Por Theodore W. Allen, traduzido por Bruno Santana. Via Read Settlers
“A burguesia latifundiária anglo-americana do século XVII desenhou a linha de separação entre a liberdade e a escravidão, uma linha pautada na cor da pele que não existiu antes durante a lei Inglesa.”
No período que antecede a Guerra Civil, um dos argumentos correntes para a escravidão racial, era de que esta tornou possível um sistema de controle social praticamente hermético. A situação permeada de conflitos e ‘sistemas’ das sociedades assalariadas na Europa, surge em contraste com a longa tradição de paz social no Sul, onde, a despeito de ressentimentos internos, a vasta maioria dos brancos pobres se aliaria com os escravos em qualquer confronto entre a força de trabalho negra e a burguesia latifundiária[1].
As altas cortes da Carolina do Sul entenderam bem que “a paz social(…) requeria que escravos fossem sujeitos à autoridade e controle de todos os homens livres quando não à imediata autoridade de seus senhores”; ali onde “um escravo não pode conclamar a lei comum ou a Carta Magna”, a paz social depende na “subordinação da classe servil à toda pessoa branca livre.”[2]
Se o servo negro decidisse fugir, qualquer pessoa branca teria o direito legal, na verdade o dever, de capturar o fugitivo, e seria recompensada pela façanha. “Homens brancos pobres”, escreve um historiador, “habitualmente mantém seus olhos abertos com negros sem permissões formais, em razão da apreensão de um fugitivo ser um ganho financeiro inesperado”[3].
O Chanceler William Harper da Carolina do Sul tranquilizou com firmeza os que estavam apreensivos com a iminência de um episódio como o de Santo Domingo acontecer nos estados escravistas estadunidenses. “É quase impossível”, escreveu, “que haja em qualquer nível um conluio (insurrecional) entre os escravos”. A razão era simples: “Da parte dos homens livres, não haveria nenhum indivíduo tão pobre ou tão degradado (exceto por criminosos ou foras da lei aqui e ali) que não se atentariam ativamente para deter ou suprimir tais ações”[4]
“Não governamos [os estados livres] por escravos negros, mas por seus próprios escravos brancos. Sabemos o que estamos fazendo—os conquistamos uma vez e podemos conquistar novamente(…)”- John Randolh da Virginia, opondo-se ao Compromisso de Missouri, em 1820[5].
O sociólogo e dono de escravos pioneiro George Fitzhugh descreveu em termos ainda mais explícitos o papel dos brancos pobres na ordem social estabelecida por e para o latifúndio burguês. “Os pobres [brancos], ” disse, “constituem nossa milícia e nossa polícia. Eles protegem os homens em posse da propriedade, como há em outros países; e fazem mais, garantem nas mãos destes homens a posse de um tipo de propriedade que eles não poderiam sustentar por um dia, sem a supervisão e proteção destes homens pobres.”[6] Aqui Fitzhugh aperfeiçoou a definição de escravidão racial. Não é simplesmente que alguns brancos possuem escravos negros, mas que nenhum branco é possuído; não é simplesmente que brancos são por definição não-escravos, mas que os brancos pobres que não possuem escravos são por definição racial, detentores do trabalho negro.
Compare o sutil senso de poder expressado por Fitzhugh e Harper no século XIX com a mente confusa da elite latifundiária do século XVII à época da Rebelião de Bacon. “O quão miserável é este homem”, escreveu o Sir William Berkeley a seu amigo Thomas Ludwell, “que governa um povo donde pelo menos três quartos são pobres, endividados, descontentados e armados”.[7] Desde 1642, quando reis vigiam na Inglaterra, Berkeley serviu como Governador Geral na Virginia, que tinha à época dois terços da população total do Sul. Agora, no último ano de sua época, ele seria removido de sua casa, sua capital havia sido queimada, e maior parte de seu território fora tomado por rebeldes armados.
“Enquanto os trabalhadores, verdadeira força política no Norte, permitiram que a escravidão definisse sua própria república, permitindo que o negro fosse dominado e vendido sem sua concordância e se vangloriavam na alta prerrogativa de que o trabalhador de pele branca para se vender podia escolher seu próprio mestre, não conseguiram alcançar a verdadeira liberdade de trabalho”- Cartas para Abraham Lincoln, Karl Marx (1865)[8]
O coronel Francis Moryson, que prestou por muitos anos serviços ao governo da Virgínia, e quem foi por esta razão escolhido como um dos Comissários do Rei para inquirir ao estado sobre os assuntos da colônia após o impacto da Rebelião de Bacon, exprimiu com encanto que na Virgínia, “dentre tantos milhares de homens honestos e de boa índole não se encontravam mil para enfrentar quinhentos companheiros consideráveis.[9] Ele só poderia concluir que “a maior parte do país está destemperada”.
Entender como a ansiedade dos Berkeley e dos Moryson se transformou na autoconfiança dos Harper e Fitzhughs, é entender as origens da escravidão racial neste país.[10]
Na última metade do século XVII, Virginia e Maryland, colônias de tabaco, experimentaram uma severa crise econômica.[11] Era um período de intensa luta de classes, incluindo luta armada, do povo contra a burguesia. Foi na Virginia onde estes eventos atingiram seu ápice. Por lá, o proletariado- um quarto da metade da população[12]— era a parcela mais combativa e consistente de todas as massas pobres e oprimidas em luta para extirpar a dominação capitalista.[13] Estes proletários eram mais avançados politicamente, do que outros colonos rebeldes, mais ainda do que a esquerda dos Niveladores da Revolução Inglesa.[14] Mas o fato mais significativo de todos, do ponto de vista atual, é que os afro-americanos e euro-estadunidenses proletários se aliaram nesta luta em um alcance jamais visto novamente em três séculos desde então.
Da época do Levante dos Servos em 1663 com uma marcha insurrecional por liberdade, às revoltas do tabaco em 1682, não houveram menos de dez revoltas populares e levantes de servos na Virginia[15]. O encontro decisivo do povo contra a burguesia ocorreu durante a Rebelião de Bacon, que começou em abril de 1676 como uma disputa entre a elite e a pequena-burguesia latifundiária pelo controle da ‘política indígena”, mas que em setembro se tornou uma guerra civil contra a classe dominante anglo-americana.[16]
Quando as forças de Bacon cercaram, capturaram e queimaram a capital colonial de Jamestown e mandaram o Governador Berkeley para o exílio às pressas pela Baía de Chesapeake, o exército rebelde era composto majoritariamente por trabalhadores servis africanos e europeus e homens libertos “antes do previsto”.[17]
Com a morte de Bacon, em meados de outubro, a causa rebelde decaiu em virtude da falta de liderança. As mil e cem tropas britânicas que foram enviadas em onze embarcações para amparar a causa do Governador não deixaram a Inglaterra até o primeiro dia de dezembro, e não chegaram à Virgínia até o fim dos confrontos armados.[18] Mas mercadores ingleses armados foram encarregados de conter os rebeldes nos rios. O capitão de um destes navios era Thomas Grantham, de quem a política enganosa, combinada com a exploração das diferenças de classe entre os rebeldes, prestou um papel decisivo em derrotar por definitivo os rebeldes em janeiro de 1677.[19] Desprezível como era seu papel, o saldo dos espólios de Grantham é de registro histórico profundo e singular.[20]
Grantham contou com a traição do novo general rebelde, Laurence Ingram (a quem Grantham conhecia d’antes) e o tenente de Ingram, Gregory Walklett[21], para que o ajudassem na garantia da rendição da guarnição de trezentos homens armados em West Point, dentre eles homens livres e servos africanos e ingleses. Um relato contemporâneo diz, no entanto, que:
“(…)O nome da Autoridade tinha pouco poder em tirar a espada das mãos destes companheiros enlouquecidos(…) [e, portanto, Grantham] decidiu abordá-los com promessas que não se concretizariam”. [a anistia para os homens livres e os servos, africanos e ingleses.][22]
Então Grantham atacou a principal fortaleza das forças rebeldes, três quilômetros acima de onde estava, e nas palavras do próprio:
“Lá me deparei com quatrocentos ingleses e negros armados que estavam insatisfeitos com a rendição de seu posto, dizendo que eu havia os traído, e por isto alguns atiraram em mim, e outros me queriam em pedaços: Eu disse a eles que voluntariamente me renderia a eles, até que estivessem satisfeitos com sua condição, e me dirigi aos os negros e servos, aos quais foram perdoados e libertos da escravidão: e com promessas justas os tranquilizei, dando a eles algumas quantias em minha posse (…) A maioria deles persuadi a irem para suas casas e obedeceram, exceto por oitenta negros e vinte ingleses que não entregaram suas armas(…)”[23]
Grantham enganou esta centena de homens com uma promessa escorregadia de leva-los até um forte rebelde há alguns quilômetros abaixo do Rio York. Ao invés disso, ele os levou à mira de outra embarcação e os forçou a se renderem, embora “eles se renderam demonstrando muito descontentamento, dizendo que conheciam meus termos, eles teriam me destruído. ”[24] Grantham então seguiu desarmando estes últimos rebeldes para entregá-los aos seus respectivos donos.
A importância transcendental deste registro é que, na Virgínia Colonial, cento e vinte anos antes do nascimento de William Lloyd Garrison, a classe trabalhadora armada, negra e branca, lutou lado a lado pela abolição da escravidão.
III
A burguesia foi bem sucedida em vencer a revolta, como foram capazes de fazer, porém com maior dificuldade, durante as revoltas do tabaco, seis anos depois[25]. Tudo isso, no entanto, era meramente uma ação defensiva; seu problema básico permaneceu e adquiriu maior pressão do que nunca: A garantia de uma oferta crescente de trabalho nas plantações e o estabelecimento de um sistema estável de controle social para sua máxima exploração.
A oferta de trabalho poderia ser aumentada de duas maneiras: (1) aumentando o número de servos, e (2) estendendo seu tempo de trabalho. Do pressuposto da lucratividade máxima, o passo definitivo pareceria ser o de combinar estas duas prerrogativas à sua forma mais extensiva, para atingir toda fonte de trabalho europeia e africana e para estender o tempo de servidão à modalidade vitalícia. Isto, é claro, exigiria recorrer ao transporte forçado da força de trabalho africana ou europeia.
Na base da servidão perpétua, os 250 mil trabalhadores africanos trazidos às colônias sulistas até meados de 1790 se estabeleceram em uma população de 650 mil trabalhadores servis[26]. Nesta mesma base, a importação de trinta e oito mil servos europeus vitalícios teria sido suficiente para desenvolver acima do número máximo, nada além dos 100.000 que foram realmente utilizados nas colônias do sul.[27] A servidão vitalícia, mais além, bancou financeiramente os importantes benefícios incidentes das plantações capitalistas, ao lado do aumento no tempo de trabalho. Os filhos destes servos pertenceriam ao Senhor, como servos vitalícios; as mulheres trabalhariam no campo junto aos homens; privados de todos os direitos civis, eles seriam exploráveis de forma mais completa; e os benefícios oriundos de melhores habilidades laborais, seriam aproveitadas exclusivamente pelos Senhores, em nenhuma hipótese pelo servo.[28]
O preço de venda de servos vitalícios era quase o dobro do preço de servos de prazos limitados.[29] Mas mesmo ao dobro do preço, 38.000 servos europeus vendidos na modalidade vitalícia como a dos africanos, teriam custado apenas metade de um terço da quantia que a burguesia latifundiária realmente pagava pelos entre 125 e 150 mil servos europeus que importaram.[30]
Como poderíamos explicar este comportamento desviante da classe que Shakespeare zombou na apologia satírica de Timon ao ouro reluzente, e que praticou tão religiosamente o ditado popular de “quem guarda, tem”? Isto nos leva à parte difícil da questão, “Por que a escravidão Racial? ” A parte difícil é, não “Por que os servos vitalícios africanos foram reduzidos à servidão perpétua? ”E sim “Por que os servos europeus não foram reduzidos à servidão perpétua?”[31]
IV
Considerações econômicas e políticas no nível interno teriam impossibilitado impor tal política como uma prática generalizada na Inglaterra. No entanto, uma política pautada na transposição forçada para a servidão perpetua, restrita apenas à cativos, na Inglaterra, e à rebeldes irlandeses ou escoceses, vagabundos, bandidos, e a extensão perpétua dos prazos de todas as tais categoria de servos existentes nas colônias, não teriam ameaçado o poder vigente da burguesia na Inglaterra. Se este curso não foi seguido, não foi em detrimento da ordem social vigente na Inglaterra, mas pelo estabelecimento de um sistema de controle social em condições exclusivas nas plantações das colônias. A burguesia anglo-americana não tornou escravos juntos os brancos e negros porque não estava em seu poder fazê-lo no contexto histórico da época. Tentar fazê-lo, significaria colocar em perigo mortal o poder que tinham, considerável como era este poder. A não-escravidão vigente no trabalho branco era a condição indispensável para a escravidão vigente no trabalho negro. Isto não é mera conjectura; é um fato de que os eventos da Revolta de Bacon, e o turbulento quarto de século seguido de 1660 tornou irrevogavelmente claro.
A derrota das forças populares nesta luta abriu caminho para uma mudança definitiva no sistema de plantações sulista. Naquela economia a disparidade de riqueza e poder social entre a minoria de proprietários e a massa dos pobres dependentes era muito mais acentuada do que no resto do país, e a presença da classe média era proporcionalmente fraca e insignificante. Nestas circunstâncias, a burguesia latifundiária estabeleceu um sistema de controle social através da institucionalização da raça branca por onde as massas dos pobres brancos foram alienadas (separadas) do proletariado negro e aglutinados como garantia do poder burguês.
V
A forma mais comum de resistência à servidão era a fuga.[32] Africanos e Ingleses trabalhando lado a lado no campo ou na plantação de tabaco tramavam sua fuga, reuniam-se ao redor deste movimento e iam juntos para a liberdade.[33] As assembleias de todas as colônias de plantações promulgaram penalidades cruéis para tais atos “sorrateiros de egoísmo”. A forma de castigo corporal mais usada comumente era o açoite e as marcas de ferro, mas a mutilação e até mesmo a morte eram contrapartidas legais contra o fugitivo capturado. A forma mais comum de penalidade, porque era a mais lucrativa aos donos, era estender o tempo de trabalho; para cada dia que o fugitivo passou fora, era adicionado dois dias de serviço na Virginia, sete dias na Carolina do Sul, e dez dias em Maryland.[34] Mas pela lei de 1661, se, na Virgínia, qualquer servo inglês fugisse em companhia de qualquer servo africano, o servo inglês teria sua pena dobrada, uma por sua ausência na plantação, e outra pela do africano.[35]
Outra forma, mais elementar e humana da solidariedade servil era casar sem o consentimento do Senhor. O casamento não impunha apenas uma barreira à extrema exploração, mas levava ao tempo ‘ocioso’ quando a esposa ficava grávida. Para este ‘delito’ haviam severas penas legais. A penalidade era a extensão de um ano para o tempo do casamento e um ano a mais pela gravidez. Os filhos dos servos eram servos até que atingissem os vinte anos de idade. Mas as penas mais agressivas eram aquelas para as mulheres brancas que carregassem filhos de pais africanos. Para estas mulheres a penalidade era sete anos a mais de trabalhos servis e açoites em públicos em um pelourinho, e a condenação da criança ao estado de servidão até os 31 anos de idade.[36]
Esta política era generalizada em ampla escala como desdobramento da Revolta de Bacon por si. O Governador Berkeley condenou Bacon e seus seguidores como rebeldes e traidores quando a rebelião era apenas uma disputa entre os latifundiários brancos pela “política indígena”. Berkeley capturou Bacon, então o perdoou e deu a ele sua benção para emplacar uma campanha anti-indígena. Porém quando, na segunda fase, a rebelião se voltou diretamente contra a elite, e como necessariamente teve de fazer, uniu servos negros e brancos e pobres libertos, Berkeley, vitorioso, tratou os líderes rebeldes capturados com tamanha severidade vingativa que ele dizia ter se inspirado no Rei Charles II, seu superior, ao dizer que “o velho tolo enforcou mais homens naquele país nu do que quando do assassinato de meu pai[37]. T.H Breen afirma que em um mesmo padrão: “Bacon restringiu sua disputa nas classes superiores, e poderia ter sido perdoado por seu comportamento errático, mas uma vez que os servos, escravos e pobres libertos se envolveram, ele teria de ser derrotado. ”[38]
No entanto, medidas repressivas especiais para atos de solidariedade específicos entre negros e brancos não foi suficiente. A turbulência social da época mostrou que o efeito unificador entre os servos era mais forte do que o efeito divisor das penalidades para atos ilegais específicos. Edmund S. Morgan faz um comentário perceptivo neste ponto: “é questionável o quanto a Virginia poderia ter ido em frente com segurança(…) confrontando o descontentamento com repressão e manejando suas plantações com importações anuais de servos que iriam depois ser acrescentados às fileiras dos libertos (…) havia uma outra solução que permitiu aos magnatas da Virginia manter suas terras, ainda levando em conta o descontentamento e repressão sobre outros ingleses(…)”[39]
VI
A mudança para a o uso da força de trabalho africano foi precipitada após 1685, a recém-criada Royal African Company, com a ajuda não solicitada de terceiros, se torna líder mundial no tráfico de seres humanos. Atestando a importância de “um comércio fartamente benéfico ao Reino”, os Lordes do Comércio e das Plantações se empenharam em mostrar aos governadores de todas as colônias Americanas “a boa oferta de negros por preços razoáveis para as plantações e assentamentos[40]”, O resultado foi o de que o número de servos africanos vitalícios entre 1708-09 nas três principais colônias do sul superou o número de servos europeus de 12 mil a zero na Virgínia, de 4657 para 3003 em Maryland, de 4100 para 120 na Carolina do Sul[41].
Agora uma nova observação é feita; os termos “leis deficitárias”, “cotas” e “necessidade de servos brancos”, aparece com frequência nos registros. “Servos brancos raramente chegam tarde” disse um dos administradores da William Penn, “e consequentemente o país está em perigo de se tornar um país de negros[42]. O conselho de Comércio e Plantações clamou ao rei para fazer os governadores coloniais para reforçar estritamente “legislações que aumentem o número de homens brancos nas colônias(…)”[43] O Rei, William de Orange, acatou sete dias depois[44]. Em 8 de outubro de 1698, A Carolina do Sul promulgou sua primeira “Lei Deficitária” prevendo penalidades para os latifundiários que falhassem em manter um número mínimo de pelo menos um servo branco para cada seis negros do sexo masculino acima de 16 anos de idade em cada uma das plantações.[45] O Governador Francis Nicholson denunciou em 1698 sua preocupação de que em Maryland e na Virgina o numero de servos africanos e em comparação com os ingleses aumentou na proporção de 7/1[46]. O Conselho de Comércio e Plantações expressou semelhantes temores de que na Jamaica, em 1709, os latifundiários não estavam mantendo a cota mínima de homens brancos em relação aos servos africanos, a despeito do fato de cada dono de plantação estava sujeito a uma multa de cinco libras esterlinas por cada servo branco em déficit no assentamento[47]. O relator do Documento dos Calendários de Estado de 1716-17 faz o comentário geral de que “em todo o lugar o problema de aumentar a população branca por meio da importação de trabalho contratado vem à tona”.[48]
Por vezes e vezes. Primeiro era preferido o trabalho branco, então o trabalho negro, agora o trabalho branco novamente, por que? É claro que estes servos europeus estavam ali para ser explorados, severamente, nas plantações. Este ponto foi dito repetidamente. Para citar um exemplo, em 1682, “comerciantes diversos que possuíam propriedades na América”, estavam ansiosos para que a aplicação das leis antissequestro na Inglaterra iniba o fluxo de servos para as colônias. Eles pediram para levar em consideração o fato de que “o trabalho de cada homem branco nas plantações de tabaco vale 7 libras esterlinas ao rei.”[49] Esta era apenas a parte do lucro que ia ao rei, e não inclui os lucros dos latifundiários, navegadores e mercadores. Quando notamos que os servos europeus estão sendo vendidos a menos de 3 libras por ano e que sua manutenção se reduziu a quase nada, podemos ver o quão remunerativa sua exploração foi para os Senhores.[50]
Mas trabalho é trabalho, não importa como; tenha ele gosto de arroz ou açúcar. Não dá para dizer se foi o trabalho africano, inglês ou irlandês quem preparou seu alimento. A renovação no interesse em servos brancos, foi portanto, não devido às qualidades especiais de sua força de trabalho, na qual estava equiparada à dos africanos.
VII
A razão era simples. A demanda especial por servos brancos se devia primordialmente às “pessoas do campo”, para servirem em grupos armados, para servir como meios de controle social baseados na servidão perpétua e hereditária de africanos e afro-americanos. Existem literalmente pontuações de documentos nos registros da época que atestam este fato. Menciono alguns.
A mesma carta dos mercadores donos de propriedade na Virgínia e em Maryland enfatizou que eles “não tem nenhum homem branco como supervisor dos nossos negros, ou para reprimir uma insurreição dos Negros(…)”O Conselho de Comércio e Plantações informou ao rei em 8 de setembro de 1721 que na Carolina do Sul “escravos negros estiveram perto de ser bem sucedidos em uma nova revolução (…) e portanto, pode ser necessário (…) propor uma nova lei que encoraje a promoção de mais servos brancos no futuro. O grupo armado desta província não tem mais do que 2 mil homens”[51]. No prefácio de seu décimo sexto Calendário de Documentos de Propriedade, Fortescue escreve que entre 1697-98, “O sistema de defesa dos servos brancos ruiu”. “A defesa contra índios do Oeste”, ele nos diz “depende além de frotas, inteiramente em grupos armados, que eram compostos de servos brancos”. [52] Mas as colônias de plantação da ilha estavam achando impossível sustentar servos europeus uma vez que acabava sua utilidade por causa dos limites de terra restritos à ocupação de homens livres. O registro é repleto de afirmações sobre as consequências da diminuição e do número ínfimo de homens brancos nestas ilhas. Em 1688, o Governador de Barbados reclamou aos latifundiários Quakers que estes falharam em manter sua quantia justa de servos brancos “necessários para suprimir o perigo de uma revolta dos negros”[53]. O Governador da Jamaica escreveu ao Príncipe de Gales em 24 de setembro de 1716 que a ilha estava “(…) quase sem defesas, assim como necessita da presença de pessoas brancas para conter qualquer revolta dos negros, navios de guerra para guardar as regiões costeiras, o comércio e a navegação(…)”[54]. A Casa dos Comuns em Novembro de 1691, recebeu uma “petição de navegadores mercantes, mestres de embarcações, latifundiários e outros, comerciantes entre plantações estrangeiras (…) estabelecendo que as plantações não podiam ser mantidas sem um número considerável de servos brancos, da mesma forma para manter os negros em sujeição, assim como portar armas em caso de invasão”.[55]
O parlamento em 1717, respondeu à estas súplicas alarmistas fazendo da transferência de servos nas colônias de plantação uma punição para crimes. Pessoas acusadas de crimes, pelos quais seria imposta a pena de morte, podiam ser sentenciadas a 14 anos de pena nas plantações americanas. Pessoas acusadas de crimes menores eram sujeitas a 7 anos de servidão. Um estudo mencionado por AE Smith entre os anos de 1729-70, indicou que pelo menos 70% dos condenados na Corte de Old Bailey em Londres eram enviados à Maryland e Virginia. Desta forma “os passageiros de Sua Majestade” constituíam uma grande proporção da população de servos brancos nas colônias de plantação no Sul, sendo a maioria destes egressos da Inglaterra. No
d. No entanto, a maioria do número total de europeus servos que chegavam às colônias do sul (incluindo aqueles que originalmente desembarcados na Filadélfia ou em outros portos não-sul) foram, em grande parte século XVIII, irlandeses, alemães e escoceses.[56]Além dos condenados, o número de servos europeus em Maryland mais que duplicou entre 1707 e 1755[57]. Enquanto o número de servos brancos na Virgínia em 1708 era insignificante, o Governador Gooch relatou ao governo de origem que um grande número de servos brancos e negros foram importados para aquela colônia desde 1720[58]. Estatísticas separadas de servos faltam na Carolina do Sul, exceto as de 1708, onde atesta-se que a população era de 10 mil, destes apenas 120 servos europeus.[59]No entanto, é aceito que a maioria dos europeus mandados às colônias eram servos; portanto, a medida em que a população da Carolina do Sul aumentava de 4000 para 25000 entre 1708 e 1755, enquanto a imigração de servos brancos deve ter aumentado em uma porção de milhares.[60]
VIII
A burguesia poderia mandar servos europeus para as colônias sulistas[61], mas como isto evitaria outra Revolta de Bacon ou o Levante dos Servos onde servos africanos e europeus poderiam se juntar para enfrentar a elite dominante? Como a burguesia viraria o jogo, minaria a solidariedade entre negros e brancos, e então alistaria os brancos pobres no aparato de controle social da classe dominante? Professor Morgan, em um momento de seu artigo citado anteriormente, comenta o seguinte: “Não diria que a Virginia deliberadamente se voltou à escravidão africana para preservar e estender os direitos dos ingleses”[62] Um tanto correto; mas inverta a ordem dos fatos e haveria de aparecer um pronunciamento profundamente correto: A burguesia latifundiária deliberadamente estendeu um status de privilégio aos brancos pobres de todas as categorias com o objetivo de tornar a escravidão africana a base de seu sistema produtivo.
A burguesia latifundiária anglo-americana do século XVII desenhou a linha de separação entre a liberdade e a escravidão, uma linha pautada na cor da pele que não existiu antes durante a lei Inglesa.[63] James C. Ballagh em seu velho e conhecido ensaio, A História da Escravidão na Virgínia, primeiramente publicado em 1902, detalhou como a Assembleia da Virginia, “em uma longa série de estatutos desenhou e aplicou a linha divisória da cor como um limite em vários direitos sociais e políticos, e finalmente estreitou sua aplicação diretamente à raça negra em conformidade com a liberdade ou privilégios legais costumeiros e direitos.[64]” Desenhar esta linha pautada na cor da peleacompanhou a definição de quem seria o escravo; então, é claro, todos os demais seriam por definição não-escravos. O processo ocorreu num período de meio século.
Em 1662 a Assembleia da Virginia decretou que todas as pessoas nascidas na Virginia deveriam seguir a condição de suas mães. Este foi um resultado direto, de acordo com Ballagh, do ‘intercoito’ entre ingleses e mulheres negras; mas isto também pretendia ser uma “barreira para as mulheres” inglesas.[65] Assim, como afirma o historiador Philip Bruce, “não é motivo de surpresa que no século XVII haviam tantas instâncias de intimação criminal entre mulheres brancas e negros. Muitos dos maridos anteriores tinham chegado recentemente da Inglaterra, e eram relativamente livres de preconceito racial”[66] Era nesta conexão que foi realizada a primeira legislação que estabelece o privilégio de pele branca para o trabalho branco, ao excluir mulheres brancas servas da lista de pagantes de impostos, a Assembleia cedeu às mulheres brancas exceções gerais no trabalho do Campo. Em 1662 o intercoito inter-racial entre “Cristãos” se tornou punível por uma multa do dobro da quantidade imposta por este delito[67].Em 1705 uma mulher branca serva ficou sujeita a cinco anos de servidão adicional por este delito, e o filho nascido do “crime” deveria ser um servo até ele ou ela completar trinta e um anos de idade.[68]
Após 1670, o batismo de Cristo em Virginia não teve efeito emancipatório neste mundo. Mas ainda deixou livres os Negros que vinham da Espanha, Portugal ou território Inglês de onde já vinham batizados. Em 1680 portanto, a Assembleia da Virginia decretou que servos importados eram escravos ao menos que tivessem nascidos de pais cristãos em um país cristão ou tivessem sido comprados como Cristãos[69]. Isto parecia cobrir todas as contingências, exceto as dos servos negros que prestavam serviço por tempo limitado, negros livres e escravos indígenas. Em 1705, o último passo foi dado: Todos os servos que foram comprados dentro do país, por mar ou terra, seriam escravos, ao menos que viessem como cristãos com algum privilégio especificado pela lei de 1680. Apenas negros eram escravos, não índios, na Virgínia.[70]
Assim restou o assunto das pessoas de cor livres. Mas sua posição estava claramente definida como a de um status menor com relação a qualquer pessoa branca. Em 1705, por exemplo, a lei proibiu qualquer negro de possuir qualquer escravo branco.[71] Em 1723, negros livres que tinham até então poder de voto no mesmo patamar dos brancos, foram destituídos deste direito.[72] Alguns anos depois, o Governador de Lieutenant William Gooch justificou esta e outras destituições especiais aos direitos dos afro-americanos livres: o propósito, explicou, era “fixar uma distinção entre negros livres e mulatos (…) porque a distinção deve ser feita entre os filhos e os descendentes de ingleses”. Ele deplorou o “orgulho que um escravo mal-humorado tem imediatamente ao querer adquirir sua liberdade, pensando ser um homem tão bom quanto o melhor de seus vizinhos”. Gooch estava determinado em minar este orgulho simplório e “preservar (…) uma distinção entre estes [os negros livres] e seus superiores”. O Conselho de Comércio e Plantações na Inglaterra, do qual foi requisitado sobre esta questão, indicou uma resposta satisfatória sobre o assunto.[73]
Os privilégios de pele branca dos pobres brancos livres eram simplesmente reflexos das disfunções impostas ao negro escravo: ir e vir livremente sem ter de pedir permissão; se casar sem precisar do consentimento de nenhuma classe superior; mudar de emprego; votar em eleições de acordo com a lei; ter uma propriedade; e por último, mas não menos importante, ter o direito de autodefesa.
Não apenas aos brancos livres, mas aos servos brancos foram dados privilégios em relação aos africanos. Em 1680 a assembleia da Virginia recuou todas as punições sobre os servos brancos durante a Revolta de Bacon. O tom da lei excluiu implicitamente deste perdão qualquer afro-americano liberto ou servo temporário que fez parte da Revolta.[74] Crianças negras eram vistas como aproveitáveis, isto é, produtivas para o trabalho aos 12 anos de idade, enquanto servos brancos eram exceção até os 14.[75]
Em 1680 os negros foram proibidos de portar armas, para defesa ou ataque.[76]Em 1705, os termos especificados para um servo branco incluíam o direito de portar um mosquete.[77]Em 1680, a lei previa que qualquer negro que levantasse suas mãos contra qualquer cristão branco estaria sujeito a receber 30 chicotadas.[78] Pela lei de 1705, um servo branco levantando a mão contra seu senhor, patrão ou supervisor estaria condenado à extensão de um ano a mais no tempo de trabalho.[79] Baseado nesta mesma lei, o assassinato de um servo afro-americano vitalício era legal se este resistisse a qualquer castigo imposto por seu Senhor.[80] Aqui já existe uma distinção clássica clara entre a opressão de raça e classe.
Em 1680, tornou-se legal matar um negro fugitivo servo se ele ou ela resistisse a ser recapturado.[81] Em 1705, a lei especificouo que um servo branco poderia ou não ser chicoteado nu exceto por ordem jurídica. Esta mesma lei deu ao servo branco o direito de reivindicar medidas legais contra o mestre por tratamentos severos ou provisões inadequadas.[82]
Em 1705, servos brancos, na plenitude de seus termos de servidão, receberiam pela mesma lei os seguintes termos de liberdade: aos homens, 10 alqueires de milho, 30 shilings em dinheiro, um mosquete no valor de 20 shilings; às mulheres 15 alqueires de milho e 40 shilings em dinheiro.[83] Os trabalhadores afro-americanos não receberiam estes termos de liberdade, uma vez que não haveriam de ter liberdade.[84]
IX
Em 1692, representantes da Virgínia na Inglaterra apontaram que Maryland e Virginia, estando no continente, não podiam manter os servos sob controle de forma tão simples quanto faziam as autoridades nas colônias insulares das Índias Ocidentais, com auxílio das frotas marítimas.[85] Da Virgínia, denuncias de conspirações insurrecionais de negros se tornaram frequentes.[86] O redator dos Documentos do Calendário de Estado descreve a Virginia em 1728-29 como “uma comunidade cheia de ansiedade e em constante pavor” neste assunto.[87]
A experiência com a Revolta de Bacon mostrou que as colônias continentais estavam longe demais da Inglaterra para serem controladas por tropas instaladas no local de origem.[88] A coroa não tinha a intenção de manter às suas custas um exercito permanente nas colônias com este proposito. Embora os latifundiários em algumas ocasiões tenham apelado para as tropas britânicas pela manutenção das ordens contra a população rebelde, eles não queriam pagar o custo[89]. Havia uma preocupação crescente, portanto, com o desenvolvimento de uma força armada branca.[90]
No começo, membros da elite colonial vigente e seus agentes destacados, auxiliares e empregados eram amplamente isentos de trabalhos militares. A lei de 1705 assim dispensava “qualquer membro ou ex-membro do conselho colonial, porta-voz da Casa dos Burgueses, procurador geral, ou qualquer pessoa que tenha sido da comissão de capitães superiores na colônia, ministros, funcionários, diretores de escolas, supervisores de 4 ou mais escravos, policiais, moleiros (…)[91] A partir desta lei servos estariam excluídos das milícias. Em 1723, no entanto, quando os isentos foram requisitados em cada instância para encontrar e fornecer “um homem branco capaz” para substituí-los, não foi solicitada nenhuma exclusão de servos em relação àqueles que seriam os substitutos. Na verdade, foi dito que “nada nesta Lei contém, deve conter ou sustar quais quer capitão de admitir qualquer pessoa branca capaz, que devia ter mais de 16 anos de idade para servir em uma tropa om companhia no lugar de qualquer pessoa requerida por esta lei para se alistar. ”[92]
Em 1727, a forma especial de milícia conhecida como a Patrulha de Escravos foi criada na Virgínia com o objetivo de lidar com “os grandes perigos que podem (…) causar as insurreições de Negros (…)”[93]As patrulhas eram guiadas pelo encarregado oficial da milícia em cada condado, e incubidas do propósito de “dispersar qualquer movimento atípico de negros (…) e prever quaisquer combinações perigosas que estes encontros possam realizar (…)[94] Os homens brancos pobres que compunham as fileiras e o corpo da milícia seriam recompensados por este serviço com isenções de participar em reuniões regulares da milícia e pagamentos de impostos e taxas paroquiais.[95] Um artigo na Lei de 1727 que chama atenção é o que especifica a quantia do pagamento para os milicianos em quilos de tabaco em libras de acordo com classificações.[96] Os pobres brancos quando em patrulha, recebiam pagamento de acordo com suas escalas de trabalho. E pagos para o que? Para suprimir complôs ou rebeliões tais como as que seus avôs deviam ter feito parte juntamente aos servos negros anos antes.
X
Mas sua própria posição, frente aos ricos e poderosos- o assunto que está na raiz do velho conflito civil- não foi melhorada, mas enfraquecida, pelo sistema de privilégio de pele branca. Este sistema, afinal de contas, foi concebido e instituído como um método alternativo ao de Grantham e Berkeley, mas precisamente voltado ao mesmo objetivo. Nisto temos o testemunho mais indiscutível.
Em 1831, menos de 100 quilômetros do lugar onde “quatrocentos ingleses e negros armados” teriam atirado no mentiroso capitão de Berkeley, ou o cortado em pedaços, ocorreu ali aquele breve levante proletário conhecido como a Rebelião de Nat Turner. Aquele evento causou arrepios nas estruturas deliberativas da burguesia latifundiária estadunidense. Trouxe à tona temores e pensamentos que não eram comumente veiculados. Durante todo o inverno e verão de 1831-32, o legislativo da Virginia e a imprensa debateu o significado e as possíveis consequências deste grito de guerra dos trabalhadores escravizados. Estavam olhando para suas defesas, e falaram muito sobre os pobres brancos.
TJ Randolph, sobrinho e homônimo do autor da Declaração de Independência, coloca a questão retórica a seus companheiros legisladores: “(…)sobre quem cairá o fardo desta defesa (contra as revoltas escravo-proletárias): não sob os mestres senhoriais e suas centenas de escravos, que jamais bateriam em retirada com suas famílias quando o perigo os ameaça. Não senhor, é da conta (…) dos não-proprietários de escravos (…) patrulhar obrigatoriamente por uma migalha de 75 centavos por 12 horas (…)”.
George W. Summers do Condado de Kanawha fez muitos na Câmara dos Delegados tremerem: “Diante do caráter dos Patrulheiros”, ele disse, os pobres brancos “(…) devem somar responsabilidades. ” Summers, é claro, se opunha tanto quanto todo o resto dos membros para libertar os pobres brancos contra trabalhos somatórios, estabelecendo igualdade no trabalho negro e branco na Virgínia.
“Civis”, um senhor de escravos do Leste da Virginia, pontuou que em sua parte do Estado mais da metade da minoria branca tinha “pouco além da recompensa deles terem nascido em uma casta superior. ” O editor do Richmond Enquirer falou mais sabiamente do que se pretendia com o status dos trabalhadores brancos: “(…) forçados a perambular como vagabundos nos confins da sociedade, não encontrando classe da qual podiam fazer parte, porque para aquela que deveriam ter entrado, existe um SISTEMA ARTIFICIAL de substituição do trabalho que estes não podem estar atrelados”.[97]
Profundamente verdadeiro! O sistema artificial, isto é, desigual de trabalho que os impede de “entrar” à sua própria classe, e de se incorporar à luta de classes proletária.
Nestes debates em Virginia vimos publicado ao mundo a degradação social que um século e meio de supremacia branca trouxe aos brancos pobres, que tinham esquecido os votos de sangue jurados pela luz triunfante do fogo de Jamestown, na espera de Grantham.
Notas
[1] Exemplos: George Fitzhugh, Canibais Todos! Or Slaves Without Masters, em Harvey Wish, ed., Ante-Bellum Writings, de George Fitzhugh e Hinton Rowan Helper (Boston, 1960), p. 55. J. H. Hammond, “Letters on Slavery-No. 4”, De Bow’s Review, vol. 8 (série antiga), março de 1850, p. 256
[2] H. M. Henry, Controle policial do escravo na Carolina do Sul (Emory, 1914), p. 11, citando Nott e McCord (Law): Witsell vs. Parker; e 2 Strobhart (Law), 43: Ex parte Boylston.
[3] Kenneth M. Stampp, The Peculiar Institution (New York, 1956), p. 153.
[4] E. N. Elliott, ed., Cotton Is King and Pro-Slavery Arguments (Augusta Georgia, 1860; rpt. New York: Negro Universities Press, 1969), p. 608
[5] Citado em: Charles Buxton Going, David Wilmot, Free Soiler (1924; Nova York, 1966), p. 170
[6] George Fitzhugh, Sociologia do Sul (Richmond, 1854) p. 143. É isso que se entende por escravidão racial. Não é apenas o fato de alguns brancos possuírem escravos negros, mas o fato de não serem brancos; não apenas que os brancos são por definição não escravos, mas que os pobres e trabalhadores que não são escravos são por definição racial escravizadores do trabalho negro.
[7] Berkeley to Ludwell, 1 de julho de 1676, Bath Manuscripts, vol. LXXVII, folha 145. (Henry Coventry papers na Longleat) Conselho Americano de Sociedades Aprendidas British Mss. Projeto, Reel 63 (Washington: Biblioteca do Congresso). (Doravante referido como Bath Mss.)
[8] Karl Marx, carta a Abraham Lincoln, “Discurso da Associação Internacional dos Trabalhadores a Abraham Lincoln”, publicado em 7 de janeiro de 1865, em Karl Marx e Frederick Engels, Letters To Americans 1848-1895 (1953; International Publishers, NY, 1969), p. 66.
[9] Francis Moryson a William Jones, Procurador-Geral, outubro de 1676. Escritório de Registro Público da Grã-Bretanha, Calendário de Papéis de Estado, Colonial (daqui em diante abreviado, C. S. P.), vol. 9 (1675-76), pp. 480-81.
[10] Edmund S. Morgan e T. H. Breen fizeram recentemente contribuições notáveis a uma teoria integral da história colonial inicial, sugerindo uma conexão entre a turbulência social na Virgínia entre 1660 e 1682, incluindo a Rebelião de Bacon, e o estabelecimento da escravidão racial. (Ver Edmund S. Morgan, “Escravidão e liberdade: o paradoxo americano”, Journal of American History, vol. 59, nº 1 (junho de 1972), pp. 5-29; e TH Breen, “Uma força de trabalho em mudança” e Relações raciais na Virgínia, 1660-1710, “Journal of Social History, 7 (Fall, 1973), pp. 3-25. Parece-me, no entanto, que seus esforços falham fundamentalmente em estabelecer essa conexão, e em seus bem-estar. os argumentos iniciados se arrastam para especulações inúteis e até enganosas.Este ensaio é uma tentativa, ao repensar materiais familiares sob uma luz diferente, de descobrir esse elo crucial. [Para a revisão de Allen sobre Edmund S. Morgan, American Slavery, Liberdade Americana: O Calvário da Virgínia Colonial (Nova York: WW Norton & Co., 1975) ver Theodore W. Allen, “Escravidão, Racismo e Democracia”, Monthly Review, vol. 29, nº 10 (março de 1978) 57-63 – JP]
[11] Lewis C. Gray, assistido por Esther Katherine Thompson, History of Southern Agriculture To 1860, (Washington, 1932), pp. 262-269. Thomas J. Wertenbaker, The Planters of Colonial Virginia (Nova York, 1959), pp. 89-91. Warren M. Billings, “‘Virginia’s Deplored Condition’, 1660-1676, The Coming of Bacon Rebellion” (dissertação de doutorado não publicada, University of Northern Illinois, junho de 1968), p. 155
[12] Em 1671, de uma população total de 40.000 habitantes da Virgínia, havia 8.000 funcionários (6.000 europeus e 2.000 africanos). No início dos anos 1680, a população alcançou cerca de 50.000, incluindo 15.000 servos de títulos (12.000 europeus e 3.000 africanos). Veja Estatísticas Históricas dos Estados Unidos: Tempos Coloniais até 1957, (Washington, 1960), Tabela z-19. James C. Ballagh, A History of Slavery in Virginia (Baltimore, 1902), p. 10. Wertenbaker, op. cit., p. 98) Todas as autoridades desconsideram a estimativa de Thomas Culpeper (CSP, vol. 11, p. 157) de “setenta ou oitenta mil” como a população total da Virgínia no final de 1681. Mas todas concordam que houve um aumento muito grande na proporção de servos de títulos entre as duas datas. (Wertenbaker, op. Cit., Pp. 98-99. Ballagh, loc. Cit .; Phillip Alexander Bruce, História Econômica da Virgínia no século XVII, 2 vols. [Nova York, 1896], vol. 2, p. 79) A. E. Smith, Servidão Branca e Trabalho Condenado na América, 1607-1776 (Chapel Hill, 1947), pp. 330, 336) é uma possível exceção, uma vez que considera as estatísticas para o final deste período não confiáveis. Além dos servos, o proletariado incluía os homens livres sem propriedade. Morgan (op. Cit., P. 20) cita uma carta de Thomas Ludwell e Robert Smith ao rei, em 18 de junho de 1676, estimando que um quarto dos homens livres da Virgínia não possuía terras.
[13] A escola de “escravidão como capitalismo” dos historiadores americanos inclui W. E. B. Du Bois, Ulrich Bonnell Phillips, Lewis C. Gray, Roger W. Shugg, Carl N. Degler e Winthrop D. Jordan. Eric Williams e C. L. R. James vêem a escravidão do Caribe da mesma maneira. Karl Marx invariavelmente se referia à economia de plantações americana como empresa capitalista. Se alguém aceita essa visão, não há razão para negar que os proprietários de escravos eram capitalistas – uma burguesia das plantações – e que os escravos eram proletários. Certamente, essa forma de trabalho era uma contradição dos requisitos básicos do desenvolvimento capitalista geral – uma contradição que foi eliminada na Guerra Civil Americana. O fato é que, durante algum tempo, essa forma de trabalho não foi uma barreira à rápida acumulação capitalista, mas seu principal mecanismo. Finalmente – além das considerações acadêmicas – a questão de quem é ou quem não é proletário não tem absolutamente nenhum significado, exceto em relação à luta de classes conduzida por trabalhadores sem propriedade contra seus exploradores capitalistas. Esses trabalhadores constituíram a maioria dos rebeldes na fase de guerra civil da Rebelião de Bacon e toda a população das colônias de plantações.
[14] Os niveladores eram pequenos proprietários. O programa deles, como expresso no “Acordo do Povo” de 1648, pedia explicitamente a exclusão dos assalariados – a maioria da população inglesa – da franquia. Um dos Atos da Assembléia “Bacon”, de junho de 1676, foi restaurar o direito de voto a homens livres sem propriedade, um direito que havia sido especificamente retirado pela Assembléia de 1670. (WW Hening, Estatuto da Virgínia, 11 vols. [Richmond, 1799-1814], vol. 2, pp. 280, 346. A seguir, este trabalho será observado da seguinte forma: [vol. no.] Hening [página no.].)
[15] Richard B. Morris, Government and Labor in Early America (New York, 1947), pp. 172-177. Richard Morton, Colonial Virginia (Chapel Hill, 1960), pp. 224-225.
[16] Wilcomb E. Washburn, The Governor and the Rebel, (Chapel Hill, 1957), pp. 70-71. Morton, op. cit., p. 260.
[17] Coleção George M. Chalmers, Cartas relativas à Virgínia, I, folha 49, Biblioteca Pública de Nova York, carta da Virgínia de 19 de setembro de 1676. Além deste item de Chalmers, Washburn (op. Cit., P. 209) cita uma carta na Huntington Library, San Marino, Califórnia, datada de 14 de novembro de 1676, de Andrew Marvell a Sir Henry Thompson, atestando a presença de “Servos e negros” no ataque a Jamestown.
[18] Charles M. Andrews, ed., Narratives of the Insurrections, 1675-1690 (New York, 915), pp. 102-103.
[19] Por esse serviço, o Conselho Privado concedeu a Grantham 200 libras esterlinas. Três outros capitães receberam quantias menores. (Atos do Conselho Privado da Inglaterra, Série Colonial, 11 de junho e 19 de março de 1679, vol. I [1908], pp. 838 e 814-815.)
[20] Captain Grantham’s “Account,” Bath Mss., vol. cited, folios 301-302.
[21] Andrews, op. cit., pp. 92-94, 140. Calendar of State Papers, Domestic, vol. 19 (1677-78) p. 115.
[22] Andrews, op. cit., p. 93.
[23] Grantham’s “Account.”
[24] Ibid.
[25] C. S. P., vol. 11 (1681-85) pp. 130, 134, 228-229, 277. Gray, op. cit., p. 304
[26] Henry C. Carey, The Slave Trade, Domestic and Foreign (Filadélfia, 1853), estimou o número de trabalhadores africanos obrigacionistas importados até 1790 em 264.000. Gray, (op. Cit., P. 354) parece favorecer esse conde e Richard B. Morris, Encyclopaedia Of American History (Nova York), p. 513, parece aceitar os números de Carey. Philip D. Curtin, The Atlantic Slave Trade-A Censo (Madison, 1969]) p. 72, com base em “autoridades recentes”, sugere um número de 275.000. Noventa e três por cento dos funcionários africanos estavam no sul em 1790. Supondo que 93% deles foram originalmente trazidos para o sul, os números de Carey e Curtis indicam que o número trazido para o sul estava entre 244.000 e 259.000.
[27] De todas as colônias de plantações, Maryland tinha a maior proporção de servos europeus. Lá eles constituíam cerca de dez por cento da população. (Eugene I. McCormac, White Servitude in Maryland, 1634-1820 [Estudos da Universidade Johns Hopkins em Ciência Política e Histórica, série xxii, Nos. 3-4 (março a abril de 1904)], pp. 29, 32-33, 111; AE Smith, op. Cit., P. 336.) Com base em uma população européia-americana total de 1.166.000 nas colônias do sul em 1790 (Morris, op. Cit., P. 513), portanto, podemos assumir que não mais de 100.000 eram servos de fiança e esse número nunca fora maior. Embora o número de funcionários públicos obrigacionistas europeus tenha atingido o pico antes de 1790, para os fins desta especulação, esse fato é compensado pelo fato de que eles estavam presentes em um número relativamente grande antes que os servos africanos ali estivessem
[28] Ver Gray, op. cit., p. 371.
[29] Gray, op. cit., pp. 370-371. Wertenbaker, op. cit., p. 127.
[30] Com base no pressuposto de que pelo menos metade e provavelmente uma proporção maior dos servos europeus foi para as colônias do sul. (Ver A. E. Smith, op. Cit., “Apêndice”, especialmente “Conclusão”, pp. 335-337.)
[31] Winthrop D. Jordan, White Over Black (Chapel Hill, 1968), pp. 48, 91, sugere essa mesma pergunta e assume a suposição sem apoio de que os proprietários das plantações poderiam ter escravizado europeus não ingleses se os proprietários tivessem sido capazes de conceber. uma transgressão tão monstruosa contra a comunhão cristã branca. Como aqui estou ocupado em apresentar teses positivas, deixo de lado a polêmica. Apenas uma nota: a escravidão perpétua “branco sobre branco” foi instituída na Grã-Bretanha, para os mineiros de carvão escoceses e trabalhadores das salinas, em 1606, um ano antes da fundação de Jamestown, e só foi terminada até 1799. Somente dificuldades objetivas , não princípios morais ou raciais, impediram uma prática mais ampla do sistema e, por fim, foram decisivos para provocar sua descontinuação. Ver “Slavery in Modern Scotland”, Edinburgh Review, vol. 189 (1899), pp. 119-148. John Ulrich Nef chama esse ensaio de “o tratamento mais importante do assunto”. (John Ulrich Nef, A ascensão da indústria britânica de carvão [Londres, 1932], p. 157.)
[32] A. E. Smith, op. cit., p. 261. James C. Ballagh, Servidão Branca na Colônia da Virgínia (Baltimore, 1895), pp. 52-53. McCormac, op. cit., p. 48. Warren B. Smith, White Servitude na Colonial Carolina do Sul, (Columbia, 1961) p. 74
[33] Registros do Condado de York, 1674-76, pp. 206, 221, Virginia State Library, Richmond. Bruce, op. cit., vol. 2, p. 104. A. E. Smith, op. cit., pp. 265, 269.
[34] A. E. Smith, op. cit., p. 267. A frase singular, “discrição de si mesmo”, é citada em McCormac (op. Cit., P. 62) de uma lei de Maryland do século XVII sobre fugitivos.
[35] Hening 26. Thomas Cooper, org., Statutes at Large of South Carolina (Charleston, 1839) vol. 3, p. 17. Warren B. Smith, op. cit., pp. 75-76. Os detalhes da lei variavam de colônia para colônia e, de tempos em tempos, em cada colônia. Para este ensaio, a Virgínia, a primeira colônia do sul e que define padrões, fornece a maioria dos exemplos, sendo as datas dos vários atos. “A descoberta do grande recurso do lucro no cultivo do tabaco”, escreveu Ulrich B. Phillips [“Plantation and Frontier”, em Eugene D. Genovese, ed., A Economia Escrava do Velho Sul (Baton Rouge, 1968), p. . 3], “impulsionou a indústria em larga escala da Virgínia e sua expansão territorial… (E) trouxe à tona os métodos de vida que controlaram a história da Virgínia pelos séculos seguintes e das muitas colônias e estados que tomaram emprestada sua plantação. sistema.” Em outro artigo republicado no mesmo volume, Phillips afirma que “… a legislação da Virgínia foi copiada com mais ou menos modificações por todos os governos, de Delaware ao Mississippi”. (“Problemas raciais, ajustes e distúrbios”, p. 2627). As fontes secundárias mais importantes sobre os servos europeus na América colonial são A. E. Smith, colonos em escravidão: servidão branca e trabalho condenado na América, 1607-1776 (Chapel Hill, 1947); Richard B. Morris, Governo e Trabalho no Início da América (Nova York, 1947); e Marcus W. Jernegan, Laboring and Dependent Classes in Colonial America, 1607-1783 (Chicago, 1931). Outros estudos especializados úteis para este ensaio foram E. I. McCormac, White Servitude em Maryland, 16341820 (Baltimore, 1895); e Warren B. Smith, servidão branca na Carolina do Sul colonial (Columbia, 1961).
[36] A. E. Smith, op. cit., p. 272.
[37] Andrews, op. cit., p. 40. Os historiadores geralmente consideram essa citação apócrifa. No entanto, é uma afirmação verdadeira; Berkeley enforcou 23 cativos rebeldes, enquanto Carlos II enforcou um total de 13 (sem contar Cromwell, Ireton e Bradshaw, cujos cadáveres foram exumados por enforcamento) pelo regicídio de seu pai. (Morris, Encyclopaedia of American History, p. 23. Encyclopaedia Britannica, “Regicide”.) As fontes secundárias mais importantes sobre os servos europeus na América colonial são AE Smith, colonos em escravidão: servidão branca e trabalho condenado na América, 1607 -1776 (Chapel Hill, 1947); Richard B. Morris, Governo e Trabalho no Início da América (Nova York, 1947); e Marcus W. Jernegan, Laboring and Dependent Classes in Colonial America, 1607-1783 (Chicago, 1931). Outros estudos especializados úteis para este ensaio foram E. I. McCormac, White Servitude em Maryland, 16341820 (Baltimore, 1895); e Warren B. Smith, servidão branca na Carolina do Sul colonial (Columbia, 1961).
[38] Breen, op. cit., p. 10.
[39] Morgan, op. cit., p. 24
[40] C. S. P., vol. 23, p. 718 (15 abril 1708).
[41] Ibid., vol. 24, pp. 156-158, 739; vol. 23, p. 759.
[42] Ibid., vol. 29, p. 272 (18 março 1717).
[43] Ibid., vol. 16, p. 101 (10 fevereiro 1698).
[44] Ibid.
[45] Cooper, vol. 11, p. 153.
[46] C. S. P., vol. 16, pp. 390-391.
[47] Ibid., vol. 24, p. 454.
[48] Ibid., vol. 29, p. vii.
[49] Ibid., vol. 11, pp. 317-318.
[50] Gray, op. cit., p. 366. Bruce, op. cit., vol. 2, p. 51
[51] C. S. P., vol. 32, p. 425.
[52] Ibid., vol. 16, p. vii.
[53] Ibid., vol. 12, p. 517.
[54] Ibid., vol. 29, p. 181.
[55] Leo Francis Stock, ed., Proceedings and Debates of the British Parliament Respecting North America, 5 vols. (Washington, 1924), vol. 2, p. 46
[56] A. E. Smith, op. cit., pp. 111-113, 117, 325-329, 335-337
[57] Ibid., p. 324.
[58] Ibid., p. 330.
[59] C. S. P., vol. 24, p. 739.
[60] Gray, op. cit., p. 348. Wertenbaker, op. cit., pp. 81-82. McCormac, op. cit., pp. 28-29
[61] Nas colônias continentais, mesmo nos bons tempos, não mais que um terço dos servos de títulos europeus conseguiu concluir seus termos de serviço e estabelecer-se como agricultores independentes. (Wertenbaker, op. Cit., P. 80); até o final do século, a proporção era de apenas cinco ou seis por cento. (ibid., p. 98). Mas a situação dos libertos nas colônias insulares, Jamaica, Barbados e outros, foi ainda pior. Os servos de títulos que completavam seus mandatos lá deixaram as ilhas aos milhares por conta disso. (C. S. P., vol. 7, p. 141, 14 de dezembro de 1670) Aqueles que não conseguiram fugir começaram a constituir uma subclasse proletária “branca” proletária. As medidas especiais promulgadas, ou pelo menos consideradas, pela classe dominante anglo-caribenha para fornecer alguma margem de segurança de privilégios raciais nessa circunstância, anteciparam medidas semelhantes no país das plantações continentais. Entre eles estavam a exclusão de não-brancos do trabalho como comerciantes qualificados e a extensão da franquia para que esses brancos necessitados pudessem vender seus votos aos candidatos burgueses no momento das eleições. (C. S. P., vol. 7, p. 141, 14 de dezembro de 1670; vol. 14, pp. 446-447, 16 de julho de 1695).
[62] Morgan, op. cit., p. 24
[63] O que veio primeiro, o racismo ou a escravidão? Na era pós-Segunda Guerra Mundial do surgimento da libertação nacional, uma controvérsia relacionada tem ocupado muita atenção dos historiadores americanos. Um lado, o lado “psicocultural”, sustenta que a supremacia branca é “natural”, o resultado de uma “decisão impensada”; que deriva de atributos humanos não sujeitos a ação social eliminatória eficaz. O outro lado, o lado “social”, acredita que o racismo surge de condições socioeconômicas, e não naturais; que (pelo menos por implicação) é suscetível de eliminação por ação social. A evidência de casos precoces de escravização de afro-americanos é enfatizada pela escola “psicocultural” como prova da “antipatia natural” do branco e do preto. Por outro lado, como Jordan (principal dos “psicoculturais”) coloca, “a escravização tardia e gradual prejudica a possibilidade de antipatia natural e profunda em relação aos negros … se brancos e negros pudessem compartilhar o mesmo status de meia liberdade por quarenta anos no século XVII, por que eles não poderiam compartilhar a liberdade total no século XX? ” (Winthrop D. Jordan, “Tensões modernas e as origens da escravidão americana”, Journal of Southern History, vol. 28 [1962], pp. 19-30, loc. Cit., P. 20.De todos os historiadores da escola “social”, cujo trabalho eu li, apenas o historiador negro Lerone Bennett, Jr., em seu artigo, “The Road Not Taken”, Ebony, vol. 25 (1970), n. 10 (agosto), pp. 70-77, e no cap. III de seu novo livro The Shaping of Black America (Chicago, 1975), consegue colocar o argumento nos três pontos de apoio essenciais dos quais não pode ser derrubado. Primeiro, a escravidão racial e a supremacia branca neste país foram uma resposta da classe dominante a um problema de solidariedade trabalhista. Segundo, um sistema de privilégios raciais para os trabalhadores brancos foi deliberadamente instituído para definir e estabelecer a “raça branca” como uma formação de controle social. Terceiro, a conseqüência não só foi ruinosa para os interesses dos trabalhadores afro-americanos, mas também foi “desastrosa” (palavra de Bennett) para o trabalhador branco. Outros (como os Handlins, Morgan e Breen) afirmam os dois primeiros pontos até certo ponto, mas apenas Bennett combina os três. Embora eu tenha aprendido o ensaio de Bennett apenas em abril de 1975, os mesmos três elementos essenciais informaram minha própria abordagem em um livro que eu escrevi há vários anos (e do qual este artigo é um spin-off), sobre a origem de escravidão racial, supremacia branca e o sistema de privilégios raciais do trabalho branco neste país. Finalmente, e mais importante, enquanto a burguesia anglo-americana, por sua experiência anterior em Providence Island e Barbados, aprendeu a lucratividade de igualar ou procurar igualar “negro” e “escravo” às massas européias (naquela época). estágio quase todos os funcionários ingleses da Virginia não aceitavam esse ponto de vista. Em vez disso, casaram-se, conspiraram, fugiram e finalmente se revoltaram em armas junto com os servos africanos. A escravidão racial não poderia ter existido, e não existia, nessas circunstâncias. Sob tais circunstâncias, tentar resolver o “problema do trabalho” aumentando o número de servos africanos, reduzindo-os a servidão hereditária ao longo da vida e tornando-os a principal base produtiva de trabalho da sociedade, seria como tentar Jamestown fogo com querosene.
[64] Ballagh, A History of Slavery in Virginia, p. 56.
[65] Ibid., p. 57.
[66] Bruce, op. cit., vol. 2., p. 111
[67] Gray, op. cit., pp. 362-363. 2 Hening 170, 296.
[68] 3 Hening 453.
[69] Hening 260. Ballagh, A History of Slavery in Virginia, p. 47.
[70] Ballagh, A History of Slavery In Virginia, p. 47. Na Carolina do Sul, nos primeiros anos da colônia, os índios foram escravizados mais extensivamente do que nunca em outras colônias. Mas essa prática era, no geral, contraproducente por vários motivos. Os proprietários estavam ansiosos para que a prática custasse à colônia os serviços daqueles indianos que estavam servindo como retornadores de africanos fugitivos. (C. S. P., vol. 13, pp. 331-332, 18 de outubro de 1690) Os servos europeus contratados eram atraídos com promessas de terra (apenas excepcionalmente realizadas); mas essas ilusões não eram possíveis para os índios, que só podiam perder a terra que possuíam sob o plano europeu. Além disso, os ingleses estavam preocupados em não aumentar o perigo da colaboração indiana com os espanhóis e franceses. Não compartilho a opinião ocasionalmente expressa de que relativamente poucos índios continentais foram escravizados por falta de adaptabilidade à agricultura.
[71] 3 Hening 449-450.
[72] 4 Hening 133-134.
[73] C. S. P., vol. 42, pp. 140, 207-208, 304.
[74] 2 Hening 462.
[75] 2 Hening 479-480.
[76] 2 Hening 481-483.
[77] 3 Hening 451.
[78] 2 Hening 481-482.
[79] 3 Hening 451
[80] 3 Hening 459.
[81] 2 Hening 481-482.
[82] 3 Hening 442
[83] 3 Hening 451.
[84] Contrastar o status de servos de títulos europeus e africanos não é sugerir que a vida do servo de escravos branco fosse outra coisa senão dura e opressiva. A. E. Smith acredita que “a grande maioria deles trabalhou seu tempo sem sofrer excessiva (!) Crueldade ou desejo, (e) recebeu sua dívida de liberdade sem processá-los”. Presumivelmente, ele se refere à “maioria” daqueles que sobreviveram ao seu período de serviço. Pois, ele admitiu que “o sistema de servidão branca era cruel” por causa do trabalho árduo que impunha às pessoas “geralmente impróprias para uma vida assim”, e tanto que no início do período colonial “cinquenta ou setenta e cinco de cada cem servos brancos morriam sem nunca ter uma chance decente de sobrevivência “. (A. E. Smith, op. Cit., Pp. 278, 303-04.)
[85] C. S. P., vol. 15, p. 451; vol. 11, p. 130.
[86] Herbert Aptheker, American Negro Slave Revolts, (segunda edição, Nova York, 1969) pp. 163ff, 169ff, 176f.
[87] C. S. P., vol. 36, p. xxiv.
[88] A terrível lembrança da Rebelião de Bacon ainda era um ponto de referência para a burguesia das plantações quarenta anos após o evento. O governador Alexander Spotswood lembrou ao Conselho de Comércio e Plantações o grande custo de reprimir a Rebelião, em uma carta de 19 de julho de 1715. (C. S. P., vol. 28, p. 301). C. S. P., vol. 11, pp. Xxvi, 130, 134, 277.
[89] C. S. P., vol. 11, pp. xxvi, 130, 134, 277.
[90] Desde o momento da mensagem do Conselho de Comércio e Plantações ao rei, em 10 de janeiro de 1698, o estabelecimento e a manutenção de uma milícia branca adequada é um tema recorrente dos documentos oficiais. (CSP, vol. 16, p. 101; vol. 22, p. 489; vol. 24, p. 450; vol. 2, p. Xviii, 70; vol. 36, p. 118 são alguns exemplos.) .
[91] 3 Hening 336.
[92] 4 Hening 125
[93] 4 Hening 197.
[94] 4 Hening 202-203.
[95] 5 Hening 19.
[96] 4 Hening 202-203
[97] O discurso de Randolph na Casa de Delegados da Virgínia, em 21 de janeiro de 1832, foi publicado como um panfleto abolicionista e está disponível na NYPL. O discurso de Summers à Câmara dos Delegados foi proferido quatro dias antes e foi publicado no Richmond Enquirer em 2 de fevereiro de 1832. Os comentários de “Civis” apareceram no jornal em 4 de maio e a resposta a “Appomattox” em 3 de março.
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