Quando a grande ficha cair

Por Henrique Suricatto

Li na última quinta, uma matéria bem extensa pros padrões do Valor Econômico, cujo título se chama “Brasileiros temem crise devastadora, segundo pesquisa”(1). A centralidade aponta pra uma percepção nos trabalhadores que a crise financeira que vai acontecer – já está acontecendo – pós pandemia do Covid-19 será pior que a paralisia das atividades econômicas provocadas pelas medidas sanitárias adotadas pelo estado por segurança sanitária necessária. Essa analise, vem ganhando corpo entre os economistas burgueses e mesmo entre o campo da Esquerda Classista(2).

Soma-se a isso a perda de apoio que Bolsonaro vem sofrendo nas últimas semanas, incluindo entre aqueles que os apoiava de primeira hora, como a Deputada Estadual Janaína Pascoal (PSL-SP)(3), uma das autoras do pedido de impeachment de Dilma Rouseff e o Governador Ronaldo Caiado (DEM-GO), visivelmente ofendido no seu pronunciamento anunciando o rompimento (4), se essas ofensas vão permanecer com o tempo, há de se duvidar, alianças e rompimentos são feitos quando se convêm no tabuleiro político brasileiro. Alem das desavenças que vem comprando com governadores dos estados e contrariando orientações de seu próprio ministro da saúde. Sobre essa conduta de Bolsonaro, é evidente que existe loucura no método, exposto tanto por Mauro Iasi(5) quanto por Pedro Marin(6). A necessidade de mobilizar sua base mais fiel e consolidada pra o defender dos ataques que vem sofrendo da imprensa diariamente – com razão – e dos panelaços cotidianos que as classes médias, socadas em suas casas, vendo o Jornal Nacional expor suas falhas vem puxando. É de se esperar que dentro do isolamento político, só lhe resta radicalizar sua fiel base, que o defende as custas da própria saúde e de terceiros. Disposta a contrariar o STF, o Congresso Nacional e A OMS, quando se orientava pra não ocorrer aglomerações a conter a transmissão. Serviu pra expor ao ridículo sua base.

Mas vamos aqui se deter sobre algumas premissas, pra analisar corretamente a conjuntura que subsidiou este artigo.

I

A análise da matéria do Valor Econômico, começa com uma exposição de dados da pesquisa encomendada pelo Instituto Travessia, onde se confirma a perda de apoio do presidente perante a população, 64% não confia na capacidade de governança do presidente frente a crise da pandemia viral. O que pra esquerda e pra alguns setores do centro já era notável, agora, esta percepção avança pra dentro do espectro da direita, e não somente pela crise sanitária em si, mas da negligencia que foi tratada pelo Bolsonaro, esperava no mínimo um bom senso. Pra fins de comparação, os governos estaduais gozam de 70% de confiança da população entrevistada e 54% diz acreditar que a epidemia terá conseqüências devastadoras sobre a economia. O mesmo ainda detém um apoio sólido de setores religiosos, de um núcleo de empresários, de alguns militares de alta patente, de alguns políticos e de uma horda de fanáticos que perpassa por todas as classes sociais – mas de composição majoritária nas classes médias arruinadas, protestantes neopentecostais e militares – mobilizadas pelo “gabinete de ódio” dirigido pelos seus filhos. Claro, não se pode subestimar este poder, a grande vantagem é de estar mais organizada e coesa que aqueles que se opõe a ele, pois a dita “oposição” que pode ser qualquer coisa que simplesmente se oponha esta ou aquela medida de Bolsonaro, se encontra desorganizada, fragilizada pra defender mesmo seus próprios interesses dentro da ordem burguesa.

Agora, alguns setores da burguesia vê as próprias medidas econômicas de P. Guedes serem colocadas a prova e o “Chicago Boy”, ainda tenta umas últimas cartadas desta doutrina, com a tentativa de implementar uma Medida Provisória que previa a suspensão dos contratos de trabalho e de pagamento de salários por 4 meses – revogada parcialmente pela pressão popular – e da redução da jornada de trabalho e de salários(7). Antes de se entregar parcialmente ao rival burguês de seus mestres Hayek e Friedmam*, em medida de auxilio aos informais, desempregados, baixa renda amparados pelo Bolsa Família e de micro e pequenos empresários a contra vontade, pressionado pelo legislativo e pela imprensa, eles parecem ter uma capacidade maior de prevê a convulsão social que brota no horizonte, procura desesperadamente municiar o estado e a burguesia pra estar melhor preparada pra essa batalha que se anuncia assim que a pandemia passar e a fatura ser cobrada.

Depois dos auxílios, dos créditos, das isenções tributárias, quando o bombardeio da pandemia estiver cessado e precisa desembarcar com a tropa pára-quedista da repressão ao redor do novo teatro de operações, encontrarão aquilo que desejam, desorganização e dispersão. Falado assim, imagina-se que nós, não desejávamos nenhum auxilio aos mais atingidos por esta crise, lógico que não. Exigimos que o estado auxiliaria em algo e fez, mas é insuficiente. O insuficiente pros economistas burgueses não é o mesmo insuficiente pros revolucionários. Vamos demonstrar.

Nesta conjuntura, já é admitida pelas economias centrais do mundo inteiro, de Merkel a Macron, de Trump a Abe, o estado de recessão global e de suas respectivas economias, nota se as medidas emergenciais de auxilio a empresas e a trabalhadores tomados por estes governos(8). A China de Xi Jinping, o epicentro inicial da pandemia, segunda economia do planeta e o “chão de fábrica” do mundo, terá uma diminuição drástica do crescimento até onde aponta o levantamento de dados atuais. A interrupção da cadeia produtiva chinesa pra conter o contágio do vírus, paralisa a produção, operários ficam parados, não são produzidas mercadorias, a demanda não é atendida e a produção global, refém de suas próprias contradições desencadeadas pela divisão internacional do trabalho, na falta de componentes, peças, mercadorias etc. vindos da China pra finalizar outras mercadorias é afetada e se vê mais obrigada a parar por estas circunstancias do que pelo desejo humanista de preservar a vida de seus trabalhadores, como podemos notar na insistência e na demagogia de empresários brasileiros que forçam a suspensão ou o abrandamento da quarentena e contam com vossa excelência como principal defensor (9). Antes de prosseguir, é valido dizer que esta crise financeira já estava desenhada, o balde já estava transbordando(10) e faltava a gota d’água necessária pra sua explosão, a queda do preço no petróleo com a quebra do acordo Rússia-OPEP, as tensões entre EUA e Irã pós assassinato de Soleimani e o impasse da guerra comercial China/EUA são alguns exemplos de fatores conjunturais que poderia somente neste ano ter arrebentado a crise.

Temos aqui duas constatações que se tornam um elemento explosivo na conjuntura política, de um lado, a derrocada de Bolsonaro, cada vez mais fraco de apoio, do empresariado, da imprensa, do legislativo e mesmo de alguns setores militares – o que aqui vale uma observação mais aprofundada de como as tropas estão se comportando (11) – e do outro lado uma crise que promete sem cerimônias ser mais forte que a de 2008/09 e que só vai encontrar paralelo em impacto na história com a Grande Depressão de 1929/33. O maior termômetro deste desespero foi a conversão automática de Liberais, defensores do livre mercado e de políticas de austeridade que não poupa ninguém, em Keynesianos apologistas da intervenção forte do estado e das políticas de distribuição de renda, dos pacotes de estímulos econômicos que atingem cifras extraordinárias aos olhos tanto dos leigos quantos dos familiarizados com a economia política. A Teoria Monetária Moderna, antes reservada a aspirantes ao Premio Nobel** é invocada como um feitiço simples de Gandalf. De repente, vemos no noticiário econômico, medidas como a distribuição de renda aos mais pobres, suspensão das taxas de juros a empréstimos de pessoas físicas, o adiamento do pagamento de dívidas, medidas que até ontem poderia – ou pode – ser um programa eleitoral de setores da esquerda ou seja, esquerdista na interpretação dos neoliberais ortodoxos. Demonstrando a contradição que era pra setores da esquerda que se afirmam revolucionários, mas na prática se propõe a gerenciara crise financeira (12) dentro dos limites do capitalismo, sendo o melhor governo possível pra tocar Keynes a risca. Quantas vezes vimos figuras públicas da esquerda se dirigir com estas reivindicações na mais alta convicção pra depois citar Marx ao vento?(13) Não aprenderam nada com o Syriza na Grécia em 2014/15!

Ou qualificando melhor a provocação, esses setores que apontam em suas resoluções e em seus programas a radicalização da democracia burguesa em tempos de crise como forma de “combater” o Fascismo, a Ultima Ratio*** pra tempos de crise como parte da burguesia pra impedir a emancipação do proletariado. Com políticas de combate a miséria geral, através de distribuição de renda (as custas da tributação) conseguem evitar em suas políticas um “derramamento de sangue”, traduzindo na prática com o apaziguamento das convulsões sociais, das insurreições, quando o proletariado é colocado em movimento ou quando silencia organizações revolucionárias e impedem que estas se tornam a sua vanguarda. Na verdade, o que conseguem fazer é apenas adiar o inevitável. O derramamento de sangue sempre vem, a questão pra nós aqui é simples, sangue de qual classe?

O pacote de Trump anunciado com o “socorro” de 2 trilhões de dólares, surpreende por ser maior que o Plano Marshall e superior a todo o PIB Brasileiro de 2019 (8ª). Há aqueles que acham que isso por si só salvará os mercados financeiros e a condição de miséria e pobreza que se anuncia pra milhões de proletários no mundo inteiro, inclusive nos EUA, onde na mesma semana do pacote, 3 milhões de trabalhadores deram entrada no seguro desemprego, 9 vezes superior a procura da semana passada(14). O que vai exigir posteriormente um aumento da tributação pra ter o retorno destes “investimentos” aos cofres públicos, como sempre ocorre quando uma medida destas é implantada na história e que deixa como opção a destruição das forças produtivas seja próprias ou de terceiros, um sinal claro desta sinalização foi a criminalização de Maduro, pelo DEA americano, como narcotraficante(15) e o deslocamento de tropas americanas da África e do Oriente Médio para o Sudeste Asiático(16) e os desdobramentos da guerra civil síria.

II

Os tempos prometem uma convulsão social, o desembarque pós bombardeio promete será mais violento que o vírus, as convulsões sociais estão a vista, os analistas burgueses já perceberam e nisso chama a atenção que estes analistas tentam a todo o custo caracteriza a esquerda em seus espectro geral e no seu sentido burguês da palavra como fragilizada (1ª), que apenas apostam na via eleitoral como forma de voltar ao poder. Se esta “esquerda” que vos falam tomam o nome de Partido dos Trabalhadores e toma como sua liderança Lula, sim está fragilizada.

Por um lado devemos notar que estes analistas burgueses querem vender o peixe de sua classe, legitimar no discurso que toda a esquerda se encontra perdida e fragilizada, que não representa um perigo real pras classes dominantes. Talvez convença até mesmo grupelhos de esquerda, que não inseridos na realidade concreta da classe e com nenhum trabalho de base relevante, faz crer nesta analise e esperam a espontaneidade pra voltarem a ativa e segurar seus militantes.

Por outro lado, os analistas apontam pra novas lideranças de centro-direita e de direita que podem despontar como futuros gestores do estado, verdadeiros estadistas que fariam qualquer cirista se emocionar com tamanho estadismo demonstrada pelas “fadas sensatas”. Dória e Witzel apresentam como esses indivíduos, que compartilham das mesmas idéias de Bolsonaro, mas se diferenciam deste por serem mais prudentes tanto em suas falas quanto em suas condutas, como muito bem as eleições de 2018 demonstrou a aliança sem cerimônias destes estadistas com o capitão que ocupa a alvorada. Rodrigo Maia se mostra o mais “neutro”, não por cumprir aquilo que a burguesia espera de um presidente da câmara, representante dos interesses gerais dos deputados – não da população como a democracia burguesa quer fazer crer – mas de ser um dos mais hábeis políticos do centrão (senão o mais hábil) que sabe defender os interesses gerais dos parlamentares parasitas, seja sobre a conciliação de classes de Lula/Dilma, seja sobre o ataque frontal a classe trabalhadora de Temer/Bolsonaro. O importante aqui é a manutenção dos interesses.

O resto da esquerda entram neste espectro da “esquerda morta” descrita pelos analistas?
Se for esta esquerda que pensa em 2022, que se dirige aos trabalhadores, a sem teto, ao funcionalismo público e as minorias que é necessário defender a democracia a qualquer custo quando pra eles a democracia de fato nunca existiu, onde o estado democrático de direito não passa de letra morta impressa na mofada constituição de 1988, esta mesma constituição, a que Florestan Fernandes jurou que os lutadores consequentes devem entender a constituição como uma ferramenta no avanço da consciência das massas(17) e que um dia precisa superá-la um dia e encontrou oposição dentro do próprio partido que ajudou a construir? Sim, ela está “morta” pois seu projeto é uma farsa, uma réplica daquele projeto que jogou gerações de lutadores a impotência e a ilusão, e que agora procura repeti-lo em uma conjuntura onde replicá-lo significa o esmagamento das vanguardas e dos trabalhadores. Não serve nem pra vingar os seus e aos nossos mortos!

Agora, sabendo que esta leitura é adequada a mídia burguesa, como forma de estigmatização e isolamento da esquerda revolucionária. Devemos demonstra a estes analistas, com a força inexorável das ruas revoltadas (quando a pandemia passar) e das janelas enfurecidas que há sim, alternativa revolucionária a crise. Grupos ali e aqui e indivíduos aqui e ali, lutadores próximos que lutam pela superação da sociedade capitalista e defendem a revolução tal como os comunistas a concebem, precisam superar sua dispersão e se organizarem coletivamente. Partidos políticos e movimentos sociais revolucionários, embora possuam grandes divergências entre si, tem como objetivo estratégico a tomada de poder pela via da revolução. É raro ver uma coluna destes jornais citarem organizações revolucionárias, quando citam, sempre com desdém e menosprezo, alem de uma bela dose de anticomunismo.

III

Para superar sua dispersão e confusão, os revolucionários devem sempre ter em mente que a revolução perpassa por um processo violento onde não deve dar espaço pra oportunismo, tirando o véu das aparências superficiais dos discursos das classes dominantes e expor aos trabalhadores, ao mesmo tempo, expor as vacilações das demais forças de ex-querda, que enganam os trabalhadores com projetos conciliadores que não vingam e os ilude. Continuar tolerando o oportunismo dentro de nosso campo, logo numa conjuntura de crise e futuras convulsões sociais, significa antecipar a nossa derrota. Não vamos mais perder uma geração inteira de lutadores.

Isso significa que o sectarismo está na ordem do dia? De maneira nenhuma!

A esquerda conciliadora, que prefiro chamar de petismo, pode estar morta pros revolucionários organizados, mas não está morta pra bases onde convivemos, onde estamos inseridos, não está morta pra massas de lutadores honestos inseridos em movimentos sociais, sindicatos, entidades estudantis e comunidades carentes e serão colocados em movimento nas futuras convulsões sociais que se desenham no horizonte próximo. Manteremos alianças táticas pontuais com estas forças, nas áreas que nos possa atender a interesses táticos, mas não devemos cessar dentro destes espaços de unidade de ação a critica a suas vacilações e a seus oportunismos. Uma das premissas de uma frente única (18) atende essa leitura do movimento.

O que se coloca em xeque desde o momento que Jair Messias foi eleito é a existência da democracia das entidades de base e das entidades construída pelos revolucionários e pelos trabalhadores organizados ao longo da história, como os sindicatos, movimentos sociais e entidades estudantis, pois é essa democracia que está ameaçada na primeira ordem, a democracia direta dos trabalhadores, os embriões de Poder Popular. Se precisamos que os trabalhadores tenham experiências de organização e se reconhecerem enquanto classe – que nesta pandemia e na crise pode ser construída numa grande velocidade se colocar nossa agitação e propaganda pra funcionar na eficiência que precisa ser colocada, dentro de nossos limites – precisamos colocá-los em movimento pela defesa da própria existência, seja na defesa dos salários, dos empregos, dos direitos sociais e das condições de vida seriamente ameaçadas. A barbárie está anunciada, estas medidas “Neokeynesianas” movidas pelas “criticas” a concentração de renda, que habita o intimo dos corações de Krugman e Piketty adotadas agora por Guedes não vão durar pra sempre, no caso, servem pra burguesia ganhar tempo, se preparar pro choque inevitável que a luta de classes o chama.

Essas são as premissas.

E quando esse choque vai começar?

Primeiro, o que é óbvio, é quando a pandemia for controlada – competência mais atribuída aos médicos, laboratórios e aos pesquisadores do que aos políticos no caso, uma vez que não é interessante pra eles, os mais sóbrios, um proletariado morrendo rapidamente por uma doença que contagia fácil e mata rapidamente, embora tenha alguns que estão dispostos a sacrificar uns 7 mil ali ou 6 mil aqui (19) – façamos os trabalhadores lembrar sempre da negligencia da burguesia, desde a precarização do SUS, da privatização da saúde, da falta da estrutura necessária pra atender os infectados das camadas mais baixas, até atacar as medidas de resistência a quarentena agitadas por empresários bolsonaristas, aos apelos a manutenção da economia, das demissões em massa, da redução do salários, da perda do poder de compra, a falta de uma resposta rápida das autoridades públicas, da disparada dos preços enfim, demonstrar a ela a sua condição de classe e fazer com que ela não a esqueça. Se a vanguarda organizada não recorda das próprias experiências de lutas, não espere que a classe que diz a representar a lembre por si só.

A grande ficha uma hora vai cair. Essa ficha é a contrapartida do pacote que utilizaram pra “socorrer” os trabalhadores; o que se dá na mão esquerda, se tira em dobro com a mão direita. Pequenos e médios estabelecimentos vão falir; a tendência a monopolização da economia vai acelerar; os empregos serão escassos e precários, se forem mantidos; a violência cotidiana tende a ser maior e a repressão mais ainda. Isso é o primeiro passo.

O segundo passo, como complementar ao primeiro, é nos preparar pra esta conjuntura que se apresenta, não devemos enganar a si mesmos, sobretudo aos mais experientes, as nossas lideranças, dirigentes e aos nossos quadros, que devemos utilizar o Maximo de vossas organizações, de nossas entidades de classe, quase como um pré aviso, deve ser enfatizado com a clareza necessária em nossas palavras de ordem e tarefas gerais dos lutadores revolucionários, corrigir as debilidades organizativas a tempo, pra não falharmos quando o dever histórico nos chamar.

– Parece que a revolução vai acontecer agora! – exclamam. Eu digo:

– Claro que não.

Pra cessar a ansiedade daqueles que querem apontar Esquerdismo e Obreirismo, senão odes ao Espontaneísmo de minha parte, eu nego. Esquerdismo e Espontaneísmo seria fazer apologia barata ao movimento da classe e por si só ela tomasse consciência de si e para si, sem precisar de nossa intervenção, das entidades sindicais, dos movimentos organizados, dos revolucionários organizados, dos comunistas propriamente dito. Achar que apenas pelas experiência ela vai aprender a enfrentar os desafios impostos a sua existência sem esclarecer de seus movimentos equivocados – sim meu caro esquerdista, a classe trabalhadora também erra! – e permitir a ela que se lance a aventuras, como se a revolução fosse aqui e agora, com falsas palavras de ordem que não reflete a demanda do momento, basta recordar as conseqüências de Junho de 2013, das falsas palavras de ordem e da omissão de setores da esquerda. Esse pato do qual sofremos até agora por não disputar, as conseqüências de quando deixamos o movimento por si só. Obreirismo, seria confiar a apenas a direções “emanadas da classe trabalhadora” capazes de dirigir o processo, assim deixaremos reféns novamente do petismo, pois o petismo enquanto forma de ser de esquerda, enquanto forma do proletariado reivindicar suas demandas, pelas defesa dentro das vias institucionais, não está superado na prática, ainda goza de simpatia tanto de direções de base quanto de parcelas organizadas da classe, se não estivermos lá pra apontar seus limites e combater o oportunismo dentro dele, pode esperar a reprodução da conciliação de classe, ou a tentativa de repetir, como alguns partidos parecem apostar nas entrelinhas, querendo herdar este movimento tal como ele é.

Temos uma geração de lutadores mais numerosa, mais qualificada e mais inserida na luta de classes que em 2008, temos sim desafios a cumprir, ao meu ver, quando as ruas novamente forem ocupadas e estiverem falando sobre política as massas mobilizadas e os trabalhadores vão querer saber se nós teremos as respostas pra seus problemas, se teremos o programa certo pra superação de sua carestia. Com uma certa dose de otimismo diante desse mar de pessimismo justificado, quando a grande ficha cair, quando os trabalhadores perderem a paciência, como vamos estar?


(1) https://valor.globo.com/eu-e/noticia/2020/03/27/brasileiros-temem-crise-devastadora-segundo-pesquisa.ghtml

(2) https://pcb.org.br/portal2/25178/a-civilizacao-catastrofica/

(3) https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/03/16/janaina-paschoal-pede-saida-de-bolsonaro-da-presidencia-deixa-o-mourao.htm

(4) https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/03/caiado-rompe-com-bolsonaro-e-diz-que-nao-respeitara-decisoes-do-presidente.shtml

(5) “A verdadeira meta do presidente miliciano é um golpe clássico que lhe permita a centralização política necessária, sob a espada militar, sem os incômodos parceiros no Congresso e no STF. Ele expressou várias vezes tal intenção, em entrevistas, declarações, posturas. Portanto, o espanto todo agora manifesto pelos senhores parlamentares e juízes diante da convocação pelo Presidente de um ato pelo fechamento do Congresso e do STF, não passa de pura encenação, pura pantomima de indignação.”
https://blogdaboitempo.com.br/2020/03/13/o-31-de-marco-de-jair-bolsonaro/

(6) “No primeiro aspecto, ao ter consciência de si, descobrem que tudo o que é vivo pode morrer. Quando falam em “defender a vida”, portanto, querem dizer na verdade as suas próprias. Não porque os ricos também se infectam – mas porque os pobres podem se infectar com um vírus muito mais perigoso para seus negócios à medida que seus familiares e amigos morrem com água nos pulmões. Se é certo que a morte de favelados não os atinge na alma – um certo “mestre de aprendizes” deixou perfeitamente claro nessa semana -, também é certo que os pobres, em revolta, podem atingi-los não só em suas casas, mas também em seus bolsos. E o que são esses senhores senão mais bolsos que alma?”
https://revistaopera.com.br/2020/03/26/ha-metodo-na-loucura-bolsonaro-e-o-coronavirus/

(7) Gerando desconforto ate entre setores da burguesia, dado o seu caráter de ataque frontal direto, a urgência de suprimir o ponto mais polemico foi feito, embora, após a revisão, os demais pontos da Medida provisória passaram e aguardam aprovação do congresso.
https://veja.abril.com.br/economia/mp-que-permite-suspensao-de-salarios-sera-revisada-diz-secretario/ e https://oglobo.globo.com/economia/em-nova-mp-governo-reduzira-de-quatro-para-dois-meses-suspensao-do-contrato-de-trabalho-1-24329482

*Friedrich Hayek (1899 – 1992) Representante da Escola Austríaca, foi defensor do liberalismo clássico e procurou sistematizar o pensamento liberal clássico para o século XX.  Recebeu o Prêmio Nobel em economia de 1974, “por seu trabalho pioneiro na teoria da moeda e flutuações econômicas e pela análise penetrante da interdependência dos fenômenos econômicos, sociais e institucionais”, se opondo a Teoria Monetária Moderna e tendo Keynes como um de seus rivais teóricos, lançou os princípios econômicos teóricos que viria a contribuir pras formulações neoliberais.

Milton Friedman (1912 – 2006) Economista, estatístico e escritor norte-americano, que lecionou na Universidade de Chicago por mais de três décadas. Ele recebeu o Premio Nobel em Economia de 1976 e é conhecido por sua pesquisa sobre a análise do consumo, a teoria e história monetária, bem como por sua demonstração da complexidade da política de estabilização. É o principal teórico do neoliberalismo.

(8) https://brasil.elpais.com/economia/2020-03-25/casa-branca-e-senado-acertam-o-maior-plano-de-resgate-economico-da-historia-dos-eua.html , https://www.dw.com/pt-br/como-a-alemanha-est%C3%A1-enfrentando-o-impacto-econ%C3%B4mico-da-pandemia/a-52893429

(9) https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/03/27/O-impacto-da-campanha-%E2%80%98Brasil-n%C3%A3o-pode-parar%E2%80%99-de-Bolsonaro

(10) “O álibi de todos estes movimentos de desvalorizações do capital é a epidemia de coronavirus, o raio da vez no céu azul do virtuoso do mundo do capital. Esse ridículo protagonismo de um misterioso vírus de gripe nos rumos da economia não passa de um grande espetáculo. Mais uma produção de segunda categoria da “sociedade do espetáculo”, definida originalmente por Guy Debord e a Internacional Situacionista*”.
https://criticadaeconomia.com/2020/02/nas-coronarias-do-capital/

* Internacional situacionista – A Internacional Situacionista (IS) foi um movimento internacional de cunho político e artístico. O movimento IS foi ativo no final da década de 1960 e aspirava por grandes transformações políticas e sociais. Ligados ao anarco-comunismo, tiveram atuação destacada no Maio de 1968 Francês.

(11) “Com o advento do coronavírus no quadro de condensação de crises no qual nos encontramos, abriu-se uma disjuntiva com força na luta de classes: ou a classe trabalhadora derruba Bolsonaro ou o militar-presidente, na sua lógica bonapartista, fará a ruptura no Brasil.”
https://pcb.org.br/portal2/25197/quem-fara-a-ruptura-no-brasil/

(12) Nas falas que fez tanto no lançamento da plataforma Vamos, no Largo da Batata, em São Paulo, em meados de 2017 – M. Freixo e L. Sakamoto – quanto no pré lançamento da candidatura de G. Boulos, em Março de 2018, vimos essas premissas serem discursadas nas falas dos quadros do PSOL e outras personalidades de esquerda presentes quando falavam de economia.

(13) https://18.118.106.12/2019/05/17/a-critica-marxista-aos-keynesianismos/

** Vide que a maioria dos últimos ganhadores do Premio Nobel de economia se sustentam na TMM, alem de seus livros se tornarem best-sellers na seção de economia das livrarias e do Kindle.

*** Ultimo argumento – latim

(14) https://www.infomoney.com.br/economia/pedidos-de-seguro-desemprego-nos-eua-saltam-de-282-mil-para-328-milhoes-em-meio-a-coronavirus/

(15) https://oglobo.globo.com/mundo/eua-acusam-governo-da-venezuela-de-terrorismo-narcotrafico-oferecem-us-15-milhoes-por-maduro-24329850. Iasi em seu artigo o 31 de Março de Jair Bolsonaro, percebeu esta movimentação incomum : A viagem do miliciano aos EUA* nos dá a pista. O que Bolsonaro precisa é de uma guerra, ou ao menos algo que pareça uma guerra. Os venezuelanos já sabem, Trump já sabe… Os brasileiros ainda não, mas saberão em breve.
* https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2020-03/bolsonaro-visitara-instalacoes-militares-dos-eua-em-miami

(16) https://br.sputniknews.com/asia_oceania/2019120814868093-secretario-de-defesa-dos-eua-quer-relocar-forcas-para-asia-pacifico-esse-e-meu-teatro-prioritario/

(17) Mauro Iasi, em seu Poder, Estado e Ideologia na trama conjuntural (ICP, 2017) demonstra como setores petistas mais a previa que a promulgação da Constituição de 1988 fosse um instrumento que poderia permitir no avanço da consciência dos trabalhadores e que precisava, com o tempo ser superada. No entanto a revisão da constituição de 1988 teve no próprio PT uma forte oposição.

(18) https://istoe.com.br/dono-do-madero-diz-que-brasil-nao-pode-parar-por-5-ou-7-mil-mortes/

(19) “2. A renovação das ilusões reformistas entre amplas camadas dos trabalhadores, que ascenderam por diversos motivos, está agora, sob os choques da realidade, se esvaindo em direção a um outro estado de ânimo. Após o fim do massacre imperialista, as ilusões reformistas e “democráticas” dos trabalhadores (tanto de trabalhadores privilegiados quanto aqueles mais atrasados ou politicamente inexperientes) estão murchando antes mesmo de florescer por completo. O curso e desfecho das deliberações da Conferência de Washington abalarão ainda mais estas ilusões. Seis meses atrás, havia alguma justificativa para falar em um deslocamento generalizado das massas trabalhadoras na Europa e Estados Unidos da América para a Direita. Hoje, em contraste, o indício de uma guinada à esquerda é indubitavelmente perceptível.” https://18.118.106.12/2019/05/01/sobre-a-frente-unica-dos-trabalhadores/

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