Por Vladimir Ilitch Lênin, via marxists.org, traduzido por Miguel Fernandes. [1]
Camaradas, ao fim da minha carta aos trabalhadores americanos, datada de 20 de agosto de 1918, eu escrevi que estamos em uma fortaleza sitiada, enquanto os outros exércitos da revolução socialista mundial não nos socorrerem. Acrescentei que os trabalhadores estão rompendo com seus social-traidores, os Gomperses e Renners. Os trabalhadores estão lenta, mas seguramente, se aproximando das táticas comunistas e bolcheviques.
Menos de cinco meses se passaram desde que essas palavras foram escritas e deve ser dito que durante esse período, em vista do fato de que os trabalhadores de vários países se voltaram ao comunismo e ao bolchevismo, o amadurecimento da revolução proletária mundial tem procedido muito rapidamente.
Ali, em 20 de agosto de 1918, somente o nosso Partido, o Partido Bolchevique, tinha rompido resolutamente com a velha Segunda Internacional de 1889-1914 que tão vergonhosamente colapsou durante a guerra imperialista de 1914-18. Somente o nosso Partido tinha tomado inequivocamente, dos socialistas e socialdemocratas que haviam se desonrado ao se aliarem à burguesia predatória, o novo caminho ao comunismo; do oportunismo e reformismo pequeno-burgueses que tinham permeado totalmente, e agora permeiam, os partidos socialdemocratas e socialistas oficiais, o novo caminho às táticas genuinamente proletárias, revolucionárias.
Agora, em 12 de janeiro de 1919, já vemos vários partidos proletários comunistas, não somente dentro das fronteiras do antigo império czarista – na Letônia, Finlândia, Polônia, por exemplo – mas também na Europa Ocidental – Áustria, Hungria, Holanda e, por fim, Alemanha. A fundação de uma genuinamente proletária, genuinamente internacionalista, genuinamente revolucionária Terceira Internacional, a Internacional Comunista, se tornou um fato quando a Liga Espartaquista, com líderes mundialmente conhecidos e famosos, com ferrenhos defensores da classe trabalhadora como Liebknecht, Rosa Luxemburgo, Clara Zetkin e Franz Mehring fez uma clara ruptura com socialistas como Scheidemann e Südekum, social-chauvinistas (socialistas nas palavras, mas chauvinistas na prática) que alcançaram a eterna vergonha por sua aliança com a predatória e imperialista burguesia alemã e com Wilhelm II. Tornou-se um fato quando a Liga Espartaquista mudou seu nome para Partido Comunista da Alemanha. Embora ainda não tenha sido oficialmente inaugurada, a Terceira Internacional efetivamente existe.
Nenhum trabalhador com consciência de classe, nenhum socialista sincero pode agora deixar de ver o quão covarde foi a traição ao socialismo por aqueles que, como os Mencheviques e “Socialistas Revolucionários” na Rússia, os Scheidemanns e Südekuns na Alemanha, os Renaudels e Vanderveldes na França, os Hendersons e Webbs na Grã-Bretanha, e Gompers & Cia. na América, apoiaram “sua” burguesia na guerra de 1914-18. Essa guerra se expôs totalmente como uma guerra imperialista, reacionária e predatória tanto por parte da Alemanha como por parte dos capitalistas da Grã-Bretanha, França, Itália e América. Estes últimos estão agora começando a discutir sobre os espólios, sobre a divisão da Turquia, da Rússia, das colônias africanas e polinésias, dos Bálcãs e assim por diante. As frases hipócritas proferidas por Wilson e seus seguidores sobre “democracia” e “união de nações” são expostas com incrível rapidez quando vemos a captura da margem esquerda do Reno pela burguesia francesa, a captura da Turquia (Síria, Mesopotâmia) e de parte da Rússia (Sibéria, Arkhangelsk, Baku, Krasnovodsk, Ashgabat e assim por diante) pelos capitalistas franceses, britânicos e americanos, e a crescente animosidade no que diz respeito à divisão dos espólios entre Itália e França, França e Grã-Bretanha, Grã-Bretanha e América, América e Japão.
Ao lado dos “socialistas” covardes, irresolutos, que estão totalmente imbuídos dos preconceitos da democracia burguesa, que ontem defenderam “seus” governos imperialistas e hoje se limitam a “protestos” platônicos contra a intervenção militar na Rússia – ao lado destes há um número crescente de pessoas nos países Aliados que tomaram o caminho comunista, o caminho de Maclean, Debs, Loriot, Lazzari e Serrati. São esses os homens que perceberam que, para que o imperialismo seja esmagado e a vitória do socialismo e a paz duradoura sejam asseguradas; a burguesia deve ser esmagada; os parlamentos burgueses, abolidos; e o poder soviético e a ditadura do proletariado, estabelecidos.
Nessa altura, em 20 de agosto de 1918, a revolução proletária estava confinada à Rússia e o “governo soviético”, isto é, o sistema sob o qual todo poder estatal é conferido aos Deputados dos Sovietes de Trabalhadores, Soldados e Camponeses, ainda parecia ser (e de fato era) uma instituição exclusivamente russa.
Agora, em 12 de janeiro de 1919, nós vemos um forte movimento “soviético” não somente em partes do antigo império czarista, por exemplo, na Letônia, Polônia e Ucrânia, mas também em países da Europa ocidental, em países neutros (Suíça, Holanda e Noruega) e em países que sofreram com a guerra (Áustria e Alemanha). A revolução na Alemanha – que é particularmente importante e característica como um dos mais avançados países capitalistas –imediatamente assumiu formas “soviéticas”. Todo o curso da revolução alemã, e particularmente a luta dos espartaquistas, i.e., os verdadeiros e únicos representantes do proletariado, contra a aliança desses canalhas traiçoeiros, os Scheidemanns e Südekums, com a burguesia – tudo isso mostra claramente como a história formulou a questão em relação à Alemanha:
“Poder soviético” ou o parlamento burguês, não importa sob qual tabuleta (tal como Assembleia “Nacional” ou “Constituinte”) isto vai aparecer.
É assim que a história mundial formulou a questão. Agora, isso pode e deve ser dito sem qualquer exagero.
O “Poder soviético” é o segundo passo histórico, ou estágio, no desenvolvimento da ditadura do proletariado. O primeiro passo foi a Comuna de Paris. A brilhante análise de sua natureza e significado feita por Marx em seu A Guerra Civil na França mostrou que a comuna criou um novo tipo de Estado, um Estado proletário. Todo Estado, incluindo a mais democrática república, é nada exceto uma máquina para a supressão de uma classe por outra. O Estado proletário é uma máquina para a supressão da burguesia pelo proletariado. Tal supressão é necessária por conta da furiosa e desesperada resistência dos latifundiários e capitalistas, de toda a burguesia e seus seguidores, de todos os exploradores, que não hesitam em nada quando são derrubados, quando a expropriação dos expropriadores começa.
O parlamento burguês, até mesmo o mais democrático na república mais democrática, em que a propriedade e a dominação dos capitalistas são preservadas, é uma máquina para a supressão de milhões de trabalhadores por pequenos grupos de exploradores. Os socialistas, os lutadores pela emancipação dos trabalhadores da exploração, tiveram de usar o parlamento burguês como uma plataforma, como uma base, para propaganda, agitação e organização enquanto nossa luta esteve confinada à estrutura do sistema burguês. Agora que a história mundial trouxe à tona a questão de destruir todo este sistema, de derrubar e suprimir os exploradores, de passar do capitalismo ao socialismo, seria uma traição vergonhosa ao proletariado desertar para sua classe inimiga, a burguesia, e ser um traidor e um renegado para se confinar ao parlamentarismo burguês, à democracia burguesa, para apresentá-la como uma “democracia” em geral, para ocultar seu caráter burguês, para esquecer que enquanto a propriedade capitalista existir, o sufrágio universal é um instrumento do Estado burguês.
As três tendências do socialismo mundial, sobre as quais a imprensa bolchevique tem falando incessantemente desde 1915, se destacam hoje com particular distinção frente ao pano de fundo da luta sangrenta e da guerra civil na Alemanha.
Karl Liebknecht é um nome conhecido pelos trabalhadores de todos os países. Em todo lugar, e particularmente nos países Aliados, é o símbolo da devoção de um líder aos interesses do proletariado e da lealdade à revolução socialista. É o símbolo da realmente sincera, realmente abnegada e implacável luta contra o capitalismo. É o símbolo da intransigente luta contra o imperialismo, não em palavras, mas em ações; da abnegada luta precisamente no período em que o “próprio” país está encharcado de vitórias imperialistas. Junto de Liebknecht e os Espartaquistas estão todos aqueles socialistas alemães que permaneceram honestos e realmente revolucionários, todos os melhores e dedicados homens entre o proletariado, as massas exploradas que estão fervendo de indignação e que entre as quais há uma crescente disposição para a revolução.
Contra Liebknecht estão os Scheidemanns, os Südekums e todo o bando de lacaios desprezíveis do Kaiser e da burguesia. Eles são tão traidores ao socialismo quanto os Gomperses e Victor Bergers, os Hendersons e Webbs, os Renaudels e Vanderveldes. Eles representam aquela seção superior de trabalhadores que foram subornados pela burguesia, aqueles que nós Bolcheviques chamamos (aplicando o nome aos Südekums russos, os Mencheviques) de “agentes da burguesia no movimento da classe trabalhadora” e aos quais os melhores socialistas na América deram o título magnificamente expressivo e muito cabível de: “tenentes de trabalho da classe capitalista”. Eles representam o mais recente, “moderno”, tipo de traição socialista, pois em todos os países civilizados, avançados, a burguesia rouba – seja pela opressão colonial ou por extrair financeiramente “ganhos” de países fracos formalmente independentes – eles roubam uma população muitas vezes maior que a de “seu próprio” país. Esse é o fator econômico que permite à burguesia imperialista obter superlucros, parte dos quais é utilizada para subornar a seção superior do proletariado e convertê-la em uma pequena-burguesia reformista, oportunista que teme a revolução.
Entre os Espartaquistas e os homes de Scheidemann, estão os vacilantes, covardes “Kautskistas”, que em tese são “independentes”, mas na prática são totalmente, e desde o princípio, dependentes da burguesia e dos homens de Scheidemann em um dia, dos Espartaquistas no próximo, alguns seguindo os primeiros e outros, os segundos. São pessoas sem ideias, sem fundamento, sem política, sem honra, sem consciência; são a encarnação viva da desorientação dos filisteus que representam a revolução socialista nas palavras, mas em verdade são incapazes de entende-la quando ela já começou e, de forma renegada, defendem a “democracia” em geral, ou seja, na realidade defendem a democracia burguesa.
Em todo país capitalista, todo trabalhador pensante irá, na situação que varia de acordo com as condições nacionais e históricas, perceberá estas três principais tendências entre os socialistas e entre os sindicalistas, pois a guerra imperialista e a incipiente revolução proletária mundial engendram tendências ideológicas e políticas idênticas por todo o mundo.
* * *
As linhas anteriores foram escritas antes do brutal e vil assassinato de Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo pelo governo de Ebert e Scheidemann. Esses carniceiros, em seu servilismo à burguesia, permitiram que os guardas brancos alemães, os cães de guarda da sagrada propriedade capitalista, linchassem Rosa Luxemburgo, assassinassem Karl Liebknecht, alvejando-o nas costas sob a alegação patentemente falsa de que ele “tentou escapar” (o czarismo russo usou frequentemente essa desculpa para assassinar prisioneiros durante sua sangrenta repressão à revolução de 1905). Ao mesmo tempo, esses carniceiros protegeram os guardas brancos com a autoridade do governo, que afirma ser bastante inocente e estar acima das classes! Nenhuma palavra pode descrever o caráter sujo e abominável da carnificina perpetrada por supostos socialistas. Evidentemente, a história escolheu um caminho em que o papel dos “tenentes de trabalho da classe capitalista” deve ser desempenhado até o “último grau” de brutalidade, baixeza e mesquinhez. Que esses simplistas, os kautskistas, falem em seu jornal Freiheit [2] sobre uma “corte” de representantes de “todos” partidos “socialistas” (essas almas servis insistem que os executores de Scheidemann são socialistas)! Esses heróis da estupidez filisteia e da covardia pequeno-burguesa falham até mesmo em que as cortes são organismos do poder estatal, e que a questão da luta e da guerra civil que agora se trava na Alemanha é precisamente uma de quem detém esse poder – a burguesia, “servida” pelos Scheidemann como executores e incitadores de pogroms, pelos kautskistas como glorificadores da “democracia pura”, ou pelo proletariado, que vai derrubar os exploradores capitalistas e esmagará sua resistência.
O sangue dos melhores representantes da Internacional proletária mundial, dos inesquecíveis líderes da revolução socialista mundial, irá conduzir novas massas de trabalhadores para a luta de vida ou morte. E essa luta levará à vitória. Nós, na Rússia, no verão de 1917, passamos pelas “Jornadas de Julho”, [3] quando os Scheidemann russos, os Mencheviques e os Socialistas Revolucionários, também provieram proteção “estatal” para a “vitória” dos guardas brancos sobre os Bolchevique, e quando os cossacos atiraram no trabalhador Voinov nas ruas de Petrogrado por distribuir folhetos Bolcheviques. [4] Nós sabemos por experiência própria o quão rápido tais “vitórias” da burguesia e de seus capangas curam o povo de suas ilusões sobre democracia burguesa, “sufrágio universal” e assim por diante.
* * *
A burguesia e os governos dos países aliados parecem estar hesitantes. Uma seção vê que a desmoralização já está se instalando entre as tropas aliadas na Rússia, que estão ajudando os guardas brancos e servindo à reação dos mais sombrios monarquistas e proprietários de terra. Ela compreende que a continuação da intervenção militar e das tentativas de derrotar a Rússia – o que significaria manter um forte exército de ocupação por muito tempo – é a forma mais segura e rápida de levar a revolução proletária aos países aliados. O exemplo das forças de ocupação alemãs na Ucrânia é suficientemente convincente sobre isso.
Outra seção da burguesia aliada persiste em sua política de intervenção militar, “cerco econômico” (Clemenceau) e estrangulamento da República Soviética. Toda a imprensa a serviço dessa burguesia, i.e., a maioria dos jornais diários comprados pelos capitalistas na Grã-Bretanha e na França, prevê o colapso precoce do governo soviético, desenha imagens sensacionalistas dos horrores da fome na Rússia, mente sobre “desordens” e a “instabilidade” do governo soviético. Os exércitos de guardas brancos dos fazendeiros e capitalistas, a quem os aliados estão ajudando com oficiais, munição, dinheiro e destacamentos auxiliares, estão isolando as famintas partes centrais e setentrionais da Rússia das regiões mais férteis, Sibéria e o Don.
A angústia dos trabalhadores famintos em Petrogrado e Moscou, em Ivanovo-Voznesensk e outros centros industriais é realmente grande. Se os trabalhadores não entendessem que eles estão defendendo a causa do resmo na Rússia e em todo o mundo, eles nunca seriam capazes de suportar as dificuldades, os tormentos da fome aos quais estão condenados pela intervenção militar aliada (muitas vezes coberta por promessas hipócritas de não enviarem suas “próprias” tropas, enquanto continuam a enviar tropas “negras”, e também munição, dinheiro e oficiais).
As tropas aliadas e dos guardas brancos detém Arkhangelsk, Perm, Orenburg, Rostov-on-Don, Baku e Ashgabat, mas o “movimento soviético” conquistou Riga e Kharkov. Letônia e Ucrânia estão se tornando repúblicas soviéticas. Os trabalhadores veem que seus grandes sacrifícios não são em vão, que a vitória do poder soviético está se aproximando, espalhando-se, crescendo e ganhando força por todo o mundo. Todo mês de luta árdua e pesado sacrifício fortalece a causa do poder soviético em todo o mundo e enfraquece seus inimigos, os exploradores.
Os exploradores ainda são fortes o suficiente para assassinar os melhores líderes da revolução proletária mundial, [5] para aumentar os sacrifícios e o sofrimento dos trabalhadores em países e regiões ocupadas ou conquistadas. Mas os exploradores de todo o mundo não são fortes o suficiente para prevenir a vitória da revolução proletária mundial, que libertará a humanidade do jugo do capital e da eterna ameaça de novas guerras imperialistas, que são inevitáveis sob o capitalismo.
Lênin
21 de janeiro, 1919.
Notas
[1] A carta de Lênin aos trabalhadores da Europa e América ajudou os trabalhadores avançados a se mobilizarem em torno dos partidos comunistas e a unirem suas forças na luta contra o imperialismo internacional.
[2] A carta foi publicada em Berlim na edição de março da revista Die Aktion e na edição de abril da revista Der Arbeiter-Rat (O Conselho dos Trabalhadores) em 1919. Ela também apareceu como um panfleto separado em inglês.
[3] Die Freiheit – um jornal diário, organismo do Partido Social-Democrata Independente da Alemanha, publicado em Berlim de 15 de novembro de 1918 a 30 de setembro de 1922.
[4] isto se refere às manifestações em massa ocorridas em Petrogrado em 3-4 (16-17) de julho de 1917. A ofensiva, obviamente desesperada, lançada pelo Governo Provisório e que terminou no fracasso esperado suscitou indignação entre os trabalhadores, soldados e marinheiros, que se dirigiram para uma manifestação. O movimento foi iniciado pelo Primeiro Regimento de Metralhadoras que entrou em ação em 3 (16) de julho, no distrito de Vyborg. A manifestação tentou se desenvolver em uma ação armada contra o governo.
O partido bolchevique se opunha à ação armada, considerando que uma crise revolucionaria ainda não havia amadurecido no país. Em uma reunião do Comitê Central convocada em 3 (16) de julho às 16 horas, foi decidido tentar parar a manifestação. Uma decisão similar foi adotada na Segunda Conferência dos Bolcheviques de Petrogrado, que se reuniu ao mesmo tempo. Os delegados foram às fábricas e distritos para dissuadir o povo da manifestação. Mas era tarde demais, a manifestação já havia começado.
Tarde da noite de 3 (16) de julho, os Comitês Central e de Petrogrado e a Organização Militar, levando em conta o humor popular, decidiram tomar parte na manifestação com vistas a mantê-la pacífica e organizada. Lênin tinha estado fora da cidade por um tempo, descansando por uns dias do estresse de seu trabalho. Assim que ele soube dos acontecimentos em Petrogrado, ele partiu à cidade, onde chegou na manhã de 4 (17) de julho e assumiu liderança do movimento. Nesse mesmo dia, da varanda do Palácio Kshesinskaya, ele se dirigiu aos marinheiros de Kronstadt. Ele os convidou a serem firmes, fortes e vigilantes.
Mais de 500.000 pessoas participaram da manifestação, sob o slogan “Todo Poder aos Sovietes” e outros slogans bolcheviques. Os manifestantes exigiram que o Comitê Executivo Central assumisse o poder. Os líderes Socialistas Revolucionários e Mencheviques não atenderam à demanda.
Com a ciência e a conivência do Comitê Executivo Central Socialista-Revolucionários-Mencheviques, o Governo Provisório ordenou que o cadete oficial e as unidades cossacas lidassem com os manifestantes. As tropas abriram fogo. Unidades contrarrevolucionárias haviam sido trazidas do front para reprimir a manifestação.
A reunião dos Comitês Central e de Petrogrado, que aconteceu na noite de 4-5 de julho com Lênin na presidência, decidiu cancelar a manifestação de maneira organizada. Foi um movimento sábio, pois permitiu que o Partido fizesse uma retirada oportuna e evitasse a derrota das principais forças da revolução. Os Mencheviques e Socialistas Revolucionários, na verdade, passaram a ajudar e incentivar a repressão contrarrevolucionária. Eles se alinharam com a burguesia para atacar o Partido Bolchevique. Pravda, Soldatskaya Pravda e outros jornais Bolcheviques foram suprimidos e a gráfica Trud, adquirida com o dinheiro dos trabalhadores, foi destruída. Trabalhadores foram desarmados e presos, buscas domiciliares e pogroms começaram. Unidades revolucionárias da guarnição de Petrogrado foram retiradas da capital e enviadas ao front.
Após as Jornadas de Julho, o poder no país passou completamente para as mãos do Governo Provisório e os Soviéticos se tornaram seu apêndice impotente. O poder duplo chegou ao fim, assim como o período pacífico do desenvolvimento da revolução. Os Bolcheviques estavam agora diante da tarefa de preparar uma revolta armada para derrubar o Governo Provisório. Lênin descreveu as Jornadas de Julho em seus artigos “Três Crises”, “Uma Resposta”, “Marxismo e Insurreição”, “A Revolução Russa e Guerra Civil” e outros (Obras Escolhidas. Vol. 25, p. 73-169 e 18-208, e Vol. 26, p. 22-27 e 28-42).
[5] Lênin se refere ao assassinato, ocorrido em 6 (19) de julho de 1917, do bolchevique I. A. Voinov, um correspondente ativo do Pravda e um trabalhador na gráfica do Pravda. Depois que os escritórios do Pravda foram destruídos, ele participou da publicação de Listok Pravdy; (Jornal do Pravda) durante as Jornadas de Julho e foi morto enquanto estava distribuindo o jornal na Rua Shpalernaya (hoje, Rua Voinov).