferenciação de classe entre os Negros- a separação dos interesses do proletariado negro e das massas semi-proletárias dos interesses gerais de solidariedade racial propagado pelos nacionalistas da burguesia negra. Os trabalhadores negros começaram a entender as divisões de classe. Começaram a descobrir quem eram seus amigos e inimigos.
Somente através da aplicação rigorosa do nosso programa Leninista sobre a Questão Negra pode o partido conduzir e liderar esta luta como a da campanha de Scottsboro. Esta campanha fez ascender o movimento espontâneo da participação de massa dos trabalhadores negros em uma escala sem precedentes nas lutas gerais da classe trabalhadora no país. A grande greve na Pensilvânia, Ohio e no oeste da Virginia nas minas de carvão que irromperam em 1931, durante a primeira parte das campanhas de Scottsboro, testemunharam grande participação dos trabalhadores negros mais do que qualquer outra mobilização liderada pelo sindicalismo revolucionário. Massas numerosas dos trabalhadores negros engajaram no movimento de desempregados, dispendendo de uma militância sem comparação nas ações pretendidas. Exemplos notáveis foram as heroicas manifestações contra os despejos em bairros negros de Chicago e Cleveland.
Enquanto as massas negras estavam participando cada vez mais das lutas de classe no norte, um evento de significado histórico aconteceu no black Belt- a organização de cooperativas de agricultura sindicalizadas e a resistência heroica dos agricultores aos ataques dos latifundiários e capangas em Camp Hill, Alabama. Nesta luta o fermento revolucionário das famílias negras pobres e camponesas recebeu sua primeira expressão, resultado do estabelecimento da primeira organização genuinamente revolucionária entre os camponeses negros pobres- o Sindicato dos Agricultores. O movimento agrário das massas negras continuou e se ampliou em alcance na luta em Tallapoosa onde ofereceram resistência armada ao assalto legalizado dos latifundiários e comerciantes.
Esta série de lutas nacionais de libertação foram aprofundadas e politizadas durante as campanhas presidenciais dos comunistas em 193. Nesta campanha o partido foi capaz de estender seu programa na classe trabalhadora, e aglutinar um numero considerável de negros junto a seus slogans políticos.
Desta forma, a aplicação de um programa bolchevique nas condições de agravamento e radicalização crescente dos negros resultou na extensão política da influência do partido entre amplos conjuntos do povo negro, e no crescimento da militância no partido entre eles. Nossa importância central no período é o estabelecimento do partido no Sul e no Black Belt.
Estas lutas levaram a uma elevação de consciência da classe trabalhadora negra e sua emergência na política como força independente no movimento de libertação negra. No curso destas lutas a classe trabalhadora negra está rapidamente se libertando das influências reformistas traiçoeiras. Assim, a característica de um estágio avançado de desenvolvimento do movimento negro está maturando a mais importante força condutora da libertação negra- a classe trabalhadora negra industrial. Os trabalhadores negros, em sua unidade orgânica com a classe trabalhadora branca e sob liderança do Partido Comunista são a única força capaz de engajar as massas trabalhadoras de negros e ser vitoriosos na luta contra o capitalismo. A luta pela libertação negra está se dando nas condições da crescente hegemonia proletária e liderança do Partido Comunista.
A enfase no desenvolvimento das lutas econômicas entre os trabalhadores negros não significa cessar, mas aumentar o alcance da luta pela libertação negra em todos os âmbitos, assim como a luta em Scottsboro contra os linchamentos. É necessário ampliar e aprofundar estas lutas, fazendo avançar nosso programa de igualdade social e direito de autodeterminação e construir a mais ampla frente de unidade nestes temas. Nossa tarefa primordial é portanto, em trazer esta luta mais próxima das fábricas, lojas e nas questões sobre a terra, conectando com a luta por demandas mais imediatas dos trabalhadores negros, fazendo dos postos de trabalho a base principal para a organização da classe trabalhadora negra. Ao mesmo tempo as organizações revolucionárias de massa e particularmente os sindicatos devem avançar mais energicamente na luta em nome das demandas políticas dos trabalhadores negros.
O dever de andar de mãos dadas com o combate intransigente contra todas as formas de práticas chauvinistas e da instituição de Jim Crow e a sistemática, porém persistente luta contra a ideologia e influências da pequena-burguesia nacionalista entre os trabalhadores negros.
Apenas deste modo pode o Partido ser capaz de dar a liderança apropriada ao desenvolvimento galopante da insurgência negra e construir este movimento como um poderoso movimento do proletariado revolucionário pelo enfraquecimento e destruição do domínio do imperialismo estadunidense.
1 comentário em “A luta pelo posicionamento leninista sobre a Questão Negra nos EUA”
Sem querer ser chata, mas pouco me importa o negro dos EUA.
Vivo no Brasil, um pais colonia dos EUA.
Nao me importa a questao do negro, branco, amarelo dos EUA.
Deixa esse amor pelos negros do pais colonizador para o movimento afro-Fundaçao Ford.
Qualquer família negra dos EUA tem uma renda que a colocaria na classe media alta do Brasil.
Negros dos EUA nem sabem apontar o Brasil num mapa e pouco se importam com o nosso pais.
Deixa a ex-querda fundação Ford e open society e fundação sanofi se preocupar com negro americano