Por John Bellamy Foster, via Monthly Review, traduzido por Letícia Ferreira de Medeiros
A ecologia soviética apresenta um conjunto extraordinário de paradoxos históricos. Por um lado, a URSS nos anos de 1930 e 1940 expurgou de forma violenta vários de seus pensadores ecológicos principais e degradou seriamente seu meio ambiente na busca pela rápida expansão industrial. O resultado final é frequentemente descrito como um “ecocídio”, simbolizado pelo acidente nuclear em Chernobyl, a agressão ao Lago Baikal e a seca no Mar de Aral, assim como níveis altíssimos de poluição atmosférica e da água.1 Por outro lado, a União Soviética desenvolveu algumas das contribuições mais dialéticas à ecologia, revolucionando a ciência em campos como climatologia, ao mesmo tempo em que introduzia formas pioneiras de conservação. Além de seus famosos zapovedniki, ou reservas naturais para a pesquisa científica, procurou preservar e inclusive expandir suas florestas. Como observa o historiador ambiental Stephen Brain, o país estabeleceu “níveis de proteção [florestal] incomparáveis a qualquer outro lugar no mundo.” A partir da década de 1960 a União Soviética instituiu reformas ambientais de forma crescente, e nos anos de 1980 foi o palco do que tem sido chamada de “revolução ecológica.” Um reconhecimento crescente dessa realidade mais complexa tem recentemente levado acadêmicos a criticar a descrição da história ambiental soviética sob o termo de “ecocídio” por ser muito simplista.2
A partir da década de 1960, o pensamento ecológico soviético cresceu rapidamente, juntamente com o movimento ambientalista, o qual foi primeiramente liderado por cientistas. Nas décadas de 1970 e 1980, houve a evolução para um movimento de massa, levando a URSS a emergir como a maior organização conservacionista no mundo. Tais progressos resultaram em mudanças substanciais na sociedade. Por exemplo, entre 1980 e 1990, a poluição atmosférica advinda de fontes estacionárias caiu mais de 23 por cento.3
Sob uma perspectiva atual, o mais significativo papel que a União Soviética desempenhou foi no desenvolvimento da ecologia global a partir do final da década de 1950. Os climatologistas soviéticos descobriram e alertaram o mundo sobre a aceleração na mudança do clima global; foram pioneiros nos principais modelos de modificação climática; demonstraram até que ponto o derretimento do gelo polar poderia criar um feedback positivo, acelerando o aquecimento global; foram pioneiros na análise paleoclimática; criaram uma nova abordagem para a ecologia global, vendo-a como um campo distinto baseado na análise da biosfera; originaram a teoria do inverno nuclear; e provavelmente, foram os primeiros a explorar a natureza dialética entre sociedade e natureza subjacente às mudanças no sistema terrestre.4
A ecologia soviética pode ser dividida basicamente em três períodos: (1) o período da ecologia soviética primária, caracterizada pelas teorias ecológicas revolucionárias e iniciativas-chave de conservação a partir da Revolução de 1917 até meados da década de 1930; (2) a secundária, ou período stalinista, do final da década de 1930 até meados da década de 1950, dominada por expurgações, rápida industrialização, a Segunda Guerra, o princípio da Guerra Fria e o reflorestamento agressivo; e (3) a ecologia soviética terciária, a partir do final da década de 1950 a 1991, marcada pelo desenvolvimento de uma “ecologia global” dialética e o surgimento de um poderoso movimento soviético ambientalista – principalmente em resposta à extrema degradação ambiental da década subsequente à morte de Stalin, em 1953. O produto final foi uma espécie de negação da negação no campo ecológico, mas que foi suplantado ao final pelas forças superiores que levaram à desintegração da URSS. [1]
Apesar de muito ter sido escrito sobre a primeira e a segunda onda da ecologia soviética, relativamente pouco o foi sobre a ecologia soviética terciária. O marxismo ocidental emergiu ignorando o rápido desenvolvimento da ciência e da filosofia ecológicas soviéticas. Entretanto, a ecologia soviética terciária permanece extremamente importante para nós até hoje, representando um legado valioso que pode potencialmente ajudar em nossos esforços para abordar a emergência planetária atual.
A Ecologia Soviética sob Lênin e Stalin
A ecologia soviética primária foi extraordinariamente dinâmica. Lênin havia realmente abraçado a causa dos valores ecológicos, em parte devido à influência de Marx e Engels, e preocupava-se profundamente com conservação. Ele leu Pântanos: Sua Formação, Desenvolvimento e Características (Swamps: Their Formation, Development and Properties) de Vladimir Nikolaevich Sukachev, e foi, conforme especulou Douglas Weiner, “afetado pelo espírito ecológico e holístico do texto pioneiro de Sukachev sobre ecologia comunitária.” Logo após a Revolução de Outubro de 1917, Lênin apoiou a criação do Comissariado Popular de Educação, sob a liderança de Anatolii Vasil’evich Lunacharskii, que foi incumbido da tarefa de conservação. Em 1924, a Sociedade Russa de Conservação (VOOP, em sigla original) foi inicialmente criada com cerca de mil membros. Com o apoio de Lênin, o Comissariado de Educação organizou as celebradas reservas ecológicas de natureza relativamente intocada, conhecidas como zapovedniki, para pesquisa cientifica. Por volta de 1933, havia cerca de trinta e três zapovedniki, totalizando em torno de 2.7 milhões de hectares.5
Os principais pensadores ecológicos soviéticos, além de Sukachev, incluíam Vladimir Vernadsky, que publicou sua obra de referência A Biosfera (The Biosphere) em 1926; Alexander Ivanovich Oparin, que no início dos anos de 1920 (ao mesmo tempo em que J.B.S. Haldane na Grã-Bretanha), desenvolveu a teoria principal das origens da vida, e o brilhante geneticista botânico Nikolai Ivanovich Vavilov, que descobriu as fontes primárias do germoplasma ou reservatórios genéticos (conhecidos como as áreas Vavilov) conectados às áreas iniciais de cultivo humano no planeta – em locais como Etiópia, Turquia, Tibete, México e Peru. Outros, como o grande teórico marxista e aliado próximo a Lênin, Nikolai Bukharin, e o historiador científico Y. M. Uranovsky formularam tais descobertas em termos de materialismo histórico. Bukharin, seguindo Vernadsky, enfatizou a relação humana com a biosfera e o intercâmbio dialético entre humanidade e natureza. O zoólogo Vladimir Vladimirovich Stanchinskii foi pioneiro no desenvolvimento da análise energética de comunidades ecológicas (e níveis tróficos), e foi o principal promotor e defensor dos zapovedniki. Stanchinskii foi o editor do primeiro jornal soviético oficial sobre ecologia. O físico Boris Hessen atingiu fama mundial por reinterpretar a história e a sociologia da ciência em termos materialistas históricos.
Entretanto, com a morte de Lênin e o triunfo de Stalin, os problemas soviéticos pertinentes à conservação e genética foram politizados e burocratizados sob um regime repressivo. Isso levou ao expurgo de muitos dos principais cientistas e intelectuais, especialmente os que questionavam Trofim Denisovich Lysenko, figura dominante na biologia soviética por três décadas, de meados dos anos de 1930 ao final da década de 1950 – primeiro através da diretoria da Academia Bolchevique de Ciências da Agricultura de Lênin e depois do Instituto Soviético de Genética da Academia de Ciências da URSS. Cientistas notáveis foram banidos porque resistiam às afirmações frequentemente exageradas por parte de Lysenko de que, através de várias técnicas, como vernalização e hibridismo, seria possível acelerar o crescimento das plantas e gerar maior produtividade na agricultura. Como resultado, a URSS desse período perdeu alguns de seus maiores pensadores em ecologia. Bukharin, que era visto por Stalin como um rival, e Hesse, que era próximo de Bukharin e de Vavilov, foram ambos executados. Vavilov, que se opusera a Lysenko quanto a questões pertinentes à genética, foi preso, tendo morrido alguns anos depois de subnutrição – sendo jogado em uma vala não identificada.6
Em 1927, a utilização dos zapovedniki para pesquisas sobre “aclimatação” (ou seja, a remoção de espécies domésticas ou selvagens de animais ou plantas de seu habitat original e sua realocação em novos habitat, em uma tentativa de transformar a natureza) surgiu na biologia soviética. Sukachev e Stanchinskii defendiam ferrenhamente os zapovedniki contra aqueles que promoviam a proposta de aclimatação, argumentando que deveriam permanecer intocados. Em 1933, Stanchinskii entrou em conflito direto com Lysenko (e seu principal aliado, Issak Izrailovich Prezent) em relação a essa questão de conservar os zapovednik versus a aclimatação, levando à prisão, encarceramento e tortura de Stanchinskii em 1934. Ele viria a morrer em 1942, após sua segunda prisão.7
As consequências para a ciência ecológica soviética, principalmente em áreas relacionadas à agricultura, foram desastrosas. Membros da VOOP, que haviam chegado a aproximadamente 15 mil em 1932, declinaram para cerca de 2.500 em 1940. Os zapovedniki foram, ao longo do tempo, convertidos de áreas intocadas para estudo científico para centros de transformação da natureza.8
No entanto, em duas grandes áreas, silvicultura e climatologia, a ecologia soviética seguiu se desenvolvendo. Uma das mais importantes conquistas foi a introdução, por Sukachev em 1941, melhor desenvolvida em 1944, do conceito de biogeocenose[2], que foi de grande influência tanto na URSS, como no mundo, e foi o principal rival da categoria de ecossistema de Arthur Tansley.9 Botânico e ecologista, Sukachev fora influenciado por Georgii Fedorovich Morozov, considerado o fundador da silvicultura científica russa, que morrera em 1920. Morozov ajudara a introduzir o pensamento sistêmico na ecologia russa ao fazer uso recorrente do conceito de biocenose (ou comunidade biológica), cunhado pelo zoólogo alemão Karl Möbius em 1877.
O conceito de Sukachev de biogeocenose foi um desenvolvimento da biocenose, pretendendo incorporar o ambiente abiótico. Foi concebido em termos de poder dialético como uma categoria mais unificada e dinâmica do que a noção de ecossistema. O conceito de biogeocenose era uma expansão e tinha uma conexão integral com as noções dos ciclos biosféricos e biogeoquímicos de Vernadsky. De acordo com Sukachev em seu trabalho de 1964, Fundamentos da Biogeocenologia Florestal (Fundamentals of Forest Biogeocoenology), escrito com N. Dylis, “A ideia de que a interação de todos os fenômenos naturais… é uma das premissas básicas da dialética materialista, provada pelos fundadores da mesma, K. Marx and F. Engels.”10 “Uma biogeocenose,” como Sukachev notoriamente a definiu,
é uma combinação em uma área específica da superfície da Terra de fenômenos naturais homogêneos (atmosfera, extratos minerais, vida vegetal, animal e microbiota, solo e condições da água) possuindo suas formas específicas próprias de interação destes componentes e um tipo definido de intercâmbio de matéria e energia entre si e com outros fenômenos naturais, representando uma unidade dialética internamente contraditória, e estando em constante movimento e desenvolvimento.11
Em um artigo posterior em 1960, ele adicionou,
Já que a existência de influências mútuas ou interação dos componentes é a característica principal do conceito [integrador e ecológico] em questão, acreditamos que “biogeocenose” (das palavras gregas koinos “comum” e dos prefixos bio “vida” e geo “terra”, que enfatizam a unidade geral dos seres vivos e os elementos inertes da superfície da terra) é o termo mais adequado e descritivo [quando comparado às alternativas]…
Uma biogeocenose pode ser definida como qualquer porção da superfície da terra que contenha um sistema bem-definido de interação entre componentes naturais vivos [bióticos] (vegetação, animais, microrganismos) e não-vivos [abióticos] (litosfera, atmosfera, hidrosfera), ou seja, um sistema que obtém e transforma matéria e energia, trocando-as com outras biogeocenoses adjacentes e outros corpos naturais, e que permanece uniforme.
A interação contínua de todos os componentes entre eles mesmos e com os objetos naturais circunvizinhos significa que cada biogeocenose é um fenômeno dinâmico, movendo-se, mudando, e desenvolvendo-se constantemente.12
Desta forma, “cada organismo e cada espécime,” argumentou Sukachev, “é uma unidade dialética com o ambiente.” Entretanto, um aspecto chave da condição ecológica era que organismos multicelulares que estivessem mais ao topo da “cadeia evolutiva”—isto é, caracterizados por uma maior variedade de mecanismos de adaptação e especialização em relação ao seu ambiente – experimentavam um “crescimento de autonomia relativa.” A biogeocenose podia então ser vista evoluindo dialeticamente de formas complexas, com organismos mudando seu ambiente de forma ativa – uma realidade que exigia investigações específicas. “A biogeocenose, em sua totalidade, ”ele escreveu,“ se desenvolve através da interação de todos os seus componentes variáveis e de acordo com leis especiais. O próprio processo de interação entre os componentes constantemente interfere nas relações previamente estabelecidas, assim afetando a evolução da biogeocenose como um todo.”13 Como as estruturas dialéticas e gerais, a biogeocenose de Sukachev (muito mais que seu conceito rival, o ecossistema) enfatizava a dinâmica interna, as mudanças contraditórias e a instabilidade dos processos ecológicos.
A abordagem integradora e dialética na ecologia soviética promovida por figuras como Morozov e Sukachev, que estava fundamentada na pesquisa empírica detalhada sob condições específicas, levou ao reconhecimento da extensão do quão essencial a saúde do sistema florestal e ecológico é para a hidrologia e o controle do clima. Esse amplo conhecimento ecológico ajudou a dar vazão ao Grande Plano Stalinista para a Transformação da Natureza em 1948, que foi concebido como uma grande tentativa de reverter a mudança climática regional antropogênica em áreas devastadas, com ênfase na promoção de bacias hidráulicas. Já em 1936, o governo soviético havia criado a Administração Geral para a Proteção de Florestas e Florestamento, que estabeleceu as “florestas para proteção hidrográfica” em grandes cinturões por todo o país. Enquanto florestas em partes da União Soviética eram exploradas indiscriminadamente como florestas industriais, as melhores florestas antigas da terra russa foram protegidas, com prioridade dada a preocupações ecológicas, finalmente criando um total “de reservas florestais do tamanho da França, que cresceram ao longo dos anos para uma área com o tamanho do México (aproximadamente dois terços dos Estados Unidos)”.14
O Grande Plano Stalinista para a Transformação da Natureza, introduzido no contexto de tentativas de restauração ecológica após a Segunda Guerra Mundial, foi o maior plano de florestamento em toda a história até aquele momento. Procurou criar cerca de seis milhões de hectares (15 milhões de acres) de uma floresta inteiramente nova nas estepes de floresta e regiões das estepes, e constituiu “a primeira tentativa explícita mundial para reverter a mudança climática causada por humanos.” As árvores eram plantadas em quebra-ventos ao longo dos rios (e estradas) e em torno de fazendas coletivas, com o objetivo de impedir a influência causadora de secas devido aos ventos advindos da Ásia Central, enquanto protegiam bacias hidrográficas e a agricultura. Embora o plano não tenha sido completado quando da morte de Stalin, (quando foi descontinuado), um milhão de hectares de novas florestas foram plantados, sendo que 40 por cento permaneceram.15 Entretanto, mesmo enquanto esse plano de florestamento estava sendo realizado, cerca de 85 por cento do território dos zapovedniki foi liquidado oficialmente em 1951 (para serem restabelecidos sob a liderança de Sukachev e outros durante a ressurreição do movimento conservacionista do final da década de 1950).16
Uma das razões para o sucesso limitado do Grande Plano Stalinista foi a entrada de Lysenko para a silvicultura e sua batalha para controlar o florestamento soviético. Em 1948, Lysenko havia alcançado sua maior vitória, com a declaração, advinda da Academia Bolchevique de Ciências da Agricultura de Lênin, de que a genética mendeliana era uma forma de idealismo burguês. Com a introdução do Grande Plano Stalinista para a Transformação da Natureza, Lysenko voltou suas atenções para a silvicultura, tomando controle direto da Administração Principal para Florestamento para Proteção dos Campos. Ele elaborou um “método de agrupamento” para plantio de árvores, baseado na noção de que sementes de árvores plantadas em formações densas iriam coletivamente defender-se de outras espécies, reduzindo a quantidade de trabalho necessário para limpar as áreas de plantio. Entretanto, Lysenko sofreu a oposição de Sukachev a cada passo, que contrariou suas ordens no campo em várias ocasiões e reportou ao Ministério da Administração Florestal, em 1951 que 100 por cento das sementes de florestas plantadas na administração territorial de Ural usando o método de agrupamento de Lysenko haviam morrido.17
Após 1951, dois anos antes da morte de Stalin, e continuando até 1955, Sukachev, um pilar da botânica soviética – diretor do Instituto de Florestas da Academia de Ciências, chefe da Comissão dos Zapovedniki do Conselho da Academia e editor do Jornal de Botânica – corajosamente lançou uma guerra intelectual contra Lysenko. Em artigo após artigo, escritos e editados por ele para o Jornal de Botânica e o Boletim da Sociedade de Naturalistas de Moscou (o jornal da sociedade científica mais antiga e prestigiosa da Rússia), Sukachev, no que Weiner chamou de “uma batalha monumental contra Lysenko”, criticou duramente as teorias e métodos deste. Posteriormente, em 1965, Sukachev acusaria Lysenko de práticas fraudulentas. Jovens biólogos viam Sukachev como um herói e secretamente uniram-se à sua causa. Em 1955, Sukachev foi eleito presidente da Sociedade Moscovita de Naturalistas (MOIP, no original russo), uma posição que ocupou até sua morte em 1967. Este evento simbolizou um declínio dramático no poder de Lysenko e uma mudança na ecologia soviética (apesar de a remoção final de Lysenko como chefe do Instituto de Genética não ter acontecido até 1965, sob Brezhnev). Após a eleição de Sukachev para presidente da MOIP, uma campanha foi orquestrada para restabelecer os zapovedniki. Nesse momento o movimento conservacionista soviético começou a renascer das cinzas. As associações à VOOP cresceram para 136 mil em 1951, e até 1959 chegou a 910 mil. Os anos de 1960 viram um crescimento espetacular das brigadas estudantis conservacionistas encorajadas pela MOIP sob a direção de Sukachev.18
Nesse ínterim, a climatologia soviética havia avançado de forma extraordinária através do trabalho de figuras como E.K. Fedorov (Y.K. Fyodorov), famoso pelo seu trabalho no Ártico, e Mikhail Ivanovich Budyko, que se especializara inicialmente no campo de energia, focando nos intercâmbios entre energia e matéria no contexto global. O trabalho transformador de Budyko, Equilíbrio Térmico na Superfície Terrestre (Heat Balance of the Earth Surface), publicado em 1958, deu-lhe o prestigioso Prêmio Lênin. Nesse trabalho, ele desenvolveu um método para calcular os vários componentes do equilíbrio térmico do sistema terrestre inteiro. Isso foi crucial ao abrir caminho para a fundação da climatologia física como um campo. Nomeado, em 1954, diretor do Observatório Geofísico Principal de Leningrado, aos 34 anos, Budyko teve papel fundamental no delineamento dos múltiplos aspectos do “sistema ecológico global”. Seria premiado com o Blue Planet Prize em 1998 (o mesmo ano que David Brower nos Estados Unidos) por fundar a climatologia física, pelos avisos iniciais sobre a aceleração do aquecimento global, o desenvolvimento da teoria do inverno nuclear e o pioneirismo em ecologia global. Budyko construiu sua análise teórica e empírica a partir do conceito de biosfera de Vernadsky e considerou o trabalho sobre biogeocenose “essencial para o desenvolvimento de ideias modernas a respeito das interrelações entre organismos e o ambiente.” (Sukachev, a seu turno, utilizaria a análise de fluxo de energia de Budyko em seu próprio trabalho.)19
A Ecologia Soviética Terciária
Uma das tragédias da ecologia soviética é que a degradação causada pela URSS ao seu meio-ambiente piorou na primeira década após a morte de Stalin em 1953, com a suspensão do Grande Plano Stalinista para a Transformação da Natureza e a mais ávida exploração de recursos. Seis dias após a morte de Stalin, o Ministério da Administração Florestal foi extinto e a conservação florestal perdeu importância. (Entretanto, a existência do Grupo I de florestas protegidas de Stalin – aquelas sob o maior nível de proteção e preservação – foi definitivamente extinta somente após a era soviética, sob o governo de Vladimir Putin.)20
A URSS obteve altas taxas de crescimento sob forma de um desenvolvimento extensivo, utilizando cada vez mais mão de obra e recursos. Ao final da década de 1950, as fraquezas dessa abordagem e a necessidade de desenvolver formas mais intensivas de desenvolvimento que levassem em consideração os limites de seus recursos tornaram-se aparentes. Entretanto, a inércia dentro do sistema e o aceleramento da Guerra Fria impediram uma transição para um caminho mais racional de desenvolvimento econômico.21
O maior dano ocorreu durante os anos de Malenkov e Khrushchev. Como resultado parcial, houve recrudescimento do que seria um imenso movimento ambiental que crescia inicialmente fora da comunidade cientifica. O plano de “Terras Virgens” de Khrushchev, iniciado em 1954, tinha como objetivo o desmatamento de até 33 milhões de hectares da assim chamada “terra virgem” para a expansão da agricultura. Foram obtidos sucessos em um primeiro momento, mas esses foram seguidos por tempestades de areia. Ao final dos anos de 1950, a liderança soviética decidiu pela primeira vez interferir na ecologia do Lago Baikal, o mais antigo e profundo lago de água fresca do mundo. No início da década de 1960, o Conselho Soviético ordenou a transposição dos dois principais rios que alimentavam o Mar de Aral., o Amu Darya e o Syr Darya, para promover a irrigação para fazendas de algodão na Eurásia soviética. Consequentemente, o Mar de Aral encolheu a um décimo de seu tamanho original.22
Esses acontecimentos encontraram forte resposta de cientistas e conservacionistas. Em 1964, Sukachev, como líder da MOIP, mandou uma carta a geógrafos soviéticos para convencê-los a lutar para salvar o Lago Baikal. Dois anos depois, ele foi um dos cientistas que assinaram uma carta coletiva à imprensa exigindo a proteção do Lago Baikal. Baikal tornou-se um símbolo de destruição ecológica, levando ao crescimento extraordinário do movimento ambientalista soviético. Em 1981, o número de membros da VOOP havia chegado a 32 milhões, e em 1985 a 35 milhões, constituindo a maior organização de proteção ambiental do mundo. Dos anos de Brezhnev aos de Gorbachev, a liderança soviética introduziu cada vez mais medidas ambientalistas.23
Fedorov, um dos principais climatologistas, tornou-se membro do Conselho do Soviete Supremo da URSS e encabeçou o Instituto de Geofísica Aplicada do Comitê de Hidrometeorologia e Controle do Ambiente Natural do Estado da URSS. No início da década de 1960, as visões de Fedorov a respeito do meio ambiente poderiam ser descritas como pertencentes ao paradigma da imunidade humana (apesar de ele ter abordado, em 1962, o problema crítico do aumento do nível do mar com o derretimento da camada de gelo na Groenlândia). Mas uma década depois, ele havia claramente mudado sua posição ecológica. Seu trabalho de 1972, O Homem e a Natureza (Man and Nature), apresentava uma perspectiva ambientalista marxiana explicitamente ligada à de Barry Commoner no Ocidente. Como a maioria dos ecologistas soviéticos da época, Fedorov aceitou alguns aspectos do argumento dos Limites do Crescimento (Limits to Growth) do Clube de Roma, de 1972, que focava nos limites dos recursos naturais para o crescimento econômico. Mas ele insistia em uma abordagem que levasse mais em conta os fatores sociais e históricos. Além disso, ele argumentava que os autores de Limites do Crescimento haviam errado ao desconsiderar o desafio crucial representado pela mudança climática. Os argumentos de Fedorov se apoiavam diretamente na teoria de Marx sobre o metabolismo socioecológico: “Os autores da teoria materialista do desenvolvimento social,” ele escreveu, “consideravam a interação (metabolismo) entre pessoas e a natureza como um elemento essencial na vida e atividade humanas e mostraram que uma organização socialista da sociedade teria todas as condições para assegurar formas ideais para tal interação.” No que diz respeito ao clima, ele apontou para as primeiras discussões de Marx e Engels sobre a mudança climática antropogênica em base regional (a ameaça da desertificação) em relação aos trabalhos de Karl Fraas. Fedorov representou a URSS na Primeira Conferência Mundial sobre Clima, em Genebra em 1979, onde salientou a necessidade urgente de ação, declarando que “as mudanças climáticas futuras são inevitáveis. Elas provavelmente se tornarão irreversíveis nas próximas décadas” – se um plano internacional não fosse levado a cabo.24
No entanto, as revoluções em climatologia e ecologia global na União Soviética se originaram principalmente no trabalho de Budyko, que foi reconhecido como líder mundial no estudo do equilíbrio climático da terra. Ele também foi o principal analista mundial do efeito do gelo polar sobre o clima, e foi a primeiro a delinear o efeito da superfície polar como feedback do mecanismo de aquecimento global. Budyko foi a primeiro a demonstrar a perigosa aceleração na temperatura média global resultante de tais feedbacks positivos. Tornou-se pioneiro nos estudos de mudanças paleoclimáticas na história do planeta e no desenvolvimento da “ecologia global” como um campo distinto, baseado na análise dialética da biosfera, nas tradições de Vernadsky e Sukachev. Budyko promoveu uma teoria de “épocas críticas” na história da Terra, que foram caracterizadas como “crises ecológicas” e “catástrofes globais”, e estendeu essa análise à crescente ameaça de uma “crise ecológica antropogênica.”25
Em 1961, Fedorov e Budyko convocaram a Conferência Bolchevique sobre o Problema da Modificação Climática pelo Homem, em Leningrado, para abordar o problema emergente da mudança climática – a primeira conferência do tipo no mundo. No mesmo ano, Budyko apresentou seu trabalho “A Teoria do Equilíbrio Térmico e a Água na Superfície Terrestre” no Terceiro Congresso da Sociedade Geográfica da URSS, no qual ele chegou à famosa conclusão de que a mudança climática antropogênica era agora inevitável, mantendo-se a economia da mesma forma, e que a necessidade energética humana tinha de ser abordada. Em 1962, ele publicou seu artigo de referência “Mudança Climática e os Meios para Sua Transformação” (“Climate Change and the Means of Its Transformation”) no Boletim da Academia de Ciências da URSS, no qual essa conclusão foi ainda mais elaborada, juntamente com a observação de que a destruição das placas de gelo poderia gerar “uma mudança significativa no regime de circulação atmosférica.” Em 1963, Budyko compilara um atlas do sistema de equilíbrio térmico mundial. “Os modelos de equilíbrio de energia de Budyko” logo se tornaram a base para todos os modelos climatológicos complexos. Em 1966, ele publicou (em conjunto com colegas) um artigo sobre “O Impacto da Atividade Econômica sobre o Clima,” (“The Impact of Economic Activity on the Climate”) descrevendo a história da mudança climática antropogênica. Nele, ele indicou que os seres humanos – através de ações como desmatamento, drenagem de pântanos e construção de cidades – há muito afetavam “o microclima, ou seja, mudanças locais no regime meteorológico da camada de superfície da atmosfera.” A novidade, entretanto, era que a mudança climática antropogênica estava agora ocorrendo em territórios mais amplos e também globalmente.
Entretanto, seria a descoberta do feedback do albedo de gelo e seu efeito dinâmico sobre o aquecimento global que mudaria tudo. Budyko havia apresentado sua análise inicial sobre o assunto em 1962, no artigo “Gelo Polar e Clima’’ (“Polar Ice and Climate”). Mas a extensão com que o clima global, e não somente o clima ártico, seria afetado ainda não estava clara. Foi em seu artigo de 1969, “O Efeito da Variação da Radiação Solar sobre o Clima na Terra” (‘The Effect of Solar Radiation Variation on the Climate of the Earth’), que ele avaliou de forma completa o mecanismo de feedback do albedo do gelo do mar polar e sua relação com a mudança climática. As observações foram surpreendentes. Resultados similares sobre a sensibilidade climática, apontando para uma mudança climática global catastrófica, foram apresentados no mesmo ano por William Sellers na Universidade do Arizona. Daquele ponto em diante, a mudança climática deixou de ser uma preocupação secundária para se tornar um problema global cada vez mais urgente. Enquanto isso, as explorações de Budyko sobre os efeitos dos aerossóis levaram-no a introduzir a possibilidade de usar aviões para espalhar aerossóis (partículas de enxofre) na estratosfera como uma contramedida de geoengenharia para aplacar a mudança climática, dada sua crença de que as economias capitalistas, em especial, não poderiam conter seu próprio crescimento, uso de energia ou emissões. Todas essa conclusões foram reunidas no seu livro de 1972, Clima e Vida (Climate and Life). Apesar de o aquecimento global antropogênico ter sido descrito primeiramente por Guy Stewart Callendar nos primórdios de 1938, a descoberta de efeitos significativos de feedback e a maior sensibilidade ao clima desta vez trazia à baila uma potencial crise ecológica global descontrolada nas próximas décadas.26
Para os climatologistas soviéticos, como Fedorov (delegado soviético para as conferências de Pugwach que também servira como Vice-Presidente do Conselho Mundial da Paz) e Budyko, a questão da paz estava interrelacionada ao ambiente.27 Foram os climatologistas soviéticos, baseados principalmente nos trabalhos de Budyko e de G.S. Golitsyn, que primeiro desenvolveram a teoria do inverno nuclear no caso de um conflito nuclear de larga escala – onde mais de cem bombardeiros colossais lançados por armas nucleares iram aumentar a quantidade de aerossóis na atmosfera, carregando-a a ponto de baixar as temperaturas globais em vários graus ou possivelmente várias dezenas de graus, assim levando à destruição da biosfera e da extinção humana. A base dessas análises havia sido desenvolvida pelos soviéticos uma década antes de seus pares em outros países. Teria um grande papel na criação do movimento antinuclear e na consequente desistência de um holocausto nuclear iminente nos estágios finais da (primeira) Guerra Fria.28
O enorme alcance e completude das contribuições ecológicas de Budyko ficaram especialmente evidentes em seus últimos trabalhos, em que procurou definir a “ecologia global” como um campo distinto. Ele cumpriu o papel fundador no desenvolvimento de análises paleoclimáticas, examinando a história das “catástrofes globais” na história terrestre, associada às alterações do clima – fazendo uso disso para desenvolver ainda mais insights sobre a significância da mudança climática antropogênica. Ao descrever a ecologia global como uma área de análise distinta, ele enfatizou que a pesquisa ecológica anterior havia se direcionado majoritariamente às condições locais, ou no máximo a “um amálgama de mudanças locais.” A ecologia global, por outro lado, era uma área da ecologia preocupada com a operação da biosfera como um todo, e tinha surgido como resultado de um aumento abrupto da capacidade humana de alterar os sistemas oceânicos e atmosféricos. Nesses termos, novamente a ênfase era na interação dialética entre organismos e o meio ambiente. Budyko salientou a observação crucial de Oparin (associada à teoria da origem da vida) de que organismos tinham gerado a atmosfera como a conhecemos, extrapolando-a para considerar o papel humano no que diz respeito à atmosfera. Em suas muitas análises da evolução do Homo sapiens, Budyko invariavelmente voltava à exploração de Engels de “O Papel Desempenhado pelo Trabalho na Transformação do Símio em Homem” (“The Part Played by Labour in the Transformation from Ape to Man”), no que é hoje conhecido como “coevolução gene-cultura.” Similarmente, Ecologia Global (Global Ecology) de Budyko citou o comentário de Marx em uma carta a Engels sobre as tendências de desertificação da civilização. Toda a análise ecológica, como indicou Budyko, era moldada pelo metabolismo, o processo de troca material entre a vida e o ambiente.29
Alguns dos primeiros trabalhos de Budyko sobre equilíbrio climático tinham sido realizados com os proeminentes geógrafos soviéticos A.A. Grigoriev e Innokenti P. Gerasimov. O objetivo era uma ciência dialética integral capaz de abordar a evolução da biosfera. Budyko e Gerasimov postularam que era a mudança paleoclimática que havia criado as condições dinâmicas há milhares de anos na África para a evolução dos primeiros hominídeos, incluindo os australopithecinos e o gênero Homo. Em Geoografia e Ecologia (Geography and Ecology), uma coleção de seus ensaios dos anos de 1970, Gerasimov elaborou uma fusão teórica elegante da noção de paisagem geográfica com a biogeocenose de Sukachev.
Não menos importante foi a análise de Budyko sobre os aspectos sociais do que ele considerava como a abordagem à “crise ecológica global,” em que ele enfatizou as dificuldades postas pelo sistema de acumulação de capital. Toda a expansão econômica estava limitada ao fato de que “a estabilidade do sistema ecológico global não é muito grande.” Não havia solução para esse dilema exceto pela planificação econômica e ecológica, a saber, uma “economia socialista planificada” que teria como objetivo a realização da “noosfera” de Vernadsky, ou um ambiente governado pela razão.30
Cruzando as barreiras intelectuais representadas pelas “duas culturas” de C.P. Snow, Budyko conectou suas análises às ideias de filósofos sociais e ambientalistas soviéticos, especificamente às de Ivan T. Frolov, o dinâmico editor-chefe, de 1968 a 1977, do principal jornal filosófico da URSS, o Problemas da Filosofia (Voprosy filosofi). Foi em larga proporção devido aos esforços de Frolov que a filosofia social soviética nas décadas de 1970 e 1980 começou a reviver, baseada na consciente reintegração de valores ecológicos e humanistas ao materialismo dialético. Nessa nova análise, a inspiração foi tirada do profundo humanismo e naturalismo de Marx em Manuscritos Econômicos e Filosóficos (Economic and Philosophical Manuscripts ) e em Grundriss, assim como sua posterior crítica ecológica em O Capital. Esse marxismo ecológico emergente driblou deliberadamente a Escola de Frankfurt no Ocidente, com sua ênfase menos materialista e suas suspeitas sobre a ciência – ainda que aceitando a análise de Antonio Gramsci. Frolov e outros clamaram pelo desenvolvimento de uma “unidade dialética integral” sob bases ecológicas materialistas. A ciência filosófica e social resultante estava enraizada em toda a tradição soviética de ecologia cientifica de Vernadsky a Sukachev e a Budyko.31
O trabalho de Frolov Problemas Globais e o Futuro da Humanidade (Global Problems and the Future of Mankind), publicado em 1982, representou uma importante primeira tentativa para a criação de uma nova ética do humanismo ecológico global. Além disso, um segundo trabalho publicado no mesmo ano, Homem, Ciência, Humanismo: Uma Nova Síntese (Man, Science, Humanism: A New Synthesis), deu um passo adiante ao desenvolver esse novo humanismo-naturalismo dialético. Apesar de a visão de Frolov mostrar traços de tecnologismo (especialmente em sua abordagem sobre a produção de alimentos), a perspectiva geral era profundamente humanista em sua análise e valores. A relação humana com a natureza, ele indicou, citando os Manuscritos Econômicos e Filosóficos de Marx, precisava ser guiada não apenas pelas leis da produção sustentável, mas pelas “leis da beleza”. Ele argumentou nesses anos que se fazia necessário “distanciar-se da ilusão do antropocentrismo e rejeitar a relação tradicional hegemônica com a natureza.”32
Mas talvez o mais impressionante produto desse renascimento do pensamento ecológico critico soviético tenha sido a coleção de 1983, Filosofia e os Problemas Ecológicos da Civilização (Philosophy and the Ecological Problems of Civilisation), editado por A.D. Ursul.33 Esse volume foi notável ao unir filósofos ecologistas, como Frolov, com sumidades no campo naturalista-científico, tais como Fedorov e Gerasimov. O entendimento do pensamento ecológico de Marx e Engels ali demonstrado – ainda que tratado de forma um tanto fragmentada – era profundo. Como Gerasimov explicou, “Marx caracterizou o trabalho como o processo pelo qual o homem ‘inicia, regula e controla as reações materiais (metabolismo) entre si e a natureza’… A interação do homem com a natureza precisa ser subordinada aos princípios dos processos metabólicos.” Da mesma forma, Frolov, ao criticar as depredações ecológicas históricas específicas do capitalismo, escreveu: ”O perigo de uma crise ecológica se tornou real não só pelo uso de mecanismos e ferramentas tecnológicos no ‘metabolismo’ do homem e da natureza em si… mas primariamente porque o desenvolvimento industrial é conseguido com base em arranjos socioeconômicos, espirituais e práticos do modo capitalista de produção.” Era essencial, afirmava o autor, que a sociedade enfatizasse o ecodesenvolvimento ou o “desenvolvimento ecologicamente justificado,” levando em consideração “o objetivo dialético e as contradições internas da interação da sociedade com a natureza.”34
Um aspecto fundamental da postura de Frolov era seu argumento de que, embora as lutas para a criação de um pensamento mundial mais ecológico corressem o risco de caírem em utopia, já que elas saíam à frente do desenvolvimento das forças materiais-sociais, a seriedade da ameaça ecológica global ainda assim demandava um “realismo racional” que era utópico – por si só.35
Os diversos ensaios em Filosofia e os Problemas Ecológicos da Civilização, mostravam os sinais característicos da fé soviética no progresso e na tecnologia e na superação de limites ecológicos. Porém os “problemas ecológicos da civilização” eram ainda assim apresentados com considerável profundidade e sofisticação – especialmente quando pensadores científicos mais radicais contribuíam. Para Fedorov, que argumentava de um ponto de vista climatológico, o desafio era que a “escala da atividade social” agora tornava “necessário considerar as quantidades de todos os elementos do nosso planeta“ e o “impacto antropogênico” sobre eles. Ele ilustrou esse aspecto se referindo ao aquecimento global, citando o trabalho de Budyko. Comentando a “produção da biogeocenese florestal”, o filósofo N. M. Mamedov enfatizou a necessidade de uma ecologia restauradora que restabeleceria a integridade dos ecossistemas. Ursul mencionou que Vernadsky há muito ensinara que a humanidade estava se transformando em uma força geológica, e salientou que “a extensão da escala do problema ecológico de regional a global, e mesmo cósmico” representava um novo desafio para a sociedade e de fato uma nova época geológica.”36
A análise ecológica soviética terciária estava bem à frente da maior parte do socialismo ecológico ocidental em entender a nova dinâmica planetária, associada à mudança climática em particular, e na construção de uma ecologia global distinta. Certamente, ao focar suas críticas no problema ecológico global e no capitalismo, os pensadores soviéticos frequentemente evitavam os problemas ecológicos na própria URSS. Mesmo assim, Frolov ganhara reputação no final da década de 1960, através de uma enorme análise critica de toda a história desoladora do período de Lysenko, na qual ele abertamente contestava a idéia de “ciência partidária”. Geografia e Ecologia de Gerasimov confrontou direta e notavelmente (em um ensaio escrito em 1977) os maiores problemas ecológicos soviéticos. Assim, ele explicitamente, ainda que de forma esquemática, salientou no contexto soviético: (1) a história da destruição do Mar de Aral, (2) a controversa transposição de rios, (3) as causas da desertificação, (4) a imperativa necessidade de proteção do Lago Baikal, (5) a necessidade de restaurar as florestas boreais, (6) as formas destrutivas de extração madeireira, (7) as práticas irracionais e não-científicas de mineração, (8) o controle da poluição atmosférica nas cidades, (9) a remoção do lixo industrial de áreas urbanas, e (10) as ações para manejar novas formas de lixo tóxico e radiativo. O que se fazia necessário, insistiu ele, era uma “ecologização da ciência moderna.” Como o célebre geógrafo soviético, Gersimov deu um grande passo ao afirmar que a ecologia (não a economia) deveria se tomar o foco da geografia enquanto campo científico.37
Os economistas soviéticos estavam engajados em um debate ferrenho sobre a relação correta entre os cálculos de crescimento econômico e o bem-estar social. P.G. Oldak teve papel preponderante nas décadas de 1970 e 1980, ao defender a substituição dos cálculos padrão sobre crescimento econômico por uma nova abordagem focada no “crescimento social bruto” como base para decisões socioeconômicas. Lênin, Oldak ressaltou, deixara claro que o objetivo do socialismo deveria ser o desenvolvimento livre de cada membro da população o mais amplamente possível (isto é, não somente de forma economicista ou mecanicista), considerando fatores qualitativos. Com esse ponto como justificativa, Oldak propôs uma nova contabilização que incorporaria nos critérios principais de planejamento não somente riqueza material acumulada, mas também os serviços, o setor de conhecimento, a condição dos recursos naturais e a saúde da população, Dado o “excesso de peso antropogênico sobre os sistemas naturais e seu potencial regenerativo,” poderia ser até racional, sugeriu ele, escolher diminuir a produção como um todo por um período para executarmos a transição para “um novo [e mais sustentável] nível de produção.”38
Em 1986–1987, Frolov se tornou editor-chefe do Kommunist, o braço teórico do Partido Comunista; de 1987-1989 (após Chernobyl) ele foi um dos principais conselheiros de Gorbachev; e em 1989-1991, foi editor chefe do Pravda. Frolov foi responsável por muito do enfoque ecológico que Gorbachev deu em seus pronunciamentos públicos, que foram acompanhados pela aceleração de medidas de reforma ambiental.
Entretanto, o maior câmbio nas relações de poder no estado soviético e a desestabilização da sociedade, que Gorbachev introduzira com a glasnost e a perestroika, levaram a um aprofundamento das contradições políticas e econômicas soviéticas, ao rápido desmantelamento de sua hegemonia no Leste Europeu, a divisões nos escalões superiores da nomenklatura soviética e à dissolução de todo o sistema de poder – levando ao fim da URSS em 1991.
A Ecologia Soviética no Século XXI
O seguinte argumento lida com uma realidade histórica complexa, não capturada pela descrição hegemônica do curso da histórica ambiental soviética, a partir de meados da década de 1930, como uma história contínua de extrema degradação ecológica, e até ecocídio. A partir de uma perspectiva ecológica, a URSS pode ser vista como uma sociedade que gerou algumas das piores catástrofes na história e que também deu à luz algumas das mais profundas ideias e práticas ecológicas, baseadas em fundamentos intelectuais materialistas, dialéticos e socialistas. Caracterizada pelo crescimento do controle burocrático repressivo e o surgimento de novas relações de classe, a URSS, ao final da década de 1930, havia deixado de ser significativamente socialista, no sentido de mover-se na direção de uma sociedade governada por produtores associados, e ao contrário, ser descrita mais acuradamente como uma sociedade pós-revolucionária de um tipo distinto, nem capitalista, nem socialista.39 Porém, a existência de uma economia planificada e de uma grande quantidade de meios de produção socializados, mais os legados intelectuais da teoria marxiana em termos de pensamento socialista, materialista e dialético, ainda seguiam profundos. Não importa quão distorcido o desenvolvimento da União Soviética tenha se tornado com relação aos seus objetivos iniciais socialistas, houve a promoção de formas de socialização alternativas. Os expurgos de pensadores ecológicos e as muitas depredações ambientais no período stanilista, ou secundário, deram espaço, ao final, a enormes avanços no desenvolvimento de uma ecologia global distinta – em uma espécie de negação da negação. Foi na União Soviética, baseada nas teorias sobre biosfera e biogeocenose, que a análise da acelerada mudança climática começou, e foi de Moscou e Leningrado, não de Washington ou Nova Iorque, que os primeiros alertas sobre o aceleramento no aquecimento global e sobre a teoria do inverno nuclear vieram.
O marco da mudança histórica do ressurgimento do ambientalismo soviético ocorreu no início da década de 1950 com a luta de Sukachev contra Lysenko, o crescente papel da Sociedade Naturalista de Moscou, o levante das brigadas estudantis conservacionistas e o consequente surgimento da VOOP como a maior organização ambientalista no mundo. Na década de 1960, começando com Brezhnev, importantes leis ambientais foram aprovadas, mas a implementação foi em geral pouco eficaz devido a conflitos com gerentes de fábricas, barreiras econômicas de classe, falha em propagar a informação (remanescente da época dos segredos de estado) e o desenvolvimento ainda embrionário do movimento ambientalista. A avaliação notável e equilibrada de Joan DeBardeleben em “A Nova Política da URSS” (“The New Politics in the USSR”) afirma que, a despeito de iniciativas ambientais importantes, “as forças em prol do desenvolvimento geral eram consideravelmente mais fortes que as forças em prol do ambiente no período de Brezhnev.” Ainda assim, o progresso ambiental pôde ser notado. Desta forma, o número dos zapovedniki em 1983 havia sido gradualmente expandido para 143, acima dos 128 existentes em 1951, antes de a maioria ter sido liquidada por Stalin (e muito acima dos trinta e três estabelecidos originalmente por Lênin).40
Na era de Gorbachev, começando em 1985, tudo mudou. O que se seguiu foi caracterizado por Laurent Coumel e Marc Elie na Revisão Soviética e Pós-Soviética (The Soviet and Post-Soviet Review ) como “uma revolução ecológica trágica” – a tragédia sendo principalmente o fato de que o fim da União Soviética a encurtou, levando a um declínio dramático tanto no movimento ambientalista quanto na resposta do estado aos problemas ecológicos nos anos pós-soviéticos, quando o capitalismo reassumiu o controle.41
Após Chernobyl em 1986, o movimento ambientalista soviético ficou mais poderoso. Somando-se à VOOP, cerca de 300 grandes organizações ambientalistas operavam por toda a URSS. “De 1987 a 1990, em toda a URSS, fábricas foram fechadas, projetos planejados foram realocados ou reaparelhados para um tipo menos poluidor de método de produção, ou foram simplesmente cancelados. Os eventos mais gritantes foram a cessação do trabalho nas transposições planejadas de rios, no cancelamento do canal de Volga-Chograi, no fechamento de companhias bioquímicas, e nos planos de conversão da Indústria Papeleira de Baikalsk em moveleira.” A pressão do movimento ambientalista resultou no fechamento de mais de mil empresas nesses anos.42
Os resultados dramáticos também foram demonstrados ao serem relacionados às emissões de dióxido de carbono. Já na década de 1960, o país havia começado a adotar o gás natural, em detrimento do carvão, como sua principal fonte de energia. Em 1988, os níveis das emissões de carbono tiveram seu pico. Mas despencaram dois anos depois, devido à drástica mudança de carvão para gás natural.43
Tecendo um paralelo falso de que uma ecologia crítico-científica soviética era inexistente, o historiador estadunidense Paul Josephson observou em 2010 que “não havia paralelos soviéticos à Primavera Silenciosa (Silent Spring) de Rachel Carson ou aos Limites do Crescimento do Clube de Roma.”44 Entretanto, a ecologia soviética de fato gerou trabalhos como Fundamentos da Biogeocenologia de Sukachev, Homem e Natureza de Federov, Clima e Vida, Ecologia Global e A Evolução da Biosfera de Budyko e Homem, Ciência e Humanismo de Frolov (como o trabalho posterior de Carson, estes foram todos influenciados por A Biosfera de Vernadsky e a teoria das origens da vida de Oparin).45 Essas contribuições avançaram o pensamento e a ciência ecológicos de forma impactante, e apontaram para a necessidade de uma rápida reestruturação ecológica da sociedade humana em todo o planeta. No século XXI, o reconhecimento das realizações positivas da ecologia soviética é com certeza crucial se quisermos criar a Grande Transição tão pedida por ambientalistas mundialmente.
A ecologia soviética terciária, ademais, deixou um legado de planificação econômica (e, no final, sinais de um planejamento ecológico emergente) que, apesar de suas fraquezas e digressões, representou em muitos aspectos uma realização humana massiva, com a qual precisamos aprender hoje, se quisermos encontrar uma maneira de regular a relação do metabolismo humano com a natureza e superar a presente crise ecológica global. Iniciou um processo de transição ecológica, que se realizado a termo, poderia ter efeitos positivos imensuráveis.
Ao escrever “Socialismo e Ecologia” (“Socialism and Ecology”), em 1989, Paul Sweezy defendeu que, a não ser que um “sistema de planificação” representado por tais sociedades pudesse de alguma forma ser preservado “e adaptado para suprir as necessidades da nova situação”, e a não ser que, diferentemente do capitalismo, o potencial das assim chamadas reais sociedades socialistas existentes de operar em outras bases que não a busca por riqueza econômica fosse de alguma forma aproveitado, poderia simplesmente ser “muito tarde para a civilização humana restaurar as condições necessárias para sua própria sobrevivência.”46 Esse espectro nos assombra hoje mais do que nunca. A resposta aos nossos problemas atuais requer algum tipo de convergência com a noção de regulamentação planificada do meio ambiente de acordo com as necessidades humanas: a principal mensagem da ecologia soviética em sua fase terciária.
Notas
- ↩Murray Feshbach and Alfred Friendly Jr., Ecocide in the USSR (New York: Basic Books, 1992); D.J. Peterson, Troubled Lands: The Legacy of Soviet Environmental Destruction (Boulder: Westview Press, 1993); Stephen Brain, Song of the Forest: Russian Forestry and Stalinist Environmentalism, 1905–1953 (Pittsburgh: University of Pittsburgh Press, 2011), 2–3; Joan DeBardeleben, The Environment and Marxism-Leninism (Boulder: Westview Press, 1985); John Bellamy Foster, The Vulnerable Planet (New York: Monthly Review Press, 1994), 96–101. O uso do termo ecocídio para descrever as condições soviéticas foi muito salientado pelo uso internacionalmente conhecido do termo para criticar os Estados Unidos, no início da década de 1970, pela utilização de substâncias como o agente laranja na Guerra do Vietnã.
- ↩Brain, Song of the Forest, 116; Laurent Coumel and Marc Elie, “A Belated and Tragic Ecological Revolution: Nature, Disasters, and Green Activists in the Soviet Union and Post-Soviet States, 1960s–2010s,” The Soviet and Post-Soviet Review 40 (2013): 157–65.
- ↩Douglas R. Weiner, “Changing Face of Soviet Conservation,” in Donald Worster, ed., The Ends of the Earth (Cambridge: Cambridge University Press, 1988), 258; Peterson, Troubled Lands, 42–44. See also Philip R. Pryde, “The ‘Decade of the Environment’ in the USSR,” Science 220 (April 15, 1983): 274–79.
- ↩M.I. Budyko, G.S. Golitsyn, and V.A. Izrael, Global Climatic Catastrophes (New York: Springer-Verlag, 1988), v–vi, 39–46; Vladimir I. Vernadsky, The Biosphere (New York: Springer-Verlang, 1998).
- ↩Douglas R. Weiner, Models of Nature (Bloomington: Indiana University Press, 1988), 23; “The Changing Face of Soviet Conservation,” 252–56.
- ↩See John Bellamy Foster, Marx’s Ecology (New York: Monthly Review Press, 2000), 121, 240–44; Roy Medvedev, Let History Judge: The Origins and Consequences of Stalinism (New York: Columbia University Press, 1989), 441; Peter Pringle, The Murder of Nikolai Vavilov (New York: Simon and Schuster, 2008), 310; Léon Rosenfeld, Physics, Philosophy, and Politics in the Twentieth Century (Hackensack, NJ: World Scientific Publishing, 2012), 143; Frank Benjamin Golley, A History of the Ecosystem Concept (New Haven: Yale University Press, 1993), 171–73; Kunai Chattopadhyay, “The Rise and Fall of Environmentalism in the Early Soviet Union,” Climate and Capitalism, November 3, 2014, http://climateandcapitalism.com. Muitos dos conceitos usados por Lysenko (e por seus seguidores no geral) eram muito racionais, e até anteciparam avanços científicos em alguns casos. Consequentemente, Lysenko teve o apoio inicial de Vavilov, que o ajudou a ganhar nome na academia. Entretanto, os métodos de pesquisa de Lysenko eram inferiores, se não enganosos, e suas afirmações a respeito dos resultados de sua própria pesquisa eram exagerados. A influência do lysenkoísmo se originava na necessidade urgente da URSS de desenvolver soluções para a agricultura, devido a suas dificuldades climáticas, que levaram a dar-se um maior crédito a suas idéias do que elas mereciam. E, ainda pior, Lysenko e seus associados se aproveitaram do apoio de Stalin para dar força a suas acusações e causar expurgos na comunidade científica, violando toda e qualquer ética científica. Sobre a ciência, consulte Richard Levins e Richard Lewontin, The Dialectical Biologist (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1985), 163–96. Note-se que as recentes descobertas científicas no campo da epigenética demonstraram que a herança de um número de características adquiridas é possível, como resultado de mudanças nas coberturas dos genes. Isso também sugere que algo da pesquisa lysenkoísta na URSS era raciona – ainda que os métodos e a ética não o fossem.
- ↩Weiner, Models of Nature, 179, 213–23; Golley, A History of the Ecosystem Concept, 172. De acordo com Weiner, “Sukachev havia indubitavelmente declarado que, sob nenhuma circunstância, dever-se-ia permitir a introdução de espécies exóticas de plantas ou animais nos zapovedniki, durante o Terceiro Congresso Bolchevique de Botânicos.” Weiner, Models of Nature?, 281; Loren R. Graham, What Have We Learned About Science and Technology from the Soviet Experience? (Stanford: Stanford University Press, 1998), 152. See also Douglas R. Weiner, A Little Corner of Freedom: Russian Nature Protection from Stalin to Gorbachev (Berkeley: University of California Press, 1999), 44–52; Kunal Chattopadhyay, “The Rise and Fall of Environmentalism in the Early Soviet Union,” Climate and Capitalism, November 3, 2014, http://climateandcapitalism.com.
- ↩Weiner, “The Changing Face of Soviet Conservation,” 255–56.
- ↩Sukachev usou primeiro o termo geocenose em 1941 e depois modifiou-o para biogeocenose em 1944. Há diferentes grafias no original em inglês, não adaptáveis para a grafia em língua portuguesa. V.N. Sukachev, “Forest Types and their Significance for Forestry,” in Institute of Forests, The Academy of Sciences of the USSR, ed., Questions of Forest Sciences (Moscow: Academy of Sciences of the USSR, 1954), 44–54; V. Sukachev and N. Dylis, Fundamentals of Forest Biogeocoenology (London: Oliver and Boyd, 1964), 9. Sukavev e Dylis, ao recontar a história do conceito de biogeocenose se referem brevemente ao papel de Stanchinskii, assim se afastando da prática comum aos círculos acadêmicos soviéticos de evitar mencionar as contribuições dos expurgados durante os anos 1930-40.
- ↩Sukachev and Dylis, Fundamentals of Forest Biogeocoenology, 6.
- ↩Sukachev and Dylis, Fundamentals of Forest Biogeocoenology, 26; I.P. Gerasimov, Geography and Ecology (Moscow: Progress Publishers, 1983), 64–65; Golley, A History of the Ecosystem Concept, 173–74. Golley afirma que, apesar do brilhantismo da tradição de Vernadsky e da análise sobre biogeocenose de Sukachev, os ecologistas soviéticos estavam tão enfraquecidos pelos expurgos e os efeitos do lysenkoísmo que acabaram “cuidando dos jardins locais” e tinham pouca relevância. É, desta forma, ainda mais irônico que os soviéticos com seus “jardins locais” tenham revolucionado a climatologia e sido pioneiros em desenvolver a ecologia global. Na verdade, foram os ”jardins locais”, e não o pensamento global, que os ecologistas na URSS foram desencorajados a desenvolver. Compare a visão de Golley sobre a significância do trabalho de Sukachev com a do geneticista molecular Valery N. Soyfe em Lysenko and the Tragedy of Soviet Science (Brunswick, NJ: Rutgers University Press, 1994), que afirma que Sukachev “foi o primeiro a formular objetivos e tarefas da nova disciplina que lidava com o complexo interrelacionado e interativo da natureza viva e inanimada – que se tornou desde então conhecida como ecologia do ecossistema”
- ↩V.I. Sukachev, “Relationship of Biogeocoenosis, Ecosystem, and Facies,” Soviet Soil Scientist 6 (1960): 580–81.
- ↩Sukachev, “Relationship of Biogeocoenois, Ecosystem, and Facies,” 582–83.
- ↩Brain, Song of the Forest, 139, “The Great Stalin Plan for the Transformation of Nature,” Environmental History 15 (October 2010): 670–700.
- ↩Brain, Song of the Forest, 1–2, 116–17, 139–40, 164–67; David Moon, The Plough that Broke the Steppes (Oxford: Oxford University Press, 2013), 292.
- ↩Weiner, “Changing Face of Soviet Conservation,” 257.
- ↩Brain, Song of the Forest, 157–59; David Moon, The Plough that Broke the Steppes (Oxford: Oxford University Press, 2013), 292–93.
- ↩Weiner, A Little Corner of Freedom, 205–7, 211–17, 250–52; Weiner, “Changing the Face of Soviet Conservation,” 255–56, 260–61; Loren R. Graham, Science and Philosophy in the Soviet Union (New York: Alfred A. Knopf, 1993), 239–40, 244; Laurent Coumel, “A Failed Environmental Turn?: Khruschev’s Thaw and Nature Protection in Soviet Russia,” The Soviet and Post–Soviet Review 40 (2013): 167–68, 170–71; Alexander Vucinich, Empire of Reason: The Academy of Science of the USSR, 1914–1970 (Berkeley: University of California Press, 1984), 253–54, 260–62, 337–38, 359, 398; Zhores Medvedev, Soviet Science (New York: W.W. Norton, 1978), 89. As criticas de Sukachev a Lysenko e seus associados demonstravam alto conhecimento das teorias marxianas e darwinianas. Ver V.N. Sukachev and N.D. Ivanov, “Toward Problems of the Mutual Relationships of Organisms and the Theory of Natural Selection,” The Current Digest of the Russian Press 7, no. 1 (February 16, 1955): 6–11.
- ↩M.I. Budyko, S. Lemeshko, and V.G. Yanuta, The Evolution of the Biosphere (Boston: D. Reidel Publishing Co., 1986), x; “Budyko, Michael I,” Encyclopedia of Global Warming and Climate Change, vol. 1 (Thousand Oaks, CA: Sage Publishing, 2008), 143–44; Spencer Weart, “Interview with M.I. Budkyko: Oral History Transcript,” March 25, 1990, http://aip.org; “Blue Planet Prize, The Laureates: Mikhail I. Budyko (1998),” http://af-info.or.jp/en; Sukachev and Dylis, Fundamentals of Forest Biogeocoenology, 615–16.
- ↩Brain, Song of the Forest, 170–71.
- ↩Harry Magdoff and Paul M. Sweezy, “Perestroika and the Future of Socialism—Part One,” Monthly Review 41, no. 11 (March 1990): 1–13; Harry Magdoff and Paul M. Sweezy, “Perestroika and the Future of Socialism—Part Two,” Monthly Review 41, no. 12 (April 1990): 1–17.
- ↩Douglas Weiner, “The Changing Face of Soviet Conservation,” 257, 264–68, A Little Corner of Freedom, 368–70; Philip Micklin, “The Aral Sea Disaster,” Annual Review of Earth Planet 35 (2007): 47–72.
- ↩Paul Josephson, “War on Nature as Part of the Cold War: The Strategic and Ideological Roots of Environmental Degradation in the Soviet Union,” in John Robert McNeil and Corinna R. . Unger, eds., Environmental Histories of the Cold War (New York: Cambridge University Press, 2010), 43; Joan DeBardeleben, “The New Politics in the USSR: The Case of the Environment,” in John Massey Stewart, ed., The Soviet Environment (Cambridge: Cambridge University Press, 1992), 64–68; Weiner, “The Changing Face of Soviet Conservation,” 258, 267; Coumel and Elie, “A Belated and Tragic Ecological Revolution.”
- ↩E.K. Federov, Man and Nature (Moscow: Progress Publishers, 1972), 6, 15–19, 57–58, 74–75, 145–47, 173, “Climate Change and Human Strategy,” Environment 21, no. 4 (1979): 25–31, “We Have only Begun to Mine Our Riches,” Saturday Review, February 17, 1962, 17–19; Budyko, et al., The Evolution of the Biosphere, 371; M.I. Budyko and Yu. A. Izrael, Anthropogenic Climate Change (Tucson: University of Arizona Press, 1987), xi–xii; Moon, The Plough that Broke the Steppes, 293; E.K. Fedorov and I.B. Novick, Society and Environment: A Soviet View (Moscow: Progress Publishers, 1977), 43–44; DeBardeleben, The Environment and Marxism-Leninism, 201; Barry Commoner, The Closing Circle (New York: Bantam, 1971).
- ↩M.I. Budyko, Global Ecology (Moscow: Progress Publishers, 1980), 7–14, 249; Budyko, et al., Evolution of the Biosphere, ix–x, 163–84, 262–85, 321–30. De forma jocosa, Douglas Weiner retratou Budyko como alguém que havia desistido do conservacionismo/ecologia pelo “universo teórico dos modelos matemáticos.” Dessa forma, não conseguiu compreender o caráter amplo e a importância do trabalho de Budyko. Weiner, A Little Corner of Freedom, 388.
- ↩Spencer Weart, “Interview with M.I. Budkyko”; Jonathan D. Oldfield, “Climate Modification and Climate Change Debates Among Soviet Physical Geographers, 1940s–1960s,” Advanced Physical Review 4 (November/December 2013): 513–21; Peter E. Lydoph, “Soviet Work and Writing in Climatology,” Soviet Geography 12, no. 10 (1971): 637–66; M.I. Budyko, O.A. Drozozdov, and M.I. Yudin, “The Impact of Economic Activity on Climate,” Soviet Geography 212 (1971): 666–79; I.P. Gerasimov, Geography and Ecology (Moscow: Progress Publishers, 1975), 64–76; Spencer R. Weart, “The Discovery of Global Warming (Bibliography),” http://aip.org, accessed April 12, 2015, The Discovery of Global Warming (Cambridge, MA: Harvard University Press, 2003), 85–88; M.I. Budyko, “The Effect of Solar Radiation on the Climate of the Earth,” 21, no. 5 (October 1969): 611-14, Climate and Life (New York: Academic Press, 1974), 493, Climatic Changes (Washington, DC: American Geophysical Union, 1977), 219–47, Global Ecology, 295–304, “Polar Ice and Climate,” in J.O. Fltecher, B. Keller, and S.M. Olenicoff, Soviet Data on the Arctic Heat Budget and Its Climatic Influence (Santa Monica, CA: Rand Corporation, 1966), 9–23; “Budyko, Michael I,” Encyclopedia of Global Warming and Climate Change, vol. 1, 143–44; Thayer Watkins Department of Economics, San Jose State University, “Mikhail I. Budyko’s Ice-Albedo Feedback Model,” http://sjsu.edu, accessed April 20, 2015; James Lawrence Powell, Four Revolutions in the Earth Sciences (New York: Columbia University Press, 2015), 258–64.
- ↩See Ye. K. Fyodorov (E.K. Fedorov) and R.A. Novikov, Disarmament and Environment (Moscow: Nauka, 1981).
- ↩Budyko, Golitsyn, and Izrael, Global Climatic Catastrophes, v–vi, 39–46; Budyko, Climatic Changes, 241; R.P. Turco and G.S. Golitsyn, “Global Effects of Nuclear War,” Environment 30, no. 5 (June 1988): 8–16.
- ↩Budyko, Global Ecology, 5–15, 185, 230, 248, 258, 310, Climatic Catastrophes, 26, 39, 220; Budyko, et al., The Evolution of the Biosphere, 303–7, 323–96. See also A.I. Oparin, Life: Its Nature, Origin, and Development (New York: Academic Press, 1962); M.I. Budyko, A.B. Ronov, and A.L. Yanshin, History of the Earth’s Atmosphere (New York: Springer-Verlag, 1987), 121–30; Karl Marx and Frederick Engels, Collected Works (New York: International Publishers, 1975), vol. 25, 452–64, vol. 42, 558–59. On Engels see Stephen Jay Gould, An Urchin in the Storm (New York: W.W. Norton, 1987), 111–12.
- ↩Budyko, Global Ecology, 14–15, 258, 303; Budyko, et al., Evolution of the Biosphere, xiii, 294, 329–30; Gerasimov, Geography and Ecology (Moscow: Progress Publishers, 1983), 53–76; Oldfield, “Climate Modification and Climate Change Debates,” 517–18.
- ↩C.P. Snow, The Two Cultures (Cambridge: Cambridge University Press, 1959); Ivan Frolov, Man, Science, Humanism: A New Synthesis (Buffalo, NY: Prometheus Books, 1990), 9, 38.
- ↩I. Frolov, Global Problems and the Future of Mankind (Moscow: Progress Publishers, 1982), Man, Science, Humanism, 19–21, 38, 103, 114–15; “I.T. Frolov,” in Stuart Brown, Diane Collinson, and Robert Wilkson, eds., Biographical Dictionary of Twentieth-Century Philosophers (London: Routledge, 2002), 257–58; Graham, Science and Philosophy in the Soviet Union, 254; Karl Marx, Early Writings (London: Penguin, 1974), 329. Weiner trata Frolov e outros filósofos e sociólogos ambientalistas do período de forma depreciativa, apesar de seus “engajamentos construtivos”, vendo-os como oportunistas engajados em “dupla missão: avanço na carreira e manutenção da aparência (não tanto para si mesmos) de um compromisso com um trabalho ‘limpo’.” Porém, o mesmo pode ser dito de muitos pensadores ocidentais. Atacar os analistas soviéticos dessa forma é ridicularizar o que era importante e a análise teórica engajada, baseada nas tradições de Marx e Vernadsky. O papel de Frolov em promover o ambientalismo sob o governo Gorbachev e seu Man, Science, Humanism: A New Synthesis, de 1982, não foram tão facilmente descartados. Ver Weiner, A Little Corner of Freedom, 399–401.
- ↩A.D. Ursul, ed., Philosophy and the Ecological Problems of Civilisation (Moscow: Progress Publishers, 1983). Arran Gare se referiu a esse livro, mas menciona apenas Ursul (dificilmente o mais importante pensador) dizendo que “alguns ideólogos soviéticos como Ursul tentaram usar a destruição ambiental no Ocidente como ferramenta de luta ideológica,” descartando as preocupações ecológicas verdadeiras. Estranhamente, uma passagem de uma nota de rodapé na qual Gare cita Ursul não é encontrada no livro. Arran Gare, “Soviet Environmentalism: The Path Not Taken,” in Ted Benton, ed., The Greening of Marxism (New York: Guilford, 1996), 111–12.
- ↩Ursul, ed., Philosophy and the Ecological Problems of Civilisation, 37–42, 212, 221, 387–88.
- ↩Ursul, ed., Philosophy and the Ecological Problems of Civilisation, 41.
- ↩Ursul, ed., Philosophy and the Ecological Problems of Civilisation, 79–97, 265–68, 369.
- ↩Gerasimov, Geography and Ecology, 26–36; Graham, Science and Philosophy in the Soviet Union, 253–56; DeBardeleben, The Environment and Marxism and Leninism, 115–16, 127–30, 135; Vucinich, Empire of Reason, 362.
- ↩DeBardeleben, The Environment and Marxism and Leninism, 108, 190, 214–15, 234; P.G. Oldak, “Balanced Natural Resource Utilization and Economic Growth,” Problems of Economic Transition 28, no. 3 (1985): 4. Vale a pena notar que a obra de Gerasimov do final dos anos 1970 citada aqui, na qual ele mencionou as várias crises e problemas na URSS, foi precedida, (no mesmo ensaio) de uma frase em branco que dizia que o estado e o partido na União Soviética, principalmente quando contrastados com as sociedades capitalistas, protegiam seus cidadãos de perigos ambientais. Pode-se inferir que ele sentia estar lidando com um assunto espinhoso.
- ↩Paul M. Sweezy, Post-Revolutionary Society (New York: Monthly Review Press, 1980).
- ↩Douglas R. Weiner, “A Little Reserve Raises Big Questions,” The Open Country no. 4 (Summer 2002): 9, A Little Corner of Freedom, 395; DeBardeleben, “The New Politics in the USSR,” 67.
- ↩Coumel and Elie, “A Belated and Tragic Ecological Revolution.”
- ↩DeBardeleben, “The New Politics in the USSR,” 67, 73, 78, 80–81, 85; Peterson, Troubled Lands, 197.
- ↩“CO2 Emissions from the USSR,” Carbon Dioxide Emissions Analysis Center, http://cdiac.ornl.gov, accessed April 15, 2015; U.S. Congress, Office of Technology Assessment, Change by Degree: Steps in Reducing Greenhouse Gases (Washington, DC: Government Printing Office, 1991), 295; Peterson, Troubled Lands, 49–50; UNCSTADstat, “Real GDP Growth Rates, Total and Per Capita, Annual, 1970–2013, USSR,” http://unctadstat.unctad.org. O fato de que o crescimento econômico continuou nesse anos (ver dados acima) nos leva a concluir que a diminuição nas emissões de carbono foi principalmente efeito da mudança para o gás natural.
- ↩Josephson, “War on Nature as Part of the Cold War,” 43.
- ↩See Rachel Carson, Lost Woods, 230–31; John Bellamy Foster, The Ecological Revolution (New York: Monthly Review Press, 2009), 78–79.
- ↩Paul M. Sweezy, “Socialism and Ecology,” Monthly Review 41, no. 4 (September 1989): 7–8.
[1] Nota de tradução – “First, intemediate and late/recent periods” foram as nomenclaturas usadas no original em inglês.
[2] Nota de tradução: o termo existe em português, e ainda que se use ecossistema de forma mais corrente, por questão de diferenciação conceitual e de autores, manteremos a grafia aproximada do original em inglês.
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