Por A. Stoliarov, via marxists.org, traduzido por Bruno Bianchi
O comunismo deve enfim compreender que não se pode racionalizar tudo de toda a vida do homem […] Somente o freudismo, colocando na base do processo histórico o homem considerado como uma força criadora, pode afastar este perigo. Ele salvará a cultura ao não se ajoelhar ante os ídolos do Racional e do Mecânico e ao libertar-se do culto da matéria e da adoração técnica.
Apresentação[1]
O presente artigo de A. Stoliarov, figura de pouco destaque nos debates filosóficos e psicológicos que envolveram a URSS nos anos 1920 e 1930, acabou por se tornar um texto emblemático nos debates acerca da relação entre a psicanálise freudiana e o marxismo.
Dentro da URSS, começava a se desenhar uma situação bastante específica da ciência psicológica. Após a Revolução de Outubro, começavam a surgir diversas concepções psicológicas que reclamavam para si a insígnia do marxismo, dentre os quais M. Ya. Basov (1892-1931), P. P. Blonski (1884-1941), V. M. Bechterev (1857-1927) e K. N. Kornilov (1879-1957), entre outros. Nestes teóricos, em geral, era comum uma fundamentação de base psicofisiológica, devido aos avanços da fisiologia do cérebro, e de uma concepção limitada da filosofia materialista-dialética de Marx, Engels e Lenin.
É durante a segunda metade da década de 1920 e início dos anos 1930 que se passa a estabelecer um diálogo mais firme entre o desenvolvimento da ciência psicológica e da filosofia marxista, visto a presença tanto de um fisiologismo e biologismo típico do materialismo vulgar (caso, de Kornilov, Bechterev, etc.), quanto do ecletismo e da absorção de teorias distantes do materialismo-dialético (caso de A. R. Luria, grande entusiasta da psicanálise no início dos anos 1920) , promovendo uma série de ecletismos. Essa exigência de uma ciência de base marxista passou em seguida a determinações e esquematizações que resultaram, até a década de 1950, no triunfo oficial da interpretação mecanicista e reducionista de origem pavloviana.
Isto não significa, no entanto, que toda crítica – como a de A. Stoliarov – foi encomendada ao partido e partia de um simples repúdio às “teorias burguesas”, mas de uma clara compreensão do Materialismo Histórico-Dialético e da necessidade de, partindo do método científico de Marx, Engels e Lenin, construir uma ciência psicológica. É o caso, já nos anos 1920 e 1930, de L. S. Vigotski (1896-1934) e S. L. Rubinstein (1889-1960): ambos bastante críticos de uma “psicologia marxista” que almejava uma psicologia com base em citações d’O Capital e da aplicação direta das categorias marxianas ao campo da psicologia; ambos, leitores profundos da filosofia clássica e moderna (Spinoza, Descartes, Kant, Hegel, etc.). Ambas, a teoria histórico-cultural de L. S. Vigotski, A. N. Leontiev, A. R. Luria, e outros, e a teoria sujeito-atividade de S. L. Rubinstein, K. A. Abulkhanova-Slavskaya, A. B. Brushlinski, etc., fortemente cerceadas durante as décadas de 1930 e 1960, apesar de um desenvolvimento teórico e prático bastante frutífero mesmo neste período.
Fora da URSS, o artigo de A. Stoliarov ganhou repercussões principalmente na França, com o artigo Du caractère matérialiste de la psychanalyse [Do caráter materialista da Psicanálise] (1933) de Jean Audard. Neste, Audard faz uma réplica contundente à crítica de Stoliarov ao freudo-marxismo e em defesa de Jean Bernier, psicanalista que atribui a Freud a “crítica materialista da religião” e critica a exclusão pura e simples da psicanálise pelo “bolchevismo degenerado”. Em seu artigo, Jean Audard aponta para uma equiparação entre o materialismo freudiano e o materialismo marxiano, para uma concepção do materialismo como um determinismo e a defesa de um materialismo que respeite a especificidade do psíquico ao não reduzi-lo ao funcionamento do cérebro.
Por sua vez, o artigo de Audard gerou grande repercussões dentre os círculos franceses: por um lado, gerou um grande interesse por parte de Jacques Lacan; por outro, um repúdio firme e violento por parte de Georges Politzer. Este último é um grande conhecedor da psicanálise freudiana: estudioso dos escritos de Freud desde meados da década de 1920, após conhecer Freud pessoalmente em Viena, e autor de Crítica dos Fundamentos da Psicologia (1928), um dos primeiros escritos em língua francesa dedicada à análise da psicanálise freudiana. Após a publicação do texto de Audard, escreve um artigo, publicado originalmente na revista Commune em 1933, no qual reafirma não só as críticas e ressalvas diante da psicanálise, mas aponta suas principais contradições com a teoria marxista-leninista. Neste artigo, intitulado Psicanálise e Marxismo – um falso contrarrevolucionário: o freudo-marxismo, aponta para o energetismo de Freud (comparando com a crítica de Lenin a Ostwald em Materialismo e Empiriocriticismo), para as diferenças entre o materialismo de Freud e o materialismo de Marx e Engels, apontando que o materialismo de Freud é “uma forma ultrapassada do materialismo”, e não o materialismo histórico-dialético dos fundadores do socialismo científico. A crítica de Politzer, no fim, é a um freudo-marxismo que se mostra contrarrevolucionário, antidialético, energecista, cuja sociologia contradiz e deturpa a sociologia marxista.
Polêmica que se mantém presente até os dias de hoje: em que medida a psicanálise (freudiana ou não) pode ser acoplada ao marxismo e vice-versa? Evidente que de ambos os lados da questão, surgiram autores de envergadura muito mais sérios e consequentes que Jean Audard e A. Stoliarov. O resgate do presente texto possui, portanto, dois objetivos: o resgate do debate sobre o freudo-marxismo nos anos 1930, e o impacto do debate entre Audard e Stoliarov sobre a produção intelectual de um pensador da envergadura de Georges Politzer.
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“Freud agitou o mundo. São numerosos aqueles que pensam que a psicanálise mudará a face do globo”. Assim se exprime um dos discípulos de Freud na Europa Ocidental, F. Wittels[2].
O próprio Freud se iguala a Copérnico e a Darwin. Suas teorias, mal acolhidas pelo “grande público” logo após 1890, dão hoje à Europa burguesa um novo Evangelho. Freud, objeto de um entusiasmo geral, é levado às nuvens. Para numerosos social-democratas ele substituiu Marx.
Este entusiasmo penetrou até na URSS. Desnecessário dizer que ele não tem nem poderia ter na sociedade soviética a extensão que tem nos países do Ocidente. Ele tem encontrado na URSS muitos antídotos.
Se, nos países do Ocidente, social-democratas e personalidades de “extrema esquerda” como Henriette Roland-Holst[3] fazem do freudismo o “complemento” do marxismo, na URSS, marxistas, ou para dizer melhor, marxistas deploráveis, tais como M. A. Reissner, manifestaram a mesma tendência. O professor Reissner é o autor das seguintes linhas:
Apenas a aplicação da dialética materialista, da doutrina de Marx, pode livrar os germes preciosos do freudismo da envoltura ideológica da sociedade burguesa, das deformações metafísicas idealistas, das contradições e das inconsequências. A ciência marxista deve encontrar em si mesma as forças e a capacidade de submeter a um novo trabalho de elaboração a enorme documentação acumulada por Freud e também de continuar a linha monista e materialista que Freud seguiu antes de mais nada. Somente os participantes da luta de classe do proletariado poderão forjar por meio da teoria de Freud uma arma nova contra a neurose coletiva da religião.
Pode-se recomendar calorosamente os elementos da psicanálise aos psicólogos e aos sociólogos marxistas, pois eles aí encontrarão as fontes extremamente fecundas do enriquecimento e do aprofundamento de suas pesquisas[4].
Apreciações deste gênero foram muitas vezes formuladas na imprensa soviética. Mas antes de falar dos freudianos, convém dizer algumas palavras da própria doutrina de Freud.
O freudismo nasceu de uma tendência particular da medicina que estuda as doenças psíquicas ou nervosas. O método de tratamento das doenças nervosas que Freud e sua escola usam chama-se psicanálise. Freud foi conduzido por seus trabalhos a concluir que todas as neuroses têm por base tendências sexuais, são consequência destas ou, mais exatamente, a resultante de seu recalque, quer dizer, da recusa em satisfazê-las que se impõe à personalidade, o próprio pensamento de sua satisfação não sendo admitido na região da consciência. “As neuroses, explica Freud, são de certa forma doenças específicas da função sexual; a questão de saber se uma pessoa pode, em geral, estar atacada de neurose, depende da quantidade de libido e da possibilidade de satisfazê-la e de lhe dar uma saída através da satisfação”.
O termo libido designa para Freud a atração sexual (amorosa, “erótica” e sexual no sentido estrito da palavra), “a energia pela qual se manifesta na vida espiritual a pulsão sexual”[5].
A psicologia humana se baseia em duas atrações que se situam, por sua natureza, entre o físico e o psíquico propriamente dito. A psicanálise distingue dois grupos essenciais, dois complexos de atrações: aqueles do “eu” (pulsão à conservação) e o da pulsão sexual.
A neurose se produz mais frequentemente quando a pulsão sexual não pode ter resultado prático nem satisfação, em consequência do conflito interior resultante da oposição entre “a pulsão-eu” e o “princípio da realidade”, quando acontece que a pulsão sexual sob sua forma dada é inadmissível, estando em contradição com o instinto de conservação da personalidade ou com o respeito que esta tem por si mesma, sendo antissocial, ou por qualquer outra razão análoga.
Tem lugar uma “seleção” das aspirações, uma “triagem” efetuada à revelia da consciência e sem a participação da consciência. Na opinião de Freud, atua uma força psíquica particular; Freud chama-a “censura”.
Em seu estado primitivo e na sua primeira infância, o homem não se inspira, segundo Freud, senão em um princípio fundamental, o Lustprincípio ou “princípio do prazer”. Nada é ainda “proibido”. Mais tarde, chegando aos graus superiores de seu desenvolvimento, o homem vê aparecer o “princípio da realidade”. A pulsão ao prazer, chocando-se com o princípio da realidade, frequentemente recai cada fora da esfera da consciência, pela ação da “censura”.
Diversas aspirações “perversas”, que na infância constituem a forma costumeira de emoções sexuais inconscientes, e no ser adulto representam um retorno ao estado infantil, são assim recalcadas. As tendências incestuosas e o narcisismo, ou seja, o estado psíquico no qual a libido tem por objeto seu próprio eu, jogam neste processo um papel enorme[6].
Segundo a teoria de Freud, a libido do homem, na infância, tem sempre uma tendência ao narcisismo. Só mais tarde ela se relaciona com os objetos exteriores (outras pessoas etc.), e ainda assim não inteiramente. O perigo de um retorno doentio “ao estado infantil” pela neurose subsiste sempre.
O “complexo de Édipo”, quer dizer, a atração sexual das filhas pelo pai, dos filhos pela mãe etc. acompanhado de um sentimento de ciúme das mães com relação ao pai etc., desempenha para a escola psicanalítica um papel enorme na formação das neuroses. A própria designação deste complexo psíquico liga-se ao mito grego do rei Édipo, que matou seu pai e desposou sua mãe. Freud considera que o mito de Édipo caracteriza todo um período da história real da humanidade, período ao qual remontam as origens da exogamia, do culto totêmico, do poder do primogênito etc. O “complexo de Édipo” é o modelo de aspirações “antissociais” em contradição com o “princípio da realidade” que o aparelho psíquico da “censura” se esforça para recalcar, para não deixar chegar ao limiar da consciência. As tendências sexuais antissociais são “eliminadas” da esfera da consciência da personalidade em consequência de um conflito psíquico. O homem pode muito bem não ter nenhuma consciência da existência passada ou presente nele de semelhantes aspirações; elas estão ausentes de sua consciência, mas permanecem na qualidade de “pensamentos inconscientes”.
Estes “pensamentos inconscientes”, “recalcados” e afastados do limiar da consciência por serem inadmissíveis para o “eu”, constituem o “mundo” oculto do “inconsciente espiritual” de Freud.
O conteúdo deste “inconsciente” de Freud caracteriza-se por dois fatores principais: 1) Ele é formado de emoções inteiramente provindas do passado, de “aspirações ao prazer” herdadas do homem pré-histórico e de emoções sexuais da primeira infância à qual nada era “proibido” e para a qual faltava o “princípio da realidade”; 2) o Inconsciente de Freud é necessariamente hostil à consciência, seu conteúdo é necessariamente “inadmissível” à consciência, oposto aos princípios da consciência.
A psicologia sexual dos povos primitivos, semelhante à psicologia primitiva da infância, se coloca na esfera do “inconsciente”. Lá se agitam nas sombras todos os “demônios” dos impulsos incestuosos, do complexo de Édipo, do narcisismo, da “pulsão à repetição”, do “complexo de castração”, do erotismo anal etc.
Recalcadas nas esferas do inconsciente, todas estas tendências nem por isso perdem sua força e sua significação. Elas continuam a agir sobre a conduta do homem e sobre o estado de seu sistema neuropsíquico. Sua influência se manifesta com força sobretudo sobre as pessoas portadoras de doenças nervosas.
A vida espiritual da histérica — escreve Freud — está cheia de pensamentos inconscientes, mas ativos; daí todos os sintomas do mal. Na realidade, o que caracteriza sobretudo o estado histérico da psique, é que ela está inteiramente em poder de representações inconscientes. Se uma mulher histérica tem náuseas, pode estar sob influências da ideia da gravidez. Esta mulher não sabe, entretanto, nada desta ideia, ainda que a psicanálise possa facilmente revelar-lhe sua presença em sua vida interior e torná-la acessível à sua consciência[7].
A influência dos “pensamentos inconscientes” não se manifesta só nas doenças. Ela existe também nas pessoas sadias. Ela se manifesta através de perturbações funcionais, por erros de memória, por lapsos, pelos sonhos cotidianos. Freud considera a interpretação dos sonhos como um de seus maiores méritos. No final das contas a vontade do homem aparece submetida a obscuros instintos sexuais cujas origens remontam a tempos findos de há muito. Fenômenos obsedantes e inconscientes pesam sobre o homem como uma fatalidade, como o destino, como o fatum, como um poder inexorável, semelhante a esta tendência à repetição dos estados anteriores, primitivos, assinalados por Freud, e que é, em última instância, uma tendência para a morte.
A humanidade, diz Freud, está impregnada de narcisismo nas primeiras fases de seu desenvolvimento. Ela considera o homem como o centro e o coroamento do mundo e sua força como ilimitada. Copérnico e depois dele Darwin solaparam esta representação do mundo imbuída de narcisismo. O terceiro golpe psicológico, o mais sensível ao amor próprio do homem, é trazido pelo próprio Freud, que demonstra que “o eu humano não é o senhor em sua própria casa”, em sua própria alma.
Os freudianos não se limitam em seus trabalhos à neuropatologia e à psicologia individual. Eles têm propensão a estender os métodos da psicanálise ao estudo dos fenômenos sociais.
Freud, em seu Totem e tabu, aborda a explicação de problemas puramente sociais. Neste livro ele apresenta seu método ao sociólogo especialista nos seguintes termos: “Que ele se disponha a considerar que nossos trabalhos não têm outro objetivo que o de incitá-lo a fazer melhor a mesma coisa ao aplicar, aos assuntos que ele conhece, o instrumento que nós lhe podemos dar”.
Já vimos que certos sociólogos marxistas levaram este conselho muito a sério e interessante conhecer os resultados da aplicação do método de Freud à sociologia pelo próprio Freud e seus discípulos mais próximos.
A psicologia dos povos primitivos se explica em Freud por sua analogia com a psicologia das neuroses. A origem da sociedade, os primeiros passos desta, se prendem ao famoso “complexo de Édipo”. O primeiro estado da sociedade é a horda primitiva. Freud diz: a respeito: “Não há ali mais que um pai cruel e ciumento que se reserva todas as fêmeas e expulsa seus filhos ainda na época de crescimento. Nada mais”. A passagem à fase seguinte das relações sociais se efetua assim: “Os irmãos um belo dia se reúnem, matam e comem o pai e põem fim à horda fraternal. Eles se identificam com o pai devorando-o; cada um assimila uma parte de sua força. O banquete totêmico, que é talvez a primeira festa da humanidade, é a repetição e a reminiscência deste crime memorável que marca as origens de muitas coisas: da organização social, das restrições morais e da religião”.
A religião, segundo Freud, é a “neurose geral dos estados de obsessão”. As outras ideologias, tais como a arte etc., são sublimações (quer dizer transformações superiores) das aspirações sexuais; são as transfigurações do incesto. Freud chega algumas vezes a ideias simplesmente “admiráveis”. De onde vem por exemplo a aviação? Quem diria! Da pulsão sexual infantil! “A aviação, escreve Freud, que enfim atinge hoje seu objetivo, tem uma origem “infantil erótica, porque o desejo de voar em sonho significa apenas o desejo apaixonado de ser capaz de atividade sexual”.
Quando um dos alunos e discípulos de Freud, Kolnai[8] desejou fazer uma análise teórica freudiana da vida social contemporânea, chegou aos seguintes resultados: o comunismo é um retorno à psicologia infantil, uma variedade da loucura; o comunismo agrário corresponde mais especialmente à pulsão primitiva eterna dos filhos-irmãos às relações sexuais com sua mãe comum (Kolnai faz aqui um jogo de palavras fortalecendo a expressão “mãe-terra”); o leninismo é uma psicose de guerra; o revolucionarismo proletário é o produto de um excesso de libido acumulada; as queixas do proletariado que se crê explorado não passam de formas da mania de perseguição; a divisa “Proletários de todos os países, uni-vos!” é, enfim, uma expressão homossexual do amor unissexual.
Tal é, se podemos dizê-lo, a sociologia do freudismo!
E é esta teoria que seduz alguns de nossos “marxistas”! Acredita-se comumente que eles repelem inteiramente e sem reservas a sociologia do freudismo e se limitam a conservar a psicologia individual que, em sua opinião, em nada se opõe ao marxismo. Estas duas afirmações são falsas. É falso que os marxistas seduzidos pelo freudismo repelem por completo os elementos sociológicos da teoria de Freud. Já citamos o professor M. Reissner que fala, como Freud, da religião como uma neurose e pensa evidentemente que ela é nociva quando se apropria da energia psíquica da libido, que poderia, sob outras formas, “aniquilar os exploradores”[9]. M. Reissner atribui também ao pensamento dos primitivos um fundamento sexual. “Em particular a descoberta (por Freud) do pensamento dos primitivos e das crianças, formas de representações essencialmente sexuais, não poderia ser desprezada pela doutrina do materialismo histórico”. Ele fala também da origem sexual das ideologias das classes e das épocas, assim como da sublimação e do recalque no domínio da ideologia. Ele encontrou naturalmente na doutrina de Freud “raízes puramente materialistas”, “bases rigorosamente científicas e materiais”[10].
Depois de Reissner vem o camarada A. Variash. Em sua Introdução à História da nova filosofia, no capítulo “Da natureza das ideologias”, o camarada Variash estuda minuciosamente as “leis da vida espiritual inconsciente” de Freud (o “adensamento”, a “transferência”, a “segunda elaboração” etc.). Em sua opinião, ele o faz porque acha possível explicar, baseando-se nestas “leis” os fenômenos da psicologia social; da ideologia etc. Porque ele considera que, com algumas reservas, o inconsciente de Freud é no fundo uma noção marxista, aplicável aos fatos da vida social e à explicação das ideologias.
Em seu relatório à Academia Comunista, o camarada Variash diz que Freud e outros psiquiatras “projetaram uma nova luz sobre o mecanismo do sonho, as perturbações psíquicas, a formação dos mitos e das religiões, as instituições primitivas do homem: o totem, o tabu, os costumes nupciais, os ritos, as representações religiosas, as ideias sobre a alma, o problema da morte, as primeiras instituições do poder e as primeiras decisões sociais”[11].
Na edição posterior deste relatório, incluída na História da nova filosofia, o camarada Variash, cedendo à crítica marxista, modificou ligeiramente esta frase e colocou no lugar de “projetou uma nova luz”, “procurou formular uma nova teoria”[12]. A despeito desta retratação, manteve suas antigas posições.
Seu artigo “O freudismo e sua crítica marxista” (em A dialética na natureza Vol. 1, 1926) é muito característico a este respeito. Ao dessolidarizar-se de Freud repetidamente, sob pressão da crítica marxista ortodoxa, A. Variash tende visivelmente a “aproximar” o marxismo do freudismo. É assim que ele aproxima nitidamente a noção freudiana do inconsciente, profundamente idealista quanto a seu fundamento (retomaremos a isso), das noções do inconsciente que se encontram em Marx (quando, por exemplo, Marx fala das relações sociais que se estabelecem independentemente da vontade e da consciência dos homens que delas participam). Variash considera que se trata da mesma categoria, apenas com algumas variações, em Marx e Freud. Ele escreve: “Nós sabemos que esta categoria (grifo de A. S.) desempenha um papel na filosofia social de Marx e de Engels. Mas Freud concebe esta noção de uma maneira extraordinariamente estreita, individualista e não dialética (se bem que dinâmica)”. “Nós pensamos que […] o próprio Freud reprova a limitação excessiva da noção do inconsciente. Mas se alargarmos esta noção e a explicarmos por causas econômicas e políticas, chegaremos à noção expressa por Marx. Freud estreitou esta noção marxista”.
Parece, portanto, segundo Variash, que “o próprio Freud” considerava necessário “alargar” sua noção de “inconsciente” de modo a torná-la “marxista”. A característica específica do “inconsciente” de Freud permaneceu impenetrável para Variash… para não dizer que as categorias do marxismo lhe são igualmente impenetráveis. Embora haja entre as categorias do freudismo e do marxismo uma diferença essencial de metodologia geral, Variash considera que os métodos freudianos são em princípio aceitáveis e não exigem mais que algumas correções de pouca monta. Ele escreve o que se segue:
O freudismo elaborou toda uma documentação, voltou sua atenção para fenômenos pouco conhecidos até o presente (o incesto), mas os psicanalistas, não conhecendo o marxismo, não podiam chegar a conclusões justas. Também a maneira como o freudismo abordou os fenômenos sociais até o presente nos é inútil (nada mais que ”inútil”? A. S.), ao nos desorientar em muitos pontos (?) Mas se, como acontecerá certamente, médicos especialistas, que sejam também marxistas, se ocuparem do freudismo, poderão obter muitos resultados positivos (grifo de A. S.).
Assim, a “condenação” do freudismo por Variash é acompanhada de tantas “pequenas reservas” que ela se reduz em realidade à dupla diretiva seguinte: Freudianos, venham à escola do Marxismo! Marxistas, vão à escola do freudismo! O que dará esta síntese? Evidentemente uma sorte de freudo-marxismo que já desencaminha alguns camaradas.
O camarada Zalkind está entre os “freudo-marxistas” ou “freudo-comunistas” atuais. O camarada A. B. Zalkind[13], na sua “sociologia”, apoia-se no método freudiano onde o pivô é a noção do inconsciente. Ele é de opinião que a doutrina do inconsciente ao estabelecer, a despeito de seu autor, Freud, as claras leis da origem social da “seleção psíquica”, contribui grandemente para o estudo da “consciência” e da “subconsciência” de classe (psicofisiologia de classe) e para o esclarecimento dos mecanismos de classe do processo criador (no domínio da ciência, da arte, da atividade social etc.)[14].
Vemos que o freudismo completa o marxismo. A. B. Zalkind não se limita ao elogio platônico da metodologia de Freud; tenta aplicá-la ao estudo dos fenômenos sociais atuais. Devem-se à sua pena muitos artigos: “A revolução do ponto de vista Psiconeurológico”, “Da psicologia do Partido Comunista da Rússia”, “O reflexo do objetivo revolucionário”. Nós ficamos sabendo neles que “a revolução russa de Outubro justificou firmemente, por seu desenvolvimento vitorioso, suas sãs origens neuropsíquicas”; “que a revolução começou a abalar os fundamentos do misticismo decadente das massas populares” e outras coisas do gênero, algumas vezes bastante “singulares” (como a “natureza decadente” das massas populares no momento em que a revolução atesta suas “sadias origens neuropsíquicas”).
Para o camarada Zalkind, o freudismo “apresenta aos olhos dos biólogos marxistas, e também dos psicólogos marxistas, um imenso interesse metodológico”.
Carece dizer, mais especialmente no que concerne ao camarada Zalkind, que ele é, quanto ao método científico, um eclético típico que não se limita a reunir o marxismo e o freudismo, mas agrega ainda ao freudismo o “reflexologismo”. De sorte que não chega a nada de coerente.
Se escritores marxistas sujeitam-se em tal grau à “sedução” da “sociologia” e da metodologia do freudismo, não é necessário dizer que o freudismo fornece às “doutrinas” burguesas numerosas ocasiões de desenvolvimento falso e reacionário.
As observações freudianas semeiam as obras contemporâneas de psiquiatria, de biologia etc., chegadas há pouco na URSS. Pode-se encontrá-las em representantes da escola materialista em biologia, cujo método científico deveria, ao que parece, distanciar-se do subjetivismo arbitrário e do misticismo dos “psicanalistas”.
O professor V. V. Savich[15] escreve, no entanto, em seu pequeno livro As bases da conduta do homem (1927):
É preciso mencionar entre outras manifestações superiores da sexualidade a fé […] A fé cega […] A fé conduz comumente ao sacrifício: é o que melhor a caracteriza. ”Glória a vós, sombras queridas, que destes vossa vida pelos outros”, tais são as inscrições que se pode ler nas arcadas da Praça das Mártires da Revolução.
O camarada Savich substitui aqui a reflexologia pelo freudismo; e o freudismo se manifesta abertamente nele como uma ideologia reacionária que se lança contra a revolução reduzida a uma manifestação “cega” da “sexualidade”. Esta utilização das ideias freudianas na literatura antimarxista e reacionária é muito característica.
A apreciação metodológica geral do freudismo por nossos “marxistas-freudianos” coloca-a no fundo, como uma sã doutrina materialista que os marxistas devem aproveitar. “Freud e seus alunos, diz o camarada Variash, não sabem provavelmente que sua ideia mestra é a do marxismo”. “Eu penso que o freudismo se relaciona com o marxismo como a teoria do movimento browniano com a eletrodinâmica. Assim como toda psicologia, o freudismo se integra ao materialismo dialético, como uma de suas aplicações a um caso particular”[16].
Estes filósofos têm razão no fundo?
Coloquemos a questão.
Em primeiro lugar, o freudismo não constitui um sistema harmonioso; suas assertivas são frequentemente as mais contraditórias, confusas e indeterminadas. No domínio particular da neuropatologia, a interpretação exclusivamente sexual das neuroses suscita objeções decididas dos especialistas. Mas é a crítica metodológica de Freud, e não esta crítica particular que nos interessa.
O método de Freud provoca objeção antes de mais nada por seu psicologismo absoluto, por seu caráter “antifísico”. Ele é o antípoda do método objetivo da reflexologia. Se a afirmação de Hegel de que “só se pode estudar aquilo que foi mensurado” é justa, o método subjetivo, puramente psicológico, da psicanálise, não pode servir ao estudo científico do objeto.
Os freudianos consideram que ultrapassaram as fronteiras dos métodos da introspecção sobre os quais se baseava todo o edifício da velha escola subjetiva em psicologia. Mas eles apenas se iludem. Não que a psicanálise faça da introspecção um de seus métodos. Não se poderia prescindir da introspecção no estudo da vida psíquica do homem. Mas seus métodos devem desempenhar no sistema da psicologia um papel subordinado; eles devem ser controlados pelos métodos do estudo objetivo das reações do organismo vivo. A psicanálise opera na realidade com conceitos sobre o homem (objeto de seu estudo) baseados exclusivamente na introspecção. Em outras palavras, a psicanálise opera exclusivamente sobre dados psíquicos subjetivos e não materiais, que não são passíveis de nenhum estudo quantitativo, de nenhuma mensuração.
A fisiologia e estados fisiológicos do organismo parecem não existir para o freudismo. Ele não considera nada além do encadeamento puramente psíquico dos fenômenos que aparecem e que também se desenvolvem sobre uma base puramente psíquica, logo após conflitos subjetivos psíquicos (espirituais) etc. É verdade que o “inconsciente” é observado, de certa forma, de fora; pode-se pensar que nós saímos aqui dos quadros da introspecção. Mas isto é falso. Na realidade, o próprio Freud disse que “não podemos conhecer o inconsciente senão pela consciência”, precisamente pela consciência do praticante, pela consciência do próprio homem cujo “inconsciente” é estudado.
A psicologia marxista, ou seja, autenticamente científica, não pode limitar-se nem ao emprego do método subjetivo da introspecção, nem ao emprego exclusivo do estudo exterior dos reflexos fisiológicos. “A psicologia marxista aspira superar do ponto de vista do materialismo dialético a natureza unilateral da psicologia subjetiva e da psicologia objetiva, objetivando fazer sua síntese. A fórmula básica da psicologia marxista é: a introspecção sob o controle dos métodos objetivos”. (A. Deborine, A Revolução e a Cultura, n. 2, 1927). Deste ponto de vista, o freudismo é uma doutrina “unilateral, subjetiva ao extremo”.
Pensa-se às vezes que se Freud constrói todo o seu edifício sobre a pulsão sexual, sua teoria da libido é terrivelmente física (talvez mesmo “ultra-física”?) e materialista. É falso. A própria definição da “pulsão” e da “libido” é muito vaga em Freud, muito “psicológica”. Freud quase nunca menciona a reprodução, que é só o que confere um sentido biológico à pulsão sexual. Pelo contrário, há em Freud, na base, não um “princípio” biológico da reprodução: há não se sabe qual “princípio” fatal do “prazer”, alguma coisa de puramente psicológica, de abstratamente psicológica. A libido de Freud está imbuída de narcisismos. Ela não se preocupa com a reprodução. É um tipo de libido assexuada.
Wittels, na obra que mencionamos, se expressa assim sobre este ponto:
O glorioso ancestral de Freud, Platão, negligenciava completamente a diferença entre os sexos. Para Platão, no final das contas, o amor não é mais que o amor do ideal […] O estudo do amor, tal como Freud nos mostra, com seu início no auto-erotismo da criança e seu fim nos cimos da sublimação, ressuscita aos nossos olhos o pensamento antigo. Eros não tem sexo. O lado animal do homem impõe a Eros o jugo do sexo. Mas sua natureza aspira evadir-se rumo aos céus[17].
Esta característica da sexualidade, tal como Freud a compreende, é uma definição feliz do espírito “antifísico”, antimaterialista, de todo o seu sistema, de todo o seu método.
A natureza idealista da psicanálise salta igualmente aos olhos no exemplo da teoria freudiana da “pulsão” à repetição. Segundo esta teoria, a tendência do organismo à conservação não tem a significação que lhe deram até o presente. O organismo tende a repetir os estados anteriores, mais primitivos, dos quais o mais antigo e o mais primitivo é o não-ser, a morte. Tudo é atraído para a morte. A morte é o sentido da vida. (Freud).
Freud muitas vezes indicou o parentesco entre a noção da “pulsão”[18], empregada pela psicanálise, e a noção de “vontade” do filósofo idealista Schopenhauer, segundo o qual o mundo é “vontade e representação”. Freud chama Schopenhauer seu predecessor[19]. Mais especialmente a propósito da “pulsão à morte” ele diz: “Sem nos apercebermos, nós jogamos a âncora no porto da filosofia de Schopenhauer, para o qual a morte é o resultado e, em consequência, o objetivo da vida, ao passo que as atrações sexuais realizam a pulsão à vida”[20].
Freud invoca frequentemente, tanto quanto Schopenhauer, com quem sente uma afinidade particular, outros filósofos idealistas. Ele escreve em seu livro que acabamos de citar, que foi confirmada pela psicanálise a doutrina de Kant, onde o espaço e o tempo não são mais que formas de representação independentes das coisas em si. Esta confirmação é de que a noção de tempo não se aplica ao “inconsciente” freudiano. Freud diz mais uma vez: “Os processos do sistema UBW (o inconsciente) estão fora do tempo; em outras palavras, eles não se seguem no tempo, não se modificam com o tempo, não têm em geral nenhuma relação com o tempo”.
Mesmo assim Variash e outros repetem que o “inconsciente” de Freud é o mesmo de Marx, quando Marx diz que os homens fazem a história sem intenção preconcebida, inconscientemente!
Mas não é tudo. O “inconsciente” de Freud não está somente fora do tempo. Nós aprendemos mais adiante que “os processos do UBW (quer dizer, do “inconsciente”) pouco tomam em consideração a realidade. Eles são submissos ao princípio do prazer, seu destino depende exclusivamente de sua força e da maneira como eles respondem às exigências da regulação do prazer e do não prazer”[21].
“Este princípio do prazer” de Freud introduz no sistema elementos puramente teleológicos. Freud faz observar que nos raciocínios biológicos, é quase impossível não recorrer aos aspectos teleológicos do pensar[22]. E o fato é que sua “maneira de pensar” é em todos os sentidos teleológica[23].
Freud chega a uma completa ruptura idealista entre o conteúdo psíquico da personalidade, a vontade em primeiro lugar e o meio social real. O “inconsciente” dirige no escuro a vontade do homem. A vontade do homem está sujeita a poderosas atrações sexuais primitivas (arcaicas) insuperáveis. Estas atrações determinam o conteúdo do psíquico. A significação do meio material contemporâneo, do meio social, é reduzida a nada, “revogada”. Escusado é dizer que esta teoria se opõe sob todos os pontos de vista aos princípios fundamentais do materialismo histórico, e mais particularmente à afirmação de que “a natureza do homem […] é na realidade o conjunto das relações sociais”.
No final das contas, Freud considera a atividade psíquica como primordial e o mundo exterior como secundário, e de certa forma, derivado. Freud fala do caráter primordial do “princípio do prazer”.
Ele pensa que é só quando este “princípio” se revelou insuficiente para satisfazer as tendências ao gozo, que o “aparelho psíquico teve que se resolver a se representar as relações reais do mundo exterior e a tender à sua transformação real”[24]. O meio exterior real é formado, segundo esta teoria, pelo dispositivo psíquico do “recalque”, “o qual trata das irritações interiores desagradáveis como se elas fossem exteriores, isto é, reportando-as para o mundo exterior”[25].
É oportuno observar a propósito destas notáveis conclusões de Freud que, embora o camarada Variash considere Freud como um materialista do tipo francês do século XVIII, seus argumentos filosóficos são normalmente chamados na simples linguagem humana argumentos procedentes do mais puro idealismo subjetivo… (“Tais são as conclusões do freudismo que constituem, em suma, um retorno ao materialismo do século XVIII”, escreve o camarada Variash na História da nova filosofia, t.1, p. 59 ed. russa).
Henriette Roland-Holst deu provas de um espírito mais consequente que o camarada Variash e os outros marxistas freudianos. Ela terminou por “saturar-se” da realidade, do racionalismo e da matéria. Assim escreve:
O comunismo deve enfim compreender que não se pode racionalizar tudo de toda a vida do homem […] Somente o freudismo, colocando na base do processo histórico o homem considerado como uma força criadora, pode afastar este perigo. Ele salvará a cultura ao não se ajoelhar ante os ídolos do Racional e do Mecânico e ao libertar-se do culto da matéria e da adoração técnica.
“Libertar-se do culto da matéria” e das representações materialistas não é ainda se libertar da matéria real. Em compensação, estando “livre” do materialismo chega-se inevitavelmente a se “livrar” de todo o vestígio do marxismo e do comunismo. Foi o que aconteceu com Henriette Roland-Holst.
Procedendo com rigorosa lógica de interpretação freudiana da psicologia do “inconsciente”, H. Roland-Holst chegou à negação da luta de classes. A arte, a moral etc., são, pensa ela, humanas em geral, as bases, as raízes do psíquico do homem “mergulhando numa esfera situada fora do tempo”. Tais são as peças que o “inconsciente” freudiano prega a certos marxistas.
Parece simplesmente monstruoso que depois disto Zalkind e Reissner atribuam um mérito particular a Freud por haver “socializado” a psicologia. Eles são de opinião que o materialismo histórico, o marxismo, encontrou em Freud um novo e poderoso aliado. Enganam-se. A psicologia de Freud é “antissocial” por causa de sua característica ultra-individualista. O freudismo não tem nada em comum com o marxismo e o materialismo. Ele obscurece e reduz a significação da luta de classes. O caráter antiproletário da ideologia freudiana se manifesta tanto no caráter geral idealista de seu método e de seu sistema, como nos seus detalhes. Manifesta-se tanto na superestimação da importância específica do “princípio do prazer” e do erotismo, quanto na superestimação dos elementos do narcisismo (e do individualismo). Manifesta-se ainda no fatalismo decadente de sua “pulsão à repetição” e de sua “pulsão à morte”. Manifesta-se por seu ceticismo e seu pessimismo com relação à ciência e ao poder humano. A onda de entusiasmo freudiano que passou sobre a Europa Ocidental é uma onda de reação burguesa contra o materialismo, uma onda de decadência. Se ela se detém nas fronteiras da União dos Sovietes e se o freudismo não teve uma grande penetração entre nós, devemo-lo em grande parte à nossa literatura marxista consequente, que soube apreciar a tempo, em sua justa medida os desvios freudianos e dar-lhes a resposta merecida.
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[1] Apresentação e notas (N.E.) por Bruno Bianchi.
[2] N. E. Fritz Wittels (1880-1950), psicanalista austríaco e biográfico de Freud.
[3] N. E. Henriette Roland Holst (1869-1952), poeta e comunista holandesa, militante do Partido Comunista Holandês (CPN). Durante sua atividade política, manteve contato com figuras importantes do movimento comunista europeu, como Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht e Anton Pannekoek.
[4] REISSNER, M., Prefácio a WITTELS, F., Freud, p. 31-32 (edição russa).
[5] FREUD, S. As teorias psicológicas fundamentais na psicanálise.
[6] Freud atribui ao recalque uma importância capital em todo o seu sistema. “A doutrina do recalque, escreve ele, é o pilar sobre o qual repousa todo o edifício da psicanálise”.
[7] FREUD, S., op. cit.
[8] N. T. Aurel Kolnai (1900-1973), filósofo húngaro próximo tanto das ideias da fenomenologia de Franz Brentano e Edmund Husserl, de quem foi aluno em 1928, assim como dos surrealistas no início dosa nos 1930. Autor de artigos que versam sobre a psicanálise e a sociologia, como Psychoanalyse und Soziologie. Zur Psychologie von Masse und Gesellschaf [Psicanálise e Sociologia: Sobre a psicologia das massas e da sociedade].
[9] Ver prefácio à edição russa do livro de Wittels.
[10] Idem.
[11] Revista da Academia Comunista, nº 9.
[12] História da Nova Filosofia.
[13] N. E. Aron Borissovich Zalkind (1888-1936), médico, psiquiatra e psicanalista soviético, e um dos líderes do movimento pedológico na URSS. Foi diretor do Instituto de Psicologia, Pedologia e Psicotécnica após a renúncia de K. N. Kornilov, porém foi demitido em 1931 após ser acusado de “ecletismo idealista menchevique” devido à suas aproximações com a teoria freudiana e com a reflexologia, ambas severamente criticadas pelos debates psicológicos dos anos 1920 e 1930. Entre 1913 e 1931 escreveu diversos artigos analisando questões sociais e políticas, organização partidária, etc., com base na teoria psicanalítica.
[14] ZALKIND, A. B., Ensaio sobre a cultura da época revolucionária.
[15] V. V. Savich (1874-1936), fisiologista e médico russo e chefe do Instituto de Medicina Experimental da Academia de Ciências Médicas da URSS. Defendia a tese da explicação do comportamento humano através do sistema nervoso central e do sistema endócrino.
[16] Discurso publicado no nº 9 da Revista da Academia Comunista.
[17] WITTELS, F., op. cit.
[18] N. E. No artigo original publicado na Revista Princípios, o termo está traduzido ora como “atração”, ora como “aspiração”, visto que a palavra russa vlecheniye pode ser traduzida das duas formas. No entanto, vlecheniye também pode ser traduzida por pulsão, termo que melhor se adequa a tradição freudiana.
[19] FREUD, S. op. cit.
[20] FREUD, S., Além do Princípio do Prazer.
[21] FREUD, S., As teorias psicológicas fundamentais na psicanálise.
[22] FREUD, S., Ensaios sobre a psicologia da sexualidade.
[23] Teleologia: “doutrina idealista segundo a qual tudo no mundo foi criado por Deus e tende a um fim”. Engels escreve que após os teleólogos “os gatos foram criados para comer os ratos, estes para serem comidos pelo gatos, e o conjunto da natureza para demonstrar a sabedoria do Criador”. (A Dialética da Natureza).
[24] FREUD, S., As teorias psicológicas fundamentais.
[25] FREUD, S., Idem. Ver também Além do Princípio do Prazer.