Por Adiah Hicks, traduzido por Lara Rossetto. Originalmente em Liberation School
“Claudia Jones advogou por maior diversidade em organizações progressistas e revolucionárias. Em um de seus textos mais famosos, “Um Fim à Negligência dos Problemas da Mulher Negra” [no original, “An End to the Neglect of the Problems of the Negro Woman”], Jones argumentava que para mobilizar efetivamente a comunidade negra, o Partido Comunista precisava pautar os problemas enfrentados pelas mulheres negras.”
Claudia Jones foi uma comunista revolucionária e ativista anticolonial. Nascida Claudia Vera Cumberbatch em 21 de fevereiro de 1915, em Porto de Espanha – Trinidad, Jones passou sua vida lutando pela libertação dos trabalhadores do mundo. Ela falava abertamente sobre questões raciais e de gênero e utilizava sua posição no Partido Comunista dos Estados Unidos para defender as causas das pessoas oprimidas. Ao longo de sua vida, ela apoiou diversas causas, incluindo educação, habitação e assistência médica. Dificuldades econômicas forçaram Jones e sua família a emigrar para os Estados Unidos no início de 1920. Em 1936 ela fez parte de uma campanha para libertar os Scottsboro Boys – nove adolescentes negros falsamente acusados de estuprar duas garotas brancas. Na época, o Partido Comunista estava liderando o movimento pela libertação dos Scottsboro Boys, e Jones entrou na Liga dos Jovens Comunistas. Na organização, ela encontrou camaradas que lutariam pelas causas que eram importantes para ela.
A principal dessas causas era a libertação das pessoas negras e das mulheres. Inclusive, Jones atribui seu entendimento de que a filosofia científica marxista-leninista é a antítese das ideias racistas às suas experiências como uma mulher negra trabalhadora na América de Jim Crow[1].
Claudia Jones advogou por maior diversidade em organizações progressistas e revolucionárias. Em um de seus textos mais famosos, “Um Fim à Negligência dos Problemas da Mulher Negra” [no original, “An End to the Neglect of the Problems of the Negro Woman”], Jones argumentava que para mobilizar efetivamente a comunidade negra, o Partido Comunista precisava pautar os problemas enfrentados pelas mulheres negras. No artigo, Jones contextualizou historicamente o papel das mulheres negras como líderes e organizadoras em suas comunidades. Ela advertia os progressistas por falhar na inclusão de mulheres negras tanto organizacionalmente quanto socialmente. Ela escreveu que “chamar a mulher negra para a luta pela paz é decisivo para todas as lutas”. Segundo Jones, a posição das mulheres negras na classe trabalhadora fazia delas as mais capazes de compreender os males do sistema capitalista racista e, desse modo, a necessidade do socialismo.
Claudia Jones priorizava a necessidade de acabar com o racismo e o chauvinismo em todas as suas formas. Ela dizia que a narrativa da “batalha dos sexos”, que era frequentemente apresentada na mídia e na academia, só servia para dividir e oprimir ainda mais os trabalhadores. Mitos da inferioridade feminina eram, e ainda são, uma ferramenta usada para impedir os trabalhadores de reconhecer seus interesses mútuos em se libertar do sistema capitalista.
Como membro do Partido Comunista dos Estados Unidos, Jones foi capaz de desenvolver suas habilidades como organizadora e jornalista. Ela escreveu para o jornal do CPUSA [Partido Comunista dos Estados Unidos], o Daily Worker, e era editora da Weekly Review, da Liga dos Jovens Comunistas. Depois de se tornar membro integral em 1945, Jones se tornou uma líder proeminente no partido. Ela continuou trabalhando em várias publicações e foi até eleita para o Comitê Nacional do partido em 1948.
O governo dos EUA perseguiu Claudia Jones, assim como fez com vários membros do Partido Comunista. Em 1948 ela foi presa sob o Smith Act [2] por ensinar marxismo. No total, ela foi presa três vezes. Em 1955 ela foi deportada para a Inglaterra. Ao chegar lá, ela procurou membros do Partido Comunista. Ela descobriu que, assim como nos Estados Unidos, o partido tinha problemas no combate ao racismo. Ela se alinhou com o Partido Comunista da Grã-Bretanha, que lá era o único partido que falava de imperialismo e desigualdades raciais na época.
Na Inglaterra, Jones trabalhou com comunidades afro-caribenhas, e uma grande parte do seu trabalho era advogar por habitação justa e educação. Ela também cumpriu um grande papel na organização do Notting Hill Carnival. Ela destacava a importância dos artistas na comunidade, dizendo que “a arte de um povo é a gênese de sua liberdade”. Jones expunha a conexão entre as comunidades em que trabalhava e o imperialismo. Ela utilizava as habilidades que havia desenvolvido como jornalista no CPUSA para comandar um jornal caribenho chamado The West Indian Gazette no qual ela atualizava os leitores sobre as lutas anti-imperialistas ao redor do mundo.
Jones continuou lutando pela libertação das mulheres, africanos e membros da diáspora africana. A erradicação do colonialismo e do imperialismo ao redor do mundo continuou sendo central em sua militância. Claudia Jones trabalhou incansavelmente para defender as causas do socialismo e libertação desde seus 18 anos até sua morte em 1964.
Notas
[1] Referindo-se aos Estados Unidos sob o regime de segregação racial das leis de Jim Crow (vigentes até 1964), que impunham instalações separadas para brancos e negros em todos os locais públicos.
[2] Estatuto federal promulgado em 28 de junho de 1940 que proibia ensinar ou defender a derrubada violenta do governo americano. O Smith Act fez parte do segundo Red Scare (ameaça vermelha), período de intensa perseguição, criminalização e assassinato de líderes comunistas, sob o pressuposto do perigo da influência soviética e chinesa (em plena Guerra Fria) à segurança do país.