Por Rafael Emilio Cervantes Martínez, Lucilo Batlle Reyes, José A. Rodríguez Ben, Yusmila Zamora Silva, via Cuba Socialista, traduzido por Leandro Curvelo
Em 1º de janeiro de 1959, uma profunda revolução ocorreu em Cuba sob a orientação histórica de Fidel Castro. Nas nossas condições, não se pode falar estritamente do marxismo-leninismo sem estudar o pensamento e a prática revolucionária de Fidel. Foi ele quem desenvolveu uma forma singular de interpretar o marxismo, o leninismo e o pensamento martiano [N.T: de Martí], para produzir uma síntese absolutamente criativa e, a partir daí, compreender as condições histórico-concretas de Cuba e chegar à vanguarda da luta de todo um povo unido, ao triunfo de primeiro de janeiro de 1959 e depois conduzi-lo vitoriosamente.
Publicada em 1º de dezembro de 2020, no site da revista teórica e política do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba, Cuba Socialista
O modo de ser marxista-leninista de Fidel constitui uma reconceptualização muito original do termo, longe de todo esquematismo e dogmatismo. Sua concepção é revolucionária, universal, crítica e aberta, enraizada em nossas peculiares condições nacionais, ao mesmo tempo em que defende os princípios universais que dão identidade à doutrina comprometida com a causa dos oprimidos do mundo.
A visão marxista-leninista de Fidel é o patrimônio da cultura política do povo cubano, forjada sob sua intensa pregação, sua autoridade política e intelectual e o exemplo de sua prática revolucionária, aplaudida por nosso povo em todos os ambientes em que Fidel a proclamou. Isso justifica sua ideia de “nosso direito de sermos marxistas-leninistas”
“Qual é o grande mérito de Lênin? Lênin […] pega o pensamento de Marx, defende-o contra todas as mistificações, contra todos os revisionismos, contra todas as revisões e mudanças que eles quiseram fazer, e armado da teoria, forma um partido, luta dentro desse partido contra todas as correntes pequeno-burguesas, contra todas as correntes não revolucionárias […] Lênin tem o mérito extraordinário de ter interpretado plenamente o pensamento de Marx, de tê-lo colocado em prática e desenvolvido em novas circunstâncias, como é a de um partido revolucionário no poder, e desenvolve toda uma teoria, um pensamento de uma profundidade extraordinária.” [1]
E acrescenta a este respeito:
“Ninguém, como ele, foi capaz de interpretar toda a profundidade e toda a essência e todo o valor da teoria marxista. Ninguém como ele foi capaz de interpretar esta teoria e levá-la às últimas consequências […]. Não que não tenham existido alguns antecessores que disseminaram o pensamento de Marx, mas o desenvolvimento do pensamento político e revolucionário é tão influenciado pela atividade criadora de Lênin que deve ser dito que ele era verdadeiramente a alma desse pensamento revolucionário […]” [2]
“Marx e Lênin constituem precisamente essas duas personalidades humanas que marcarão a passagem da pré-história à história da humanidade. ” [3]
Formação do pensamento revolucionário marxista-leninista de Fidel Castro
No projeto de programa do Partido Socialista do Peru (1928, primeiro nome do Partido Comunista Peruano), Mariátegui expressou sua ideia sobre a nova etapa da teoria do marxismo revolucionário:
“O capitalismo encontra-se em sua fase imperialista. É o capitalismo dos monopólios, do capital financeiro, das guerras imperialistas pela apropriação dos mercados, das fontes de matérias-primas. A práxis do socialismo marxista neste período é a do marxismo-leninismo. O marxismo-leninismo é o método revolucionário da etapa do imperialismo e dos monopólios. O Partido Socialista do Peru o adota como seu método de luta. ” [4]
Em Cuba, o primeiro partido dos comunistas cubanos, desde a sua fundação em agosto de 1925, encarnou as ideias marxista-leninistas e desde então estão presentes em sua intensa atividade de educação e mobilização das amplas massas populares pela libertação nacional e pelo socialismo. “Nunca será possível esquecer” – disse Fidel – “o papel que este Partido de Comunistas desempenhou na difusão das ideias marxista-leninistas e na formação de uma consciência revolucionária entre os nossos trabalhadores e o povo […] Não havia universidades do comunismo, mas havia um partido marxista-leninista que ensinava comunismo! ”[5]
Sobre esse processo de sua formação marxista-leninista, Fidel explica:
“Tivemos nossos primeiros contatos com os comunistas quando éramos estudantes universitários […]. Na biblioteca do Partido Comunista da rua Carlos III compramos os nossos primeiros livros marxista-leninistas […] graças a essa biblioteca e à admiração que o comportamento dos comunistas despertava, entramos em contato com essa literatura […] E o núcleo fundamental daqueles de nós que organizamos o Movimento “26 de julho” adquirimos nossos livros naquela biblioteca […] ”[6]
Nas inúmeras explicações que Fidel ofereceu após o triunfo revolucionário sobre este importante tema, sempre enfatizou o seguinte:
“Quando o Manifesto Comunista caiu em minhas mãos pela primeira vez, eu estava totalmente preparado para interpretá-lo. Teve um efeito tremendo em mim. Lendo este trabalho, recebi uma explicação teórica de todas aquelas questões que me agitavam e das soluções que procurava por conta própria. O que aconteceu? Rapidamente comecei a me tornar comunista por causa das minhas convicções […]”[7]
Articulação e síntese do pensamento martiano e das ideias do marxismo-leninismo no pensamento de Fidel.
Este é outro dos aspectos essenciais de seu pensamento. Fidel incorporou dialeticamente ambos troncos culturais sem conflito e o pensamento latino-americano. A partir desse processo de integração cultural foi constituído seu pensamento exuberante e original. A este respeito referiu-se em numerosas ocasiões: “[…] creio que a minha contribuição para a Revolução Cubana consiste em ter feito uma síntese das ideias de Martí e do marxismo-leninismo e aplicá-las de forma consequente na nossa luta […]” [8] E em outro momento, aprofunda sobre isso:
“Nossa Revolução foi inspirada nas ideias martianas e nas ideias marxista-leninistas; é uma síntese de ambas, e continua a ser essa síntese […] devemos agora colocar muita ênfase no que é nosso, no nacional, no martiano, sem esquecer um minuto do marxismo e do leninismo […]. Claro, a interpretação do marxismo-leninismo ninguém nos inculcou, em vez disso, os próprios revolucionários cubanos fizemos a nossa interpretação do marxismo-leninismo, uma interpretação que não é isenta de erros, longe disso […]. Quer dizer que em nosso país, as ideias do marxismo-leninismo foram interpretadas de forma criadora e as acrescentamos a esse imenso tesouro que é o pensamento martiano; Acho que isso explica a força ideológica de nossa Revolução e o espírito de nosso povo. Levantemo-nos com as ideias martianas! Levantemo-nos com as ideias do marxismo-leninismo e do socialismo! ” [9]
Fidel acreditava tão convencidamente na justeza do marxismo-leninismo que não hesitou em considerar que José Martí, um homem tão reconhecido pela originalidade e autoctonia de seu pensamento, como ele mesmo foi durante toda a sua vida, se tivesse vivido em nosso tempo, teria tornado seu o legado do marxismo-leninismo. Diz a este respeito: “[…] há uma continuidade de pensamento das ideias de Martí e das ideias marxista-leninistas, que correspondem a esta época onde existe o imperialismo, onde existe o capitalismo […]. E se Martí foi capaz de ter aquele pensamento naquela época, hoje Martí seria um marxista-leninista, seria comunista, não há dúvida. Na sua época e ambiente era impossível, mas era um pensamento avançado e luminoso […] ”[10]
A força do marxismo-leninismo.
Em numerosas ocasiões, Fidel referiu-se à força do marxismo-leninismo e o que significou para a sua formação revolucionária. Em entrevista à Revista Internacional, afirma:
“Posso dizer o seguinte – e isto parte de uma convicção muito profunda – que não teríamos sido capazes de fazer a revolução se não tivéssemos partido dos princípios marxista-leninistas […] fizeram-me revolucionário e isso o agradeço e agradecerei sempre ao marxismo-leninismo […]. Sem esta base teórica não teríamos concebido uma estratégia revolucionária correta e vitoriosa […] isto é, não teríamos mudado a situação social do nosso país, não teríamos nos libertado da dominação imperialista. ” [11]
E numa entrevista a Gianni Miná, reitera a sua profunda convicção sobre o valor do marxismo-leninismo: “Já expliquei como se formou e se desenvolveu esse pensamento, quais foram minhas concepções. Se alguém me perguntar por uma prova, eu diria que a própria Revolução, porque ninguém que não tivesse uma formação marxista-leninista poderia ter interpretado os acontecimentos em Cuba e poderia ter desenvolvido uma estratégia para fazer a Revolução, e foram precisamente essa concepção e essas ideias que, a meu ver, me permitiram desenvolver uma estratégia que nos conduziu ao sucesso por ter noções científicas do que era a nossa sociedade, o nosso país, quais eram os seus problemas e qual era realmente o único caminho de fazer uma revolução […] ”[12]
Pensamento e a prática revolucionária em Fidel é falar estritamente do marxismo-leninismo.
Os nomes com que se referiu indistintamente à nossa doutrina marxista em diferentes momentos, inclusive em uma mesma intervenção e em um mesmo fio de ideias, demonstram a forma isenta de preconceitos com que assumiu o modo em que entendeu ser marxista-leninista, sem fundamentalismo ideológico algum, com naturalidade do significado dos termos e conceitos, que se complementam e contrapõem conforme o caso. Ao longo de todo o seu pensamento em que foi construindo sua própria forma de interpretar o marxismo, não encontramos em Fidel uma única alusão crítica ao uso de uma diversidade de termos quando nos referimos à tradição marxista. Ele não se encontra em polêmicas contra a expressão de marxismo, leninismo, marxismo e leninismo e mesmo marxismo leninismo sem hífen. Ele não concebe a construção marxismo-leninismo como um grau de autenticidade superior a outros termos, que de forma alguma ele concebe como insuficientes ou inexatos ou que impliquem em algum tipo de leitura ideológica ou política negativa. No entanto, é indiscutível que o termo favorito de Fidel é o de marxismo-leninismo. Ele encontrou nessa formulação composta a maneira mais completa e definidora de resumir o marxismo.
Ideólogo e educador do povo nas ideias do marxismo-leninismo.
É Fidel quem vence a batalha ideológica contra o macarthismo imperialista em Cuba, que inoculou nos instintos do povo cubano um anticomunismo visceral que, em sua opinião, na época do triunfo da Revolução, apresentava uma correlação adversa de forças em relação ao marxismo de 1000 contra 1. Foi Fidel quem educou o povo cubano nas ideias do marxismo-leninismo e o fez, como tudo seu, com maestria exemplar.
Em 2 de dezembro de 1961, por ocasião do quinto aniversário do desembarque do Granma, ele fez sua primeira declaração pública de sua adesão ao marxismo-leninismo. Então Fidel afirmou: “Simplesmente temos que aplicar o socialismo científico. Por isso comecei dizendo com total franqueza que acreditamos no marxismo, que acreditamos que é a teoria mais correta, a mais científica, a única teoria verdadeiramente revolucionária. Digo-o aqui com total satisfação e com plena confiança: sou marxista-leninista e serei marxista-leninista até o fim da minha vida. ”[13]
No dia 20 de dezembro, perto do primeiro ano após a constituição das Escolas de Instrução Revolucionária, em reunião com seus diretores, Fidel explicou: “A tarefa das Escolas, a tarefa fundamental das Escolas é, simplesmente, a formação ideológica dos revolucionários, e, por sua vez, do povo”. E acrescentou: “Uma revolução, de fato, inteiramente marxista, mas que, na formulação formal, não se apresentava como tal revolução marxista-leninista. Pois bem, as Escolas são o resultado dessa síntese, na qual, por fim, se identificam a teoria e os fatos, como devem. ”[14]
Sobre esse necessário processo inicial de educação marxista dos quadros que necessitava à nascente revolução e às amplas massas, em meio ao intenso clima anticomunista promovido pelos inimigos da revolução, Fidel disse:
“Existem certas palavras contra as quais o inimigo foi cruel, e veio para criar certos complexos […] Se quando as escolas (de instrução revolucionária) foram fundadas, se dissesse que seriam escolas do marxismo-leninismo, então algumas pessoas ainda teriam sentido reflexos condicionados contra o marxismo-leninismo, reflexos que estão sendo removidos com o tempo. E, por isso mesmo, as palavras “instrução revolucionária” poderiam ser uma denominação mais correta para o que são as escolas […] nunca enganamos ninguém. O que fizemos? Bem, entendemos essa realidade, agimos de forma marxista-leninista; isto é, agimos levando em consideração as condições objetivas. Claro, se parássemos no Pico Turquino quando éramos quatro gatos e disséssemos: Somos Marxista-Leninistas — do Pico Turquino —, poderíamos não ter sido capazes de descer à planície. ”[15]
Em seu discurso, ele argumenta a importância e a necessidade do estudo do marxismo-leninismo para nos sentirmos revolucionários mais completos, porque “nos faz ver cada vez mais a riqueza de toda a concepção marxista-leninista da sociedade, da natureza e da história, e como tem uma explicação para absolutamente todos os problemas que a inteligência humana pode colocar, e como tem uma explicação satisfatória, e como é uma doutrina viva, como não é um esquema morto, como é um corpo de conhecimentos que dia a dia vai se enriquecendo.”[16]. E acrescentou: “E essa é a grande vantagem, a extraordinária vantagem do marxismo-leninismo: que acumula conhecimento há 100 anos, ao extremo de ser hoje uma teoria revolucionária que não admite rival […]”[17]. E acrescentava em outro momento: “E desafiamos qualquer outro sistema, qualquer outra doutrina que possa alcançar nas massas de um povo o que o socialismo, o que o marxismo-leninismo, o que a Revolução conseguiu na nossa juventude e no nosso povo! ”[18]
Fidel sempre enfatizou que o que nos tornou fortes é a conjunção da doutrina e da unidade forjada com a educação do povo em suas melhores tradições patrióticas e o marxismo-leninismo a partir do próprio trabalho da revolução contra o antigo anticomunismo visceral: “Quem diria à burguesia e aos reacionários que hoje seríamos todos comunistas? […]. Que hoje todos levantaríamos as bandeiras do marxismo-leninismo, e que hoje todo um povo lutaria com suas bandeiras vermelhas, pelo socialismo e pelo comunismo. Esta […] é a obra da justiça da nossa causa, da justiça das nossas ideias […] ”[19]. Sempre confiou na fidelidade do povo com a sua revolução e com o marxismo-leninismo: “Hoje, 30 anos depois daquele primeiro de janeiro, podemos assegurar que o nosso povo será sempre fiel aos princípios do socialismo! Que o nosso povo será sempre leal aos princípios do marxismo-leninismo! ”[20]
Marxismo-leninismo versus dogmatismo no pensamento de Fidel.
Desde muito cedo, Fidel já oferece sua concepção rica, ampla, criativa e antidogmática do marxismo-leninismo. No encontro com os diretores das Escolas de Instrução Revolucionária (EIR), em 20 de dezembro de 1961, ele afirma:
“É muito importante que das escolas de marxismo-leninismo, ou das escolas de instrução revolucionária, cada aluno saia com um ideia clara do que é o marxismo-leninismo […] É importante, acima de tudo, que eles entendam que o marxismo-leninismo não é uma doutrina morta, que não é um catecismo, que não é um esquema, que vem e é colocado em qualquer problema; que não se trata de uma série de uniformes ou modelos de vestidos que se escolhem para este caso ou para o outro, mas é um método, é um guia, é um instrumento que, precisamente, o revolucionário deve utilizar no solução concreta para os problemas que surgem. É uma doutrina viva, que o indivíduo o arma, o prepara, o treina, o leva a resolver adequadamente os problemas; caso contrário, eles se tornam revolucionários dogmáticos, caso contrário, eles se tornam cérebros mortos, e os cérebros têm que ser cérebros vivos, para aplicar fórmulas vivas a cada problema concreto que eles têm. ”[21]
Ele sempre convidou a ser criativo e enriquecer o marxismo-leninismo com a atividade prática:
“É necessário que cada marxista-leninista compreenda que pode contribuir ao marxismo-leninismo com um átomo de sua experiência, que cada solução que encontrar, cada experiência que ele adquire, na solução correta de um problema, será mais uma experiência com a qual enriquece o marxismo-leninismo, porque o marxismo-leninismo se enriqueceu tanto justamente pela experiência de milhões e milhões de marxista-leninistas agindo na realidade da vida. ” [22]
Ele nunca se cansou de reiterar a essência revolucionária e antidogmática do marxismo-leninismo. “O marxismo-leninismo implica, em primeiro lugar, tomar do marxismo sua essência criadora, sua essência dialética, seus princípios fundamentais e aplicá-los com sentido crítico revolucionário e aplicá-los com sentido dialético a uma realidade concreta. ”[23]
Rebelde por natureza diante dos dogmas desde a infância, não há mimetismo no pressuposto fidelista do marxismo-leninismo, nem cópia acrítica de qualquer corrente ou tendência anterior, apenas superação crítica e síntese de sua tradição nacional e internacional. Isso o acompanha em cada uma de suas reflexões:
“[…] O marxismo-leninismo é uma teoria revolucionária que deve ser aplicada de forma consequente, de forma revolucionária. Existem princípios que não podem ser esquecidos e creio que os nossos quadros juvenis, os quadros do Partido, os professores do marxismo-leninismo têm de meditar sobre estas questões: a aplicação viva, consequente e revolucionária das ideias do marxismo-leninismo […] mas devemos ter a nossa maneira de interpretar as ideias revolucionárias do marxismo-leninismo! ” [24]
Aprofundando esta ideia, ele diz em outro momento “[…] devemos partir de nossas próprias experiências, de nossas próprias ideias, de nossas próprias interpretações do marxismo-leninismo. Ter interpretado o marxismo-leninismo de forma criativa e original, não nos deixando levar por dogmas, foi o que nos levou à vitória, foi o que nos trouxe até aqui. ”[25]
Ao mesmo tempo que suscita a necessidade da crítica criadora dentro do marxismo-leninismo, alerta que isso não significa ceder ao oportunismo. Ele diz a respeito:
“A tarefa de aperfeiçoar o socialismo é a tarefa estratégica da geração atual, a luta ideológica, defender o socialismo, se defender da ofensiva ideológica imperialista; e não só com entusiasmo, não só com convicção e moral, mas também com pensamento, com estudo, com aprofundamento na análise dos problemas. As duas coisas: a convicção é essencial, o sentimento é essencial, o entusiasmo é essencial; mas você tem que ir mais fundo, tem que estudar. E penso, é claro, que o ensino da doutrina revolucionária, do marxismo-leninismo, da instrução política, deve ser menos dogmático e mais dialético, o que não significa mais liberal e mais oportunista. É necessário fazer uma interpretação dialética das ideias e não as interpretar de forma liberal ou oportunista. ”[26]
Fidel, como Lênin, alertou o povo em inúmeras ocasiões para não se confundir e persistiu nisso em meio à ofensiva ideológica contra-revolucionária que se seguiu ao colapso do campo socialista. Então ensinou:
“[…] uma linguagem enganosa está sendo sutilmente usada com os defensores do marxismo-leninismo: aos defensores do socialismo, aos defensores do comunismo, aos que não se rendem, aos que são firmes, aos que não desistem de suas ideias, aos que acreditam nas suas ideias, aos que não se curvam à ideologia imperialista […] os chamam de rígidos. Viva a rigidez! Eles os dão outros nomes: conservadores, ortodoxos. Vejam vocês que maneira de falsificar e jogar com as palavras […]. Você tem que meditar, estes são tempos de meditação; mas eu confio no povo; em sua capacidade, em sua intuição, em seu talento que nunca falhou. ” [27]
Existem aqueles que apresentam o marxismo-leninismo como stalinismo. Sobre isso Fidel diz:
“O fenômeno do stalinismo não ocorreu aqui; nunca se conheceu em nosso país um fenômeno dessa natureza de abuso de poder, de autoridade, de culto à personalidade, de estátuas e assim por diante; isso não é conhecido aqui. Não temos que retificar em Cuba os erros cometidos em outros lugares […]. No nosso país as coisas foram feitas de uma maneira, da nossa maneira. Cometemos nossos erros, mas não temos o porquê e é meio bobo que venhamos a retificar erros históricos cometidos na União Soviética, são duas histórias diferentes. ” [28]
O colapso do campo socialista e seu apego ao marxismo-leninismo.
Questionado sobre a validade do marxismo-leninismo numa época em que a Europa Oriental estava retornando ao capitalismo e a URSS vivia momentos muito decisivos e perigosos, disse Fidel:
“Não se pode afirmar de uma maneira categórica o fracasso do marxismo-leninismo, porque o que o marxismo-leninismo já deu ao mundo é muito, ainda que possa ter algum revés, ou um grande revés, conjuntural ou transitório […]. Lênin ao longo de todo esse século influenciou muito […]. Essas ideias foram devidas, em primeiro lugar, à Revolução de Outubro […]. Essas ideias guiaram a luta de libertação em todos os continentes e em todos os lugares […]. Para nós foram de grande importância, nos abriram os olhos para a realidade do mundo em que vivemos, porque sem o marxismo-leninismo não teríamos uma explicação coerente sobre esse mundo. Nós também, como nação, como povo, agradecemos essas ideias […]. Não podem tocar os sinos […]. As causas que deram origem às revoluções e as causas que deram origem ao socialismo estão longe de ter desaparecido do mundo […] como se pode falar do desaparecimento de ideias revolucionárias e das ideias socialistas? ”[29]
Ele nunca se agarrou rigidamente, esquematicamente a nenhum conceito; dialético impecável, sempre os utilizou em correspondência com a própria riqueza que brota da realidade que analisava. Por outro lado, quando a polêmica conceitual comprometia a essência política do assunto, defendia com firmeza os termos que considerava mais precisos ou que podiam ser confundidos. Nessa mesma entrevista, questionado sobre quais mudanças políticas ocorrerão em Cuba nas condições que geram a crise no campo socialista, ele respondeu enfaticamente: “Mudança espetacular, como mudar o nome do Partido e procurar outro nome para disfarçar e renegar nossa condição de comunistas e de marxista-leninistas, isso não acontecerá. ”[30].
Sobre essa pobreza de princípios, exaltou: “Aqui não nos envergonhamos de falar de Lênin e elogiar Lênin; Quando outros saem por aí tirando o nome de Lênin de ruas e parques, e arrancando estátuas de Lênin, Marx e Engels, aqui nós as construímos, e não as construímos de mármore, nem de bronze, ou de aço, nós as construímos com nossa conduta revolucionária, com o nosso heroísmo, com a nossa posição digna, com as nossas convicções profundas, levantando mais do que nunca as bandeiras do marxismo-leninismo, do socialismo e do comunismo […] ”[31]
Naquelas circunstâncias em que os sinos do fim da história foram soados no mundo pelos pregadores assalariados do capitalismo, Fidel compreendeu a enorme responsabilidade histórica que recaiu sobre a Revolução Cubana e as ideias martianas e marxista-leninistas que a inspiraram. Fidel expõe esta compreensão do momento histórico que se abre, absolutamente inédito na história da transição do socialismo ao capitalismo e do lugar que Cuba assume, sem pretender, receber as bandeiras do socialismo e do marxismo-leninismo no mundo. “Se vierem essas provas, num dia como este, em que se comemora mais um aniversário do seu nascimento, podemos dizer ao Martí que hoje mais do que nunca precisamos dos seus pensamentos, que hoje mais do que nunca precisamos das suas ideias, que hoje mais do que nunca precisamos de suas virtudes. Mas também a Martí, a Maceo e a todos que foram como eles, dizemos: hoje mais do que nunca, temos orgulho de ser seus seguidores, de ser seus mais fiéis e incondicionais discípulos e de reafirmar, neste 28 de janeiro, nossos dois lemas imortais, aqueles que unem Marx, Lenin e Engels com Martí, com Maceo, com Céspedes e com todos os heróis gloriosos de nossa independência e nossa liberdade! ”[32]
Em Notas à Ideologia da Revolução Cubana, Che alcançou uma formulação que plenamente conforma-se ao pensamento de ambos: “São verdades tão óbvias, tão incorporadas ao conhecimento dos povos que já é inútil discuti-las. Deve-se ser um “marxista” com a mesma naturalidade com que se é “newtoniano” em física, ou “pasteuriano” em biologia, considerando que se novos fatos determinam novos conceitos, nunca perderão sua parte de verdade os que já aconteceram. ”[33]
Até o fim da sua vida, Fidel foi fiel à sua declaração de que “sou marxista-leninista e sempre serei”. No final do ato pelo 30º aniversário do triunfo da Revolução, reafirma a sua convicção marxista-leninista: “Com mais força do que nunca dizemos hoje: socialismo ou morte! Marxismo-leninismo ou morte! Que isso é o que significa hoje, o que tantas vezes repetimos ao longo destes anos ”. Em 1997, no encerramento da reunião provincial de quadros e dirigentes da Capital, reiterou: “[…] nunca teríamos ficado satisfeitos com algo que fosse menos do que o socialismo, nem poderiam nos persuadir outras ideias que não fossem as ideias do marxismo-leninismo. E como eu pensava então, realmente me sinto orgulhoso de pensar hoje, exatamente igual, neste minuto, neste segundo. ”[34]. Em uma de suas últimas reflexões, em 8 de maio de 2015, por ocasião do 70º aniversário da Grande Guerra Patriótica do povo soviético, ele reiterou ao seu povo a justeza de “Nosso direito de sermos marxistas-leninistas” [35], para agora e para sempre, sem sentir vergonha.
O marxismo-leninismo está enraizado de forma articulada com o pensamento martiano na Ideologia da Revolução Cubana e assumido por milhões de revolucionários e revolucionárias sob os ensinamentos de Fidel. Continua sendo a bússola que nos ajuda a pensar os complexos e desafiantes problemas da humanidade e de Cuba. Fomos, somos e seremos martianos e marxista-leninistas como Fidel nos educou.
Notas
[1] Castro Ruz, Fidel, Charla sobre el PURSC, 1º de diciembre de 1961. En Selección de textos en tres tomos, Tomo 1. Editorial de Ciencias Sociales, La Habana, 1972, p.7.
[2] Castro Ruz, Fidel , en la velada por el centenario de Lenin, En La Revolución de Octubre y la Revolución Cubana, Fidel Castro, discursos, 1959-1977, Ediciones del Departamento de Orientación Revolucionaria del CC del PCC, La Habana, 1977, p.164;
[3] Ídem, p.166
[4] Mariátegui, J C, proyecto del programa del PSP. En revista Dialéctica, 1946, nº 17, p. 32
[5] Castro Ruz, Fidel, Velada solemne por el 50 aniversario de la fundación del primer partido marxista-leninista de Cuba. En Fidel Castro, Discursos, t 3, Editorial de Ciencias Sociales, La Habana, 1976, págs. 63 y 64
[6] Ibídem, pág. 65
[7] Castro Ruz, Fidel, Entrevista a El Kommunist, nº 15, octubre de 1978.
[8] Castro Ruz, Fidel, Fidel y la religión. Conversaciones con Frei Betto, Oficina de publicaciones del Consejo de Estado, La Habana, 1985, pág. 163,
[9] Castro Ruz, Fidel, En la clausura del VII congreso del SNTECD, Palacio de Convenciones, 22 diciembre de 1991. Soporte digital, en www.fidelcastro.discursos.
[10] Castro Ruz, Fidel, en Fidel Castro Ruz, guerrillero del tiempo. Conversaciones con el líder histórico de la Revolución Cubana, Katiuska Blanco Castiñeira, primera parte Tomo II, casa editora Abril, 2011, p.265.
[11] Castro Ruz, Fidel, Entrevista a la Revista Internacional nº 1 de enero de 1979.
[12] Castro Ruz, Fidel, en Un encuentro con Fidel, entrevista realizada por Gianni Miná, Oficina de Publicaciones del Consejo de Estado, La Habana, 1987, p.171.
[13] Castro Ruz, Fidel, Discurso, quinto aniversario del desembarco del Granma. Periódico Revolución, 3 de diciembre de 1961.
[14] Castro Ruz, Fidel, Intervención en la reunión con los directores de Escuelas de Instrucción Revolucionaria, 20 de diciembre de 1961 en el local de las ORI. Soporte digital, en www.fidelcastro.discursos.
[15] Castro Ruz, Fidel, Ibídem.
[16] Castro Ruz, Fidel, Intervención con los directores de las EIR, 20 de diciembre de 1961. Soporte digital. En www.fidelcastro.discursos
[17] Ibídem
[18] Castro Ruz, Fidel, discurso, II Congreso de la FEU, 20 de diciembre de 1982. Soporte digital. En www.fidelcastro.discursos
[19] Castro Ruz, Fidel. En el acto de masas con motivo de la clausura del Primer Congreso del PCC, 22 de diciembre de 1975. En Fidel Castro, Discursos, t 3, pág. 146
[20] Castro Ruz, Fidel, En acto por el XXX aniversario del triunfo de la revolución, 1º de enero de 1989. Soporte digital. En www.fidelcastro.discursos.
[21] Castro Ruz, Fidel, Intervención con los directores de las EIR, 20 de diciembre de 1961. Soporte digital. En www.fidelcastro.discursos.
[22] Castro Ruz, Fidel, discurso, II Congreso de la FEU, 20 de diciembre de 1982. Soporte digital. En www.fidelcastro.discursos.
[23] Castro Ruz, Fidel, VIII aniversario de la revolución, 2 de enero de 1967. Soporte digital, en www.fidelcastro.discursos
[24] Castro Ruz, Fidel, En la clausura del V Congreso de la Unión de Jóvenes Comunistas, Teatro “Karl Marx”, Ciudad de La Habana, 5 de abril de 1987. Soporte digital, en www.fidelcastro.discursos
[25] Castro Ruz, Fidel, en el XXXII aniversario del Desembarco del Granma, Plaza de la Revolución, 5 de diciembre de 1988. Soporte digital, en www.fidelcastro.discursos
[26] Castro Ruz, Fidel, En el acto por el 30 aniversario de su entrada a La Habana, ciudad libertad, 8 de enero de 1989. Soporte digital, en www.fidelcastro.discursos
[27] Castro, Ruz, Fidel, Discurso en el XXX aniversario de la desaparición de Camilo. 28 de octubre de 1989. Soporte digital, en www.fidelcastro.discursos
[28] Castro Ruz, Fidel, No hay dos socialismos iguales: Entrevista con la Revista Siempre. Entrevista a Beatriz Pagés, 9 de mayo de 1991. Soporte digital, en www.fidelcastro.discursos
[29] Castro Ruz, Fidel, entrevista a Beatriz Pagés, ya citada.
[30] Ibídem.
[31] Castro Ruz, Fidel, discurso en el XVI Congreso de la CTC, Teatro Carlos Marx, 28 de enero de 1990. Soporte digital, en www.fidelcastro.discursos
[32] Castro Ruz, Fidel, discurso, 28 de enero de 1990, ya citado.
[33] Guevara, Ernesto, Che, Notas para el estudio de la ideología de la Revolución Cubana. En Mis sueños no tendrán fronteras, Editorial Ocean Sur, 2018, p.88.
[34] Castro Ruz, Fidel, Intervención en la clausura de la reunión provincial de cuadros y dirigentes de la Capital, 29 de diciembre de 1997, en www.fidelcastro.discursos
[35] Castro Ruz, Fidel, Nuestro derecho a ser marxistas-leninistas, Periódico Granma, 9 de mayo de 2015