Por Victor Pimentel
“Era um espetáculo misterioso, vago, obscuro,
em que as figuras visíveis se faziam impalpáveis,
o dobrado ficava único, o único desdobrado, uma
fusão, uma confusão, uma difusão.”
(Esaú e Jacó, Machado de Assis)
Embora mais de 100 anos separem a publicação de “Esaú e Jacó” — obra de Machado de Assis escrita logo após seu famoso “Dom Casmurro” — de nosso tempo atual, as palavras utilizadas como epígrafe do presente texto servem muito bem para sintetizar dois temas bastante atuais: a trama da série alemã Dark, produzida pela Netflix, e nossa situação atual de crise generalizada do capitalismo tardio. Em ambos os domínios — no entendimento do enredo da série e na compreensão das coordenadas sócio-políticas de nosso tempo — a impressão que se instala quase automaticamente em qualquer um que tente se dispor a pensar essas duas esferas é a de que se está entrando em uma profunda e consistente barafunda. Assim, nosso principal argumento com o texto presente é o seguinte: a produção alemã da Netflix pode servir como uma metáfora bastante relevante para refletirmos a respeito das complexas relações entre crítica, movimentos de resistência e desenvolvimento recente do capitalismo, bem como para pensarmos sobre a aparente imobilidade do sistema político e econômico, a despeito das sucessivas crises experimentadas nas últimas décadas.
Desta maneira, intentamos desenvolver uma espécie de “olhar duplo” sobre a obra e a bibliografia trabalhada – ou seja, acreditamos que os dois materiais podem se iluminar reciprocamente de maneira potencialmente reflexiva. Por um lado, informado por um pequeno conjunto de autores, é possível extrair da trama de Dark certas observações de considerável valor crítico. Por outro lado, a análise da bibliografia sugerida à luz do enredo desenvolvido pelos produtores da série se torna potencialmente mais rica, assim como também adquire novos formatos pelos quais pode ser expressa.
1)O papel da crítica no desenvolvimento recente do capitalismo
1.1) Boltanski e Chiapello vão a Winden:
Antes de nos debruçarmos especificamente sobre Dark, comecemos com um breve comentário a respeito das complexas relações entre crítica e capitalismo nas últimas décadas.
Já não é de hoje que uma grande quantidade de autores busca investigar os limites e potencialidades da postura crítica no que diz respeito à manutenção ou efetivação de alterações substanciais no ordenamento social e político das sociedades ocidentais. Se nos detivermos apenas ao campo da sociologia, podemos elencar como um exemplo consistente de tal corrente analítica a sociologia pragmática francesa ou “sociologia da crítica” (BOLTANSKI, 2016), capitaneada por Luc Boltanski e Laurent Thévenot, dentre outros [1].
Inclusive, Boltanski é um interessante ponto de partida para o início de nossa conversa. Em parceria com Ève Chiapello, o sociólogo francês escreveu há alguns anos uma obra intitulada O Novo Espírito do Capitalismo (2009) — em clara referência e bastante inspirado por outro trabalho de fôlego e profunda relevância para as Ciências Sociais [2]. Como o nome já diz, no livro, Boltanski e Chiapello buscam investigar as bases do novo espírito do capitalismo — isto é, os alicerces do conjunto de valores e práticas que sustentam a dinâmica de acumulação capitalista e conservam, mesmo que com “novas roupagens”, a legitimidade do atual sistema político e econômico para grande parte da população mundial.
Para realizar tal agenda de pesquisa, os autores elencam como objeto primordial de suas análises os textos produzidos dentro do campo da literatura de gestão empresarial entre a década de 1960 e a década de 1990. Desta forma, Boltanski e Chiapello apostam que esta massa de textos constitui uma via privilegiada para efetivação de uma aproximação crítica do espírito do capitalismo de nosso tempo atual. Assim, sem nos demorarmos em pormenores, os sociólogos franceses afirmam que a literatura de administração de empresas do anos 1990 possuem como principais elementos característicos e diferenças em relação àquela dos anos 1960 a intensificação da crítica à burocracia e a mobilização gradativa de aspectos como a pressão concorrencial e as exigências dos clientes.
É sempre útil lembrarmos que entre esses dois períodos de tempo — 1960 e 1990 — o sistema capitalista global começou a experimentar as novidades e reatualizações do processo de reestruturação produtiva (HARVEY, 1992; ANTUNES, POCHMANN, 2007) cujos principais traços podem ser sintetizados na incorporação de mecanismos de controle e gestão típicos do toyotismo (RAMALHO, SANTANA, 2004), flexibilização do trabalho (em sentidos variados: flexibilização salarial, de horários, etc.), desenvolvimento da empresa “enxuta” (que substitui trabalho vivo por trabalho “morto”) (ANTUNES, 2018) e conformação de um tipo de trabalhador caracterizado pela polivalência e pela multifuncionalidade (ABÍLIO, 2015).
Assim, a partir dessa complexa reengenharia global da dinâmica produtiva, as empresas passaram a assumir gradativamente um novo tipo de organização protagonizado não mais pelo executivo ou burocrata, mas sim pelos líderes, coaches e managers, cujas “competências”, “carisma” e “visão empresarial” constituem os principais elementos que os destacam hierarquicamente dos demais “colaboradores” ou “parceiros” de suas equipes de trabalho. Desta maneira, no mundo da empresa “liberada”, torna-se evidente que os mecanismos tradicionais de controle e tutela anteriormente utilizados no contexto empresarial são deslocados para o espaço da própria interioridade das pessoas, garantindo um tipo distinto de “mobilização da subjetividade” do trabalhador pela empresa [3]. Desse movimento, emergem algumas categorias gradativamente mais relevantes, como o “envolvimento do pessoal”.
Neste sentido, a reengenharia produtiva aparece como pano de fundo de uma nova forma de discurso empresarial que valoriza a reorganização das empresas como um suposto esforço coletivo das mesmas em tornar o mundo do trabalho “mais humano”, menos alienado, mais flexível, mais “tolerante”, mais atento às idiossincrasias de cada trabalhador, etc. Assim, não é de se estranhar a valorização contínua da autogestão e do autocontrole, bem como a mobilização persistente da metáfora da rede para descrever a dinâmica das novas equipes de trabalho. Nesse ponto, inclusive, os autores argumentam enfaticamente que as duas questões que mais preocupam os autores da literatura de gestão empresarial da década de 1990 são o antiautoritarismo e a obsessão pela flexibilidade e pela reatividade.
Será que todos esses significantes que compõem a gramática empresarial contemporânea também não aparecem em um outro espaço profundamente distinto do mundo das empresas? Não seriam tais preocupações dos gestores de empresas — antiautoritarismo, flexibilidade e reatividade — elementos partilhados também por boa parte das mobilizações coletivas de esquerda dos últimos anos? É exatamente aí que reside o “pulo do gato” de Boltanski e Chiapello.
A partir da análise de uma enorme quantidade de textos que discorrem sobre administração e organização de empresas, os sociólogos franceses defendem que as principais características constitutivas do novo espírito do capitalismo foram “diretamente extraídas do repertório de maio de 1968” (BOLTANSKI, CHIAPELLO, 2009, p. 130). Ou seja, o conjunto de valores e práticas que sustentam a “ideologia dominante” do capitalismo contemporâneo é informado fundamentalmente por um dos episódios de maior contestação e crítica ao sistema do século XX. Ainda que as reivindicações postuladas por estudantes, trabalhadores e intelectuais na França no momento histórico de maio de 1968 tenham sido alimentadas por sentimentos, motivações e causas profundamente anticapitalistas, os valores propagados neste contexto foram gradativamente incorporados pela mesma máquina capitalista que os rebeldes desejavam destruir.
Desta forma, na conclusão da obra, os autores parecem partilhar da mesma angústia do leitor que os acompanhou durante esse trajeto. Como consequência lógica de sua argumentação, eles afirmam que “o principal operador de criação e transformação do espírito do capitalismo é a crítica” (idem, p. 486), uma vez que ela “serve indiretamente ao capitalismo e é um dos instrumentos de sua capacidade a perdurar, o que, aliás, cria problemas temíveis para a crítica, pois ela é facilmente posta diante da alternativa de ignorada (portanto inútil) ou de ser cooptada” (idem, p. 487). Assim, estaríamos diante de uma espécie de “curto-circuito” da crítica? Para os autores, “os dispositivos críticos disponíveis não oferecem por ora nenhuma alternativa de envergadura” (idem, p. 28).
1.2) Em Winden, Boltanski e Chiapello encontram Luc Ferry:
Como já adiantado ali em cima, este mesmo tema também é trabalhado por vários outros pensadores. Antes de avançarmos para a segunda parte do texto, gostaria de mobilizar outro teórico que se debruçou sobre o mesmo assunto.
Um deles é o filósofo francês Luc Ferry. Em sua obra A revolução do amor — por uma espiritualidade laica (2012), o autor argumenta que uma das principais chaves para entender a complexa dinâmica do século XX reside exatamente no seguinte: na sede de destruir o universo burguês, o “vanguardismo boêmio” foi o braço mais eficaz na constituição da sociedade de consumo tal como a conhecemos. Seguindo raciocínio similar ao de Boltanski e Chiapello — e também utilizando maio de 1968 como episódio-chave para explicitação de suas elaborações teóricas — , o filósofo afirma que as críticas fortemente presentes em tal momento histórico — tais como, crítica à burocratização e verticalização da organização dos partidos progressistas, valorização da liberdade sexual, defesa da autogestão, etc. — foram responsáveis por destruir algumas “barreiras” que persistiam em restringir significativamente um avanço ainda maior da dinâmica capitalista sobre as sociedades ocidentais.
Para elucidar melhor sua argumentação, Ferry lança mão de um exemplo bastante interessante. Ele diz que se pegássemos suas filhas e sua bisavó e transferíssemos os valores da última para as primeiras ou então transportássemos a última para os tempos atuais poderíamos ter uma visão mais clara a respeito de seu ponto. Ou seja, se suas filhas adolescentes orientassem as próprias ações a partir dos valores que constituíam a experiência de vida de sua bisavó elas nunca veriam necessidade em praticar determinados atos consumistas, como trocar de celular anualmente. Do outro lado, se sua bisavó fosse transportada para o centro de uma grande metrópole capitalista dos tempos atuais a avaliação da mesma a respeito da infinidade de lojas e centros comerciais teria como principal fundamento o fato de que tais “templos do consumo” são extremamente artificiais e — em última instância — “nos afastam dos verdadeiros valores […], dos deveres para com o outro, mas também dos deveres para consigo mesmo” (FERRY, 2012, p. 41).
Neste sentido, utilizando maio de 1968 como base do raciocínio, Ferry argumenta que os “desconstrutores” — isto é, os “boêmios”, os rebeldes — minaram os valores geracionais que, tais como aqueles mobilizados no exemplo acima, ainda constituíam uma barreira significativamente consistente para o avanço da sociedade de consumo. Sem tais impedimentos, o sistema capitalista encontrou terreno extremamente propício para plantar suas sementes e amarrar seu arado, garantindo uma expansão ainda maior da dinâmica de acumulação. Assim, os “desconstrutores” contribuíram decisivamente para a realização objetiva dos intentos capitalistas daqueles em relação aos quais eles se contrapunham — os burgueses.
1.3) Boltanski, Chiapello e Ferry acham Zizek na entrada da caverna de Winden:
Por último, seria uma tremenda injustiça comentar sobre as possíveis armadilhas das atividades transgressoras e não dedicar um tempo, ainda que curto, para Slavoj Zizek [4]. O filósofo esloveno é reconhecido, dentre outras coisas, por cultivar uma desconfiança crítica e pragmática dos elementos profundamente sedutores presentes nas atividades de contestação, revolta e sublevação contra o capitalismo. Por isso, tal tema é bastante presente em diferentes obras de Zizek. Por aqui, vamos apenas esboçar algumas de suas reflexões.
O desejo de transformação do sistema capitalista projeta, não raras vezes, uma imagem de que a efetiva alteração da realidade capitalista significa um verdadeiro “chacoalhamento” radical de tudo aquilo que a compõe. Este tipo de imagem é construído devido, em grande parte, ao fato de o sistema capitalista ser entendido por muitos militantes e pensadores como uma máquina inerte, uma rotina sempre igual — ela apenas segue realizando àquilo que já efetivava anteriormente. Diante desse desenho, o próprio engajamento político revolucionário constitui uma incessante atividade para fazer com que as coisas não permaneçam sempre iguais [5]. Para que algo mude e não permaneça sendo sempre aquilo que já foi anteriormente, é preciso que nos movimentemos constantemente, certo?
Bom, para Zizek, a resposta a essa pergunta é: errado! Uma das formas utilizadas pelo filósofo para explicar seu raciocínio é lançando mão da categoria de interpassividade. Partindo de elaborações teóricas a respeito da psicanálise lacaniana, Zizek afirma que, diferentemente da interatividade, na qual eu sou ativo através do Outro — isto é, posso permanecer passivo enquanto o Outro age por mim —, a interpassividade diz respeito a uma posição na qual eu posso ser passivo através do Outro. Ou seja, pela interpassividade, “concedo ao Outro o aspecto passivo (gozar) de minha experiência, enquanto posso continuar ativamente empenhado” (ZIZEK, 2017a, p. 36). Neste sentido, tal categoria nos permite pensar a questão da falsa atividade: “as pessoas não agem somente para mudar alguma coisa, elas podem também agir para impedir que alguma coisa aconteça, de modo que nada venha a mudar” (idem, p. 36).
Assim, Zizek argumenta que um dos principais desafios para a política progressista atualmente não é a passividade, mas sim a pseudoatividade — isto é, “a ânsia de ser ativo e participar” (idem, p. 37). Desta forma, segundo o filósofo esloveno, a necessidade de estar a todo momento fazendo algo para derrubar o capitalismo, mudar a ordem social etc. pode ser exatamente aquilo que impede a possibilidade de elaboração de uma verdadeira transformação. Diante da injunção superegoica militante do “faça você mesmo sempre!” [6] — que, como bem lembrado pelo próprio autor, “quanto mais aceitamos suas exigências [as exigências do superego], mais nos sentimos culpados” (ZIZEK, 2015a, p. 57) —, Zizek afirma que “o primeiro passo verdadeiramente decisivo é retirar-se para a passividade e recusar-se a participar”, uma vez que “esse primeiro passo limpa o terreno para uma atividade verdadeira, para um ato que mudará efetivamente as coordenadas da cena” [7](idem, p. 37).
Neste sentido, a pseudoatividade guarda uma similaridade formal bastante curiosa com a própria dinâmica de funcionamento do capitalismo. Nos dois casos parecemos estar diante de uma situação na qual “a mobilização frenética esconde uma imobilidade fundamental” (ZIZEK, 2015b, p. 21) — isto é, no final das contas, tudo muda continuamente para que nada mude efetivamente. Assim, diante desse contexto, “o verdadeiro acontecimento seria transformar o próprio princípio da mudança” (ZIZEK, 2017b, p. 165) — não mais o Evento como simples alteração, mas sim como “uma contingência (um encontro ou ocorrência contingente) que se converte em necessidade, ou seja, origina um princípio universal exigindo fidelidade e trabalho duro em favor da nova ordem” (idem, p. 165–166). Portanto, não nos enganemos: o momento do Grande Despertar — isto é, aquele dia no qual as massas dos despossuídos se levantarão em prol da derrubada do capitalismo (idem, 2017b) — não existe. O desejo por uma transformação efetiva deve nos implicar em um tipo de engajamento distinto.
Assim, Zizek também segue a mesma linha de pensamento que identifica no papel da crítica — e, mais especificamente, da atividade pretensamente revolucionária — uma possível armadilha para a manutenção da ordem vigente. Consequentemente, ao olhar para parte do século XX, o filósofo esloveno também vai ao encontro dos demais autores no que diz respeito à análise do episódio histórico de maio de 1968. Para ele, os rebeldes franceses daquele momento miraram nos três elementos que os mesmos entendiam como sendo os aspectos estruturantes do capitalismo: “a fábrica, a escola e a família” (ZIZEK, 2015c, p. 163).
Curiosamente, cada domínio sofreu um tipo de desenvolvimento capitalista pós-industrial. Na fábrica, houve todo o processo de reestruturação produtiva já comentado acima, responsável por trazer ao mundo empresarial a gramática da autogestão, da multiplicidade, da tolerância etc. No segundo campo, a educação passou a ser gradativamente privatizada e flexível, ganhando espaço antes ocupado pelo ensino público. Por último, todo o discurso de liberdade sexual colaborou para a elaboração de “um hedonismo tolerante facilmente incorporado à ideologia hegemônica sob a égide do supereu” (idem, p. 77), bem como a múltiplos arranjos familiares que, aparentemente, não perturbam de maneira significativa o arranjo capitalista. Assim, parece que o capitalismo saiu do lado de lá prenhe de “resiliência” — para a esquerda daquele momento, “o inimigo imediato foi derrotado, mas substituído por uma nova forma de dominação capitalista ainda mais direta” (idem, p. 163).
Zizek também atenta para como a perspectiva igualitária, anti-hierárquica e socialmente engajada do “espírito de 1968” foi profundamente incorporada na esfera do consumo. Atualmente, a experiência de consumo é baseada fundamentalmente na “experiência autêntica” (idem, p. 73) — isto é, diversos produtos são vendidos com a “militância” já embutida neles mesmos. Assim, no ato da compra de um determinado café no Starbucks, por exemplo, você está certamente ajudando a doar comida e água para crianças carentes em algum país da periferia global. Algumas propagandas — explicitadas pelo próprio Zizek — mostram como o consumo também está associado, não raras vezes, a um tipo de “melhoramento” do self individual a partir de uma experiência revivificadora presente no próprio produto desejado.
Contudo, o filósofo esloveno também afirma que maio de 1968 — tal como Badiou (2015) argumenta — não foi um marco político para a esquerda apenas por seus ulteriores “fracassos”: os eventos ocorridos naquele período guardam uma rejeição ao capitalismo liberal potencialmente reflexiva, uma vez que nos implica a realizar um pensamento contra-intuitivo: por meio da frase “Sejamos realistas, vamos exigir o impossível!”, podemos afirmar que os utópicos e sonhadores são aqueles que acreditam que o sistema global, tal como ele é, pode continuar se reproduzindo infinitamente, “e a única maneira de ser verdadeiramente ‘realista’ é pensar o que, dentro das coordenadas desse sistema, só pode parecer impossível” (ZIZEK, 2015d, p. 272).
Neste sentido, cabe a nós elaborarmos que tipos de “pressões” a esse sistema aparecem como conteúdos impossíveis — ainda que perfeitamente factíveis (como um sistema de saúde público universal em um determinado país) — e buscar pelos “‘sinais vindos do futuro’, pelos rastros desse novo questionamento radical do sistema” (idem, p. 272) que aparecem em determinadas mobilizações políticas.
E já que estamos falando de passado, presente e futuro…
2) Dark —os leitores encontram os pensadores (e os personagens)
Venho do futuro (de algumas linhas abaixo) para te informar: o texto contém (muitos) spoilers. Logo, se você ainda não assistiu a terceira temporada, acho melhor você voltar aqui mais tarde.
Sintetizar Dark em apenas alguns parágrafos é tarefa mais complicada do que comentar brevemente sobre uma penca de autores dos campos da filosofia e das ciências sociais. A dificuldade advém do fato de que a série possui uma trama absurdamente intrincada e recheada de conexões (bizarras) de parentesco entre os personagens. Porém, não custa nada tentar.
Dark é uma série alemã da Netflix, produzida e escrita pelo casal Baran Bo Odar e Jantje Friese, que estreou no final de 2017 e completou seu “ciclo” em junho de 2020, após o lançamento de sua última temporada. Em Dark, acompanhamos as ziguezagueantes trajetórias de quatro famílias — os Nielsen, os Tiedemann, os Doppler e os Kahnwald — ao longo de mais de 100 anos nos limites de Winden, uma cidadezinha que parece existir em alguma região do interior da Alemanha. Na primeira temporada, a aproximação inicial dos telespectadores com os desdobramentos da trama acontece por meio do desaparecimento de algumas crianças em um curto período de tempo. O caso mais exemplar — e mais importante também — é o desaparecimento de Mikkel Nielsen em uma noite recheada de acontecimentos bizarros: luzes piscando, Helge saindo do asilo falando “vai acontecer de novo”, sons assustadores saindo da caverna e “chuva” de pássaros mortos.
Curiosamente, à medida que os episódios se sucedem, você descobre que o desaparecimento de crianças em Winden é uma repetição tristemente recorrente na cidade — o pequeno Helge desaparece durante 6 meses em 1953, Mads Nielsen some misteriosamente em 1986, crianças mortas aparecem bizarramente num terreiro de obras na década de 1950, etc. Como a série já revela em seus materiais de divulgação, todos esses episódios estão profundamente conectados não só a acontecimentos aparentemente desconectados daqueles, mas também à existência de uma misteriosa caverna cuja extensão subterrânea se aproxima do território da usina nuclear de Winden.
É exatamente aí que entra o raciocínio que baseia todos os desdobramentos da trama. Em Dark, um acidente nuclear ocorrido na usina de Winden no verão de 1986 deu origem a um buraco de minhoca responsável por conectar passado, presente e futuro, permitindo assim a viagem no tempo para diferentes épocas daquela pequena cidade. O “pulo do gato”, que te habilita a não ficar tão perdido, é o fato de que a trama lança mão de uma noção de tempo que, em vez de se basear na linearidade — isto é, na noção de que passado, presente e futuro são três momentos que estão dispostos em uma espécie de “fio” e marcam uma passagem “etapista” do tempo (o passado é sucedido pelo presente, que é sucedido pelo futuro, etc.) — , se pauta na compreensão do tempo como um ciclo — ou seja, como uma espécie de novelo de lã no qual passado, presente e futuro se conectam reciprocamente e interferem na conformação dos acontecimentos dos momentos de cada “tempo”.
Acredito que a dificuldade de entendimento da trama se deve, em grande parte, ao fato de os roteiristas explorarem um tipo de raciocínio bastante contra-intuitivo (e muito interessante). Quando pensamos em viagens do tempo, logo nos vêm à mente a possibilidade de mudarmos o passado e assim alterarmos radicalmente nossa vida presente. Vários filmes exploram esse movimento. Efeito Borboleta, por exemplo, é um deles — na película, sempre que o personagem principal volta ao passado para alterar algo ele acaba transformando radicalmente seu presente. Contudo, em Dark, a dinâmica é um pouco mais complexa, uma vez que o futuro também pode afetar o passado. Assim, considerando o caráter cíclico do tempo trabalhado ao longo da trama, compreendemos que não existe um passado “puro” (tampouco um presente ou futuro “puros”) — o passado só existe da forma como o conhecemos porque o futuro já colaborou na formação de sua configuração.
É claro que a série possui recursos muito mais elucidativos do que as minhas palavras, mas uma forma interessante de tentar compreender a passagem do tempo em Dark é pensar que passado, presente e futuro são engrenagens que funcionam igualmente dentro de um mesmo ciclo. Neste sentido, como a série repete várias vezes, a divisão e separação estanque entre esses três domínios é algo puramente ilusório.
Beleza, mas o que isso tudo tem a ver com o que já foi falado acima?
Bom, a principal motivação deste texto é a seguinte: acreditamos que Dark é uma metáfora potencialmente relevante para pensarmos de maneira distinta a respeito das formas pelas quais as atividades de transformação da ordem social vigente — manifestada nas atividades de crítica, reivindicação, protestos etc. — podem, não raras vezes, contribuir para a manutenção da engrenagem que desejamos alterar/destruir [8].
Não é exatamente isso o que acontece durante boa parte da trama? Na série, acompanhamos vários personagens que, ao descobrirem a viagem no tempo, tentam persistentemente voltar ao passado para alterar a sua vida presente. Contudo, como comentado acima, mal sabem eles que é exatamente o seu retorno ao passado — para mudar a vida no presente — que constrói a conformação do presente e do passado tal como eles o conhecem. Ou seja, tentando mudar tudo desesperadamente — na ânsia de se movimentarem a qualquer custo — os personagens colaboram para que todas as coisas se mantenham sempre iguais, alimentando o mesmo ciclo temporal.
Alguns momentos da série são bem ilustrativos dessa ideia. Por exemplo, a trajetória de Ulrich Nielsen. Profundamente indignado com o desaparecimento misterioso de seu filho (Mikkel), Ulrich descobre a passagem no tempo dentro das cavernas de Winden e acaba saindo em 1953. Acreditando fortemente que Helge Doppler é o responsável pelo sumiço de várias crianças ao longo da história de Winden (não só seu filho, mas também seu irmão Mads Nielsen, desaparecido em 1986), Ulrich encontra a versão criança de Helge e tenta matá-lo, traumatizando irreversivelmente sua história, gerando a cicatriz na orelha que Helge possui já idoso e colaborando para que o mesmo se junte a Noah na tarefa de raptar crianças ao longo dos anos para testar um protótipo da máquina do tempo. Ou seja, no final das contas, Ulrich se torna o responsável por aquilo que ele queria mudar: o sumiço e a morte de crianças em Winden.
Podemos falar também de outro exemplo bastante significativo. Depois de descobrir a existência da Sic Mundus Creatus Est — bizarra organização cujo principal objetivo é criar um mundo que não seja regido pelo tempo — e receber a revelação de que Adam, o líder da organização, é seu “eu futuro”, Jonas Kahnwald — orientado por este último — resolve voltar à data que supostamente marcaria a “origem” desse todo esse nó temporal: o dia do suicídio de seu pai (Michael), que — marcando uma das grandes viradas da série — , é exatamente o Mikkel, que some em 2019, sai em 1986 e passa a viver em Winden “fora de seu tempo”.
Michael se mata em 21 de junho de 2019, chocando todos aqueles que o conhecia. Jonas acredita que, se conseguir viajar no tempo para 20 de junho de 2019, ele terá a possibilidade de impedir que seu pai se mate e, assim, destruir o nó temporal. De forma muito angustiante, percebemos que é exatamente o retorno de Jonas e a conversa que desenvolve com seu pai tentando convencê-lo a não se matar que gera a motivação para que o mesmo se mate. Inclusive, conseguimos observar muito claramente que, até aquele momento, Michael Kahnwald não possuía qualquer tipo de “tendência suicida”. É só a partir da conversa com o filho — e da interferência da Claudia Tiedemann mais velha — que ele conclui que a sua morte é apenas uma tarefa pequena e necessária dentro de uma missão mais abrangente.
A série é recheada de acontecimentos desse tipo. Basicamente todos os personagens geram as suas próprias desgraças — isto é, os motivos de suas profundas angústias — a partir de ações que tentam alterar ou acabar com os acontecimentos que geraram as suas desgraças. Por essa razão, a série também nos apresenta um tipo de angústia bastante singular — as ações dos personagens para alterar ou destruir X acabam figurando como as ações necessárias para a existência de X. No caso de Jonas, a angústia é ainda maior — o personagem passa sua vida inteira colaborando para a sustentação indireta do nó temporal exatamente a partir de suas inúmeras tentativas de destruí-lo.
Não é mais ou menos isso o que os pensadores da primeira parte do texto estão debatendo? Olhando para as últimas décadas é possível perceber que boa parte das ações que visavam acabar ou alterar radicalmente o sistema capitalista colaboraram indiretamente para um desenvolvimento distinto e aprofundado da própria dinâmica capitalista. A grande ironia colocada pelos autores escolhidos é o fato de que realmente ocorreram profundas modificações no capitalismo a partir da incorporação de uma série de pautas do “espírito de 1968” — e isso foi péssimo para a política progressista de maneira geral.
No final das contas, o debate teórico da primeira sessão do texto nos alerta para o seguinte: tal qual os personagens em Dark, o nosso desejo legítimo de transformação radical da ordem vigente pode nos levar às armadilhas da pseudoatividade (a atividade constante a qualquer custo) (Zizek), que, além de não provocar qualquer tipo de alteração substancial na engrenagem visada, colabora exatamente para que nós não consigamos formular qualquer tipo de alternativa que funcione como um verdadeiro acontecimento prenhe de modificações estruturais em relação ao capitalismo. Assim como em maio de 1968, parece que continuamos alimentando o inimigo que queremos destruir.
3) Considerações finais
Então a melhor alternativa é não fazer nada e aceitar o irreversível “curto-circuito” da crítica?
Se levarmos a fundo a proposta do presente texto — de tratar Dark como uma metáfora prenhe de reflexões críticas — não é esse o tipo de elaboração possível de formular a partir dos desdobramentos conclusivos da terceira temporada. Como vimos, o nó temporal foi quebrado — e uma personagem bastante interessante teve papel crucial em todo esse processo.
Desde o início da série, as intenções de Claudia Tiedemann — assim como a de vários outros personagens, tais como Noah e Adam — possuíam um caráter bastante ambíguo. Era praticamente impossível ao telespectador situá-los no conjunto de personagens “bons” ou “maus” [9]. Apenas no final da trama percebemos que, diferentemente de Adam (que tinha como principal objetivo aniquilar toda a linha temporal de Winden, destruindo a si mesmo e a todos os personagens) e Eva (cujas ações visavam a manutenção de todo ciclo temporal a fim de garantir a existência de seu filho), Claudia queria uma espécie de “terceira via” — nem o Mundo 1 (o mundo de Jonas e Adam, do sumiço de Mikkel, etc.), nem o Mundo 2 (o mundo de Martha e Eva), mas sim o mundo original, que foi o responsável por dar origem à tal cisão (justificando ainda mais a importância da figura da triquetra em toda a série).
E como Claudia descobriu isso? Nos últimos episódios observamos que a posição privilegiada de “agente infiltrado” do Mundo 2 possibilitou a ela uma visão diferenciada a respeito da complexa dinâmica do laço temporal. Após muitos anos de estudo (e anotações na parede do bunker pós-apocalipse) sobre as intrincadas relações de parentesco entre os personagens dos diferentes mundos, Claudia percebeu que nem todos eles estavam associados ao nó temporal desde o seu nascimento — como é o caso de Katharina (que era Albers antes de ser Nielsen), de Peter (que nem morava em Winden e é filho de uma personagem que não foi revelada), de Hannah (que só se tornou Kahnwald após casar com Michael), dentre outros.
Partindo desta análise e das diferentes movimentações dos personagens ao longo dos ciclos temporais, a “personagem da heterocromia” compreendeu que, além das alternativas já conhecidas — ou o Mundo 1 ou o Mundo 2 — havia um caminho ainda distinto — o mundo de origem, no qual Tannhaus construiu uma máquina do tempo para reverter a morte de seu filho, nora e neta e, assim, deu origem a todo o ciclo temporal que conhecemos ao longo de Dark.
Portanto, assumindo os riscos inerentes à utilização de qualquer metáfora, podemos pensar o seguinte: a “resolução” encontrada por Claudia não surgiu de uma forma mágica e espontânea — tal como uma epifania — mas sim através de muito trabalho de organização, estudo e experimentação. Claudia dedicou bastante tempo à análise das relações familiares dos personagens e investigou — por meio da experimentação de suas próprias atitudes — os possíveis desdobramentos e possibilidades de desfecho advindos de diferentes ações dos demais personagens. Através dessa observação crítica, Claudia extraiu uma espécie de “teoria da mudança” do nó temporal e tentou colocá-la em prática.
É claro que a metáfora e o texto são bastante incompletos no que diz respeito ao tratamento de tema tão complexo e recheado de múltiplas determinações. Contudo, mesmo assumindo esses buracos, parece-nos haver coisas (conteúdos) relevantes e substanciais dentro dessa triquetra composta por estudo, organização e experimentação. Aproveitando o gancho, vale terminar com uma reflexão que, apesar de não ter sido retirada do roteiro da série, poderia facilmente ter estado lá: “Não podemos escapar das teias do destino, mas também não podemos escapar do fardo da responsabilidade pelo destino” (ZIZEK, 2017b p. 73)[10].
Notas de Rodapé:
[1] Vale comentar que em suas investigações e elaborações teóricas, tais autores analisam a crítica não apenas no campo “macro-político” — isto é, na esfera das reivindicações e denúncias elaboradas em oposição à manutenção do sistema capitalista — , mas também naquelas situações nas quais a atividade da crítica — ou seja, a ação a partir da qual determinadas categorias são questionadas e colocadas em suspensão, originando a famosa pergunta “o que está acontecendo aqui?” — é mobilizada em escala microssociológica. Exemplos elucidativos de tal postura analítica podem ser encontrados tanto em trabalhos originais destes autores (BOLTANSKI, 1987) quanto em pesquisas de outros sociólogos que seguem abordagens semelhantes(WERNECK, 2012). Não à toa, essa mesma corrente analítica pode ser ramificada também em outras “famílias” sociológicas similares (BARTHE et al., 2016), bem como também pode ser agrupada dentro de um conjunto mais abrangente de “novas sociologias” (VANDENBERGHE, VÉRAN; 2016) que possuem como “pai primordial” o renomado sociólogo francês Pierre Bourdieu (VANDENBERGHE, 2016).
[2] Max Weber, A ética protestante e o espírito do capitalismo (São Paulo, Companhia das Letras, 2004).
[3] Esta é uma visão que, sem sombra de dúvidas, também conversa bastante com diversas elaborações teóricas de Michel Foucault e outros pensadores influenciados por ele, tal qual Dardot e Laval (2017).
[4] Vale a pena mencionar também a obra Cinismo e falência da crítica (2015), escrita pelo filósofo Vladimir Safatle, na qual o autor discorre de maneira bastante densa a respeito de alguns dos temas tratados nesse texto.
[5] Não é exatamente esse tipo de percepção do sistema capitalista como uma “rotina sempre igual” que informa aqueles dizeres das famosas blusas do PSOL (“Nada deve parecer impossível de mudar”)?
[6] Não podemos deixar de mencionar — mesmo que brevemente — o quanto que a sustentação e o reforço do “supereu militante” são profundamente danosas para a saúde mental do militante e absurdamente aterradoras para a atividade política revolucionária de maneira geral.
[7] É interessante pensar também como essa política da pseudoatividade é extremamente reativa a qualquer tipo de manifestação pública de “ignorância” (sobretudo, se você é parte de algum coletivo que fomenta esse tipo de atividade) — não saber o que fazer diante de um mundo em crise é tido, não raras vezes, como algo reprovável, fruto de uma falta de habilidade (ou, pior, uma falta de vontade) de analisar a conjuntura atual dentro das coordenadas que certamente sempre são capazes de iluminar o caos em que vivemos. Acredito que assumir que não se sabe o que fazer diante de uma realidade “em desmantelo” pode ser um primeiro passo extremamente relevante para se conseguir pensar criticamente e pragmaticamente a respeito do que é possível tentar fazer.
[8] Além disso, Dark também é uma ótima metáfora para pensarmos o grande dilema do pensamento sociológico desde a sua origem: os problemas relacionados ao dilema ação vs estrutura. A todo o momento a série nos confronta com o seguinte questionamento: as estruturas (no caso, o nó temporal) possuem primazia sobre a ação ou, ao contrário, são os próprios agentes que possuem prevalência em relação às primeiras?
[9] Inclusive, esse é um dos melhores aspectos de Dark. Até o final você não consegue enquadrar facilmente nenhum personagem em qualquer tipo de caracterização maniqueísta de bondade ou maldade. Como trabalhado pelo roteiro desde o início, o pensamento dual (luz e sombra, bom e mau etc.) acaba se mostrando um tipo de raciocínio bastante limitado no que diz respeito às possibilidades de compreensão da (complexa) experiência humana. Ao longo da trama, o telespectador entende gradativamente as legítimas intenções dos personagens e, assim, se dá conta de que todos eles são bons e maus ao mesmo tempo — todos eles são e não são certas características simultaneamente. E não é isso o que acontece em nossa vida cotidiana?
[10] E a psicanálise não guarda um pouco de viagem no tempo também? A possibilidade — aberta pelo trabalho de análise — do encadeamento diferenciado dos Significantes-Mestre que estruturam minha experiência de vida pode alterar minha própria experiência do passado — e, assim, alterar de fato meu passado.
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