Por Vladímir Ilitch Uliánov “Lênin”, via marxists.org, traduzido por Matheus Saez e Gabriel Landi Fazzio
Em certos países, principalmente nos pequenos e não envolvidos na presente guerra [I Guerra Mundial – NT] — Suécia, Noruega, Holanda e Suíça, por exemplo — temos ouvido vozes a favor da substituição da antiga demanda do programa mínimo por uma “milícia”, ou da “nação armada”, por uma nova demanda: “desarmamento”. Um artigo editorial a favor do desarmamento apareceu no n.3 da Jugend-Internationale (A Internacional da Juventude), órgão da organização da juventude internacional. Na “tese” de R. Grimm sobre a questão militar, apresentada ao congresso do Partido Social-Democrata Suíço, nós achamos uma concessão à ideia de “desarmamento”. Na revista suíça Neues Leben (Vida Nova), em 1915, Roland-Hoist, enquanto advoga ostensivamente pela “conciliação” entre as duas demandas, na verdade faz a mesma concessão. A publicação n.2 da Vorbote (O Arauto), órgão da Esquerda Internacional, carregava um artigo do marxista holandês Wijnkoop em defesa da antiga demanda pela nação-armada. As esquerdas escandinavas, como fica evidente nos artigos abaixo, aceitam o “desarmamento”, apesar de às vezes admitirem que a questão contém um elemento de pacifismo.[1]
Vamos observar mais de perto a posição daqueles que advogam pelo desarmamento.
I
Uma das principais premissas propostas, embora nem sempre expressamente, a favor do desarmamento é a seguinte: nos opomos à guerra, a toda guerra em geral, e a demanda pelo desarmamento é uma expressão definitivamente clara e sem ambiguidade desse ponto de vista.
Nós mostramos a falácia dessa ideia na nossa revisão do panfleto de Junius, sobre o qual já falamos ao leitor. [2] Socialistas não podem se opor a toda guerra em geral sem deixarem de ser socialistas. Nós não devemos nos deixar cegar pela atual guerra imperialista. Guerras entre “Grandes” Potências são típicas da época imperialista; mas guerras democráticas e rebeliões, por exemplo, de nações oprimidas contra seus opressores para libertarem-se da opressão, não são impossíveis. Guerras civis do proletariado contra a burguesia pelo socialismo são inevitáveis. Guerras são possíveis entre países nos quais o socialismo triunfou e outros países, reacionários ou burgueses.
O desarmamento é o ideal do socialismo. Não haverá mais guerras na sociedade socialista; consequentemente, o desarmamento será alcançado. Mas qualquer um que espera que o socialismo seja alcançado sem uma revolução social e ditadura do proletariado não é um socialista. Ditadura é um estado de poder baseado diretamente na violência. E no século XX — como no tempo das civilizações em geral — a violência não remete ao punho ou porrete, mas às tropas. Colocar “desarmamento” no programa equivale amplamente a fazer uma declaração como: nos opomos ao uso de armas. Há tão pouco marxismo nisso quanto teria em dizer: somos contra a violência!
Há de se observar que a discussão internacional dessa questão foi conduzida principalmente, se não exclusivamente, na língua alemã. Os alemães, no entanto, usam duas palavras, cuja diferença não é facilmente expressada no russo. Uma, estritamente falando, significa “desarmamento”,[3] e é usada por Kautsky e pelos kautskistas, por exemplo, no sentido de redução dos armamentos. A outra, de forma estrita, significa “desbelicização”,[4] e é usada principalmente pelas Esquerdas no sentido de abolição do militarismo, abolição de todos sistemas militaristas. Nesse artigo tratamos da última demanda, presente entre certos social-democratas revolucionários.
A defesa kautskista do “desarmamento”, que é destinada aos atuais governos das grandes potências imperialistas, é do mais vulgar oportunismo, é pacifismo burguês, que na verdade – a despeito das “boas intenções” dos sentimentais kautskistas – serve para distrair os trabalhadores da luta revolucionária. Porque essa defesa procura instigar nos operários a ideia de que os atuais governos burgueses dos poderes imperialistas não são conectados uns aos outros por milhares de fios do capital financeiro, por dezenas ou centenas de tratados secretos correspondentes (isto é, tratados predatórios, saqueadores, que abrem caminho para guerra imperialista).
II
Uma classe oprimida que não se empenha em aprender a usar armas, a adquirir armas, merece apenas ser tratada apenas como escrava. Não podemos, a menos que tenhamos nos tornado pacifistas ou oportunistas burgueses, esquecer que estamos vivendo numa sociedade de classes da qual não há saída, nem pode haver, salvo pela luta de classes e destruição do poder da classe dominante.
Em qualquer sociedade de classes, seja baseada em escravidão, servidão ou, como atualmente, no trabalho assalariado, a classe opressora sempre esteve armada. Não apenas com exércitos modernos, mas também milícias modernas – e até mesmo as repúblicas burguesas mais democráticas; a Suíça, por exemplo – representam a burguesia armada contra o proletariado. Essa é uma verdade tão elementar que é dificilmente necessário insistir sobre isso. É suficiente sublinhar que, em todos os países capitalistas, sem exceções, tropas (incluindo a milícia republicano-democrática) são usadas contra grevistas. A burguesia armada contra o proletariado é um dos maiores, mais fundamentais e mais cardinais fatos da moderna sociedade capitalista.
E, frente a tal fato, revolucionários social-democratas insistem em “exigir” “desarmamento”! Isso é equivalente ao completo abandono da perspectiva da luta de classes, à renúncia de todo pensamento revolucionário. Nossa palavra de ordem deve ser: armar o proletariado para derrubar, expropriar e desarmar a burguesia. Essa é a única tática possível para uma classe revolucionária, tática que segue logicamente e são ditadas por todo o desenvolvimento objetivo do militarismo capitalista. Apenas após o proletariado conseguir ter desarmado a burguesia poderá, sem trair sua missão histórico-mundial, consignar todas as armas ao ferro-velho. E o proletariado fará isso sem dúvidas, mas apenas quando essa condição for realizada, e certamente não antes.
Se a guerra atual causa nos reacionários socialistas cristãos, entre a pequena burguesia chorona, apenas horror e pavor, apenas aversão a todo uso de armas, derramamento de sangue, morte, etc., então devemos dizer: a sociedade capitalista é e sempre foi terror sem fim. E se essa tão reacionária guerra está preparando para esta sociedade um fim horrível, não temos razão para cair em desespero. Mas a “demanda” de desarmamento, ou melhor, o sonho do desarmamento é, objetivamente, nada além de uma expressão de desespero em um tempo em que, como todos podem ver, a burguesia mesmo está pavimentando o caminho para a única guerra legítima e revolucionária – a guerra civil contra a burguesia imperialista.
Uma teoria sem vida, alguns podem dizer, mas devemos lembrá-los de dois fatos mundialmente históricos: por um lado, o papel dos trustes e o emprego das mulheres na indústria; por outro lado, a Comuna de Paris de 1871 e o levante de dezembro de 1905 na Rússia.
A burguesia faz ser seu negócio a promoção de trustes¹, levar mulheres e crianças às fábricas, sujeitá-los à corrupção e ao sofrimento, e condená-los à pobreza extrema. Nós não “exigimos” tal desenvolvimento, nós não o “apoiamos”. Nós o combatemos. Mas como o combatemos? Explicamos que os trustes e o emprego de mulheres na indústria são progressivos. Não desejamos o retorno ao sistema de manufatura, ao capitalismo pré monopólio, à labuta doméstica para as mulheres. A diante com os trustes, etc., e para além deles, para o socialismo!
Esse argumento leva em conta o desenvolvimento objetivo e, com as mudanças necessárias, se aplica também a atual militarização da população. Hoje a burguesia imperialista militariza a juventude assim como os adultos; amanhã talvez militarize as mulheres. Nossa atitude deve ser: só vitórias! Tanto melhor. Avante a toda velocidade! Porque quanto mais rápido nos movermos, o mais próximo estaremos do levante armado contra o capitalismo. Como podem social-democratas dar espaço pro medo da militarização da juventude, etc. se eles não se esqueceram o exemplo da Comuna de Paris? Essa não é uma “teoria sem vida” ou um sonho. É um fato. E seria realmente uma situação digna de pena se, mesmo com todos os fatos econômicos e políticos, os social-democratas começassem a duvidar de que a era imperialista e as guerras imperialistas devem inevitavelmente trazer à tona a repetição de tais fatos.
Certo observador burguês da Comuna de Paris, escrevendo para um jornal britânico em maio de 1871, disse: “Se a nação francesa consistisse inteiramente de mulheres, que nação horrível seria!” Mulheres e adolescentes lutaram lado a lado com os homens. Não será diferente nas vindouras batalhas para a derrocada da burguesia. Mulheres proletárias não assistirão passivamente enquanto trabalhadores mal armados, ou desarmados, são massacrados pelas forças bem equipadas da burguesia. Elas pegarão em armas, como fizeram em 1871, e das nações intimidadas de hoje — ou melhor, do contemporâneo movimento operário, mais desorganizado pelos oportunistas do que pelos governos — se erguerá, cedo ou tarde, mas com absoluta certeza, uma liga internacional das “nações terríveis” do proletário revolucionário.
Toda vida social está sendo agora militarizada. O imperialismo é a feroz luta das grandes potências pela divisão e re-divisão do mundo. Está fadado, portanto, a levar adiante a militarização em todos os países, até aos neutros e menores. Como as mulheres proletárias farão oposição a isso? Apenas amaldiçoando toda guerra e tudo que é militar, apenas demandando desarmamento? As mulheres de uma classe oprimida e realmente revolucionária jamais aceitariam um papel vergonhoso como tal. Elas dirão aos seus filhos;
“Logo você crescerá. Te darão uma arma. Pegue-a e aprenda a arte militar apropriadamente. Os proletários precisam desse conhecimento para não alvejar seus irmãos, os trabalhadores de outros países, como acontece na guerra atual, e como os traidores do socialismo os mandam fazer. Eles devem combater a burguesia de seus próprios países, para pôr fim à exploração, à pobreza e à guerra, e não mediante pios desejos, mas pela destruição e desarmamento da burguesia.”
Se desejamos escapar a tal propaganda, especificamente essa propaganda, em conexão com a guerra atual, então devemos logo parar de usar belas palavras sobre a social-democracia internacional revolucionária, a revolução socialista e a guerra contra a guerra.
III
Os defensores do desarmamento desaprovam a cláusula sobre a “nação armada” no programa porque, também, ela facilmente leva, alegam, a concessões ao oportunismo. Examinamos até então o ponto crucial, isto é, a relação entre desarmamento e a luta de classes e revolução social. Agora trataremos sobre a relação entre a demanda por desarmamento e o oportunismo. Um dos motivos mais importantes do motivo pelo qual esta demanda é inaceitável é precisamente que, juntamente com a ilusão que cria, ela inevitavelmente enfraquece e desvitaliza nossa luta contra o oportunismo.
Indubitavelmente, essa luta é a questão principal e imediata que agora confronta a Internacional. A luta contra o imperialismo que não está ligada de perto à luta contra o oportunismo ou é vazia ou é fraudulenta. Um dos principais defeitos de Zimmerwald e Kienthal – uma das principais razões desses embriões da Terceira Internacional possivelmente acabarem num fiasco – é que a questão de combater o oportunismo não foi nem ao menos levantada abertamente, tampouco resolvida no sentido de proclamar a necessidade de romper com os oportunistas. O oportunismo triunfou – temporariamente – no movimento operário europeu. Suas duas principais vertentes estão, aparentemente, em todos os grandes países: primeiro, o confesso, cínico e, portanto, menos perigoso social-imperialismo dos senhores Plekhánov, Scheidemann, Legien, Albert Thomas e Sembat, Vandervelde, Hyndman, Henderson, entre outros.; em segundo lugar, o dissimulado oportunismo kautskista: Kautsky-Haase e o Grupo Operário Social-Democrata na Alemanha; Longuet, Pressemane, Mayéras e outros na França; Ramsay MacDonald e os outros líderes do Partido Trabalhista Independente na Inglaterra; Mártov, Chkeidze, e outros na Rússia; Treves e os ditos reformistas de esquerda na Itália.
O oportunismo confesso é abertamente oposto à revolução e aos nascentes e eruptivos movimentos revolucionários. Tem relação direta de aliança com os governos, por mais variadas que as formas dessas alianças sejam – desde aceitar postos em ministérios até a participação em comitês das indústrias bélicas. Os oportunistas enrustidos, os kautskistas, são muito mais danosos e perigosos para o movimento operário, porque escondem sua defesa da aliança com os oportunistas confessos embaixo de uma capa pseudo-marxista de frases feitas plausíveis e palavras de ordem pacifistas. A luta contra ambas formas de oportunismo correntes deve ser conduzida em todos os campos da política proletária: parlamento, sindicatos, greves, forças armadas, etc.
Qual é a principal característica que distingue ambas formas prevalentes de oportunismo?
É que a questão concreta sobre a conexão entre a atual guerra e a revolução, e as outras questões concretas da revolução, são silenciadas, escondidas, ou tratadas sempre tendo em vista as proibições policias. E isso apesar do fato de que, antes da guerra, as conexões entre essa guerra iminente e a revolução proletária foi enfatizada inúmeras vezes, tanto não oficialmente quanto oficialmente, no Manifesto da Basileia.
O principal defeito da demanda por desarmamento é sua evasão de todas as questões concretas da revolução. Ou os defensores do desarmamento defendem um tipo completamente novo de revolução, a revolução desarmada?
IV
Para continuar. Nós, de forma alguma, nos opomos às lutas por reformas. E não gostaríamos de ignorar a triste possibilidade – se o pior sobressair – da humanidade ter de enfrentar uma segunda guerra imperialista, caso a revolução não brote dessa guerra atual, apesar de numerosos e eruptivos descontentamentos e agitações da massa e apesar de nossos esforços. Nós defendemos um programa de reformas direcionado também contra os oportunistas. Para eles seria um grande deleite se nós deixássemos a luta por reformas inteiramente para eles e buscássemos escapar da triste realidade para uma nebulosa fantasia “desarmamentista”. “Desarmamento” significa simplesmente correr de uma realidade desagradável, não enfrentá-la.
A propósito, certas esquerdas falham em dar resposta suficientemente concreta quanto à questão da defesa da pátria, e esse é um grande defeito de sua atitude. Teoricamente, é muito mais correto e, na prática, incomensuravelmente mais importante dizer que na atual guerra imperialista defender a pátria é um engano burguês e reacionário, do que se opor à defesa da pátria sob “todas” circunstâncias. Isso é errado e, além disso, não “atinge” os oportunistas, aqueles que são inimigos diretos dos trabalhadores nos partidos operários.
Para desenvolver uma resposta concreta e necessariamente prática sobre a questão da milícia, devemos dizer: não somos a favor de uma milícia burguesa; advogamos apenas a milícia operária. Assim, “nem um centavo, nem um homem”, não apenas para um exército permanente, mas mesmo para a milícia burguesa, em países como Estados Unidos, ou Suíça, Noruega, etc. Tanto mais na medida em que vemos, nos países republicanos mais livres (ex: Suíça), uma “prussianização” [5] e prostituição da milícia, sendo usada contra grevistas. Nós podemos exigir eleições populares de oficiais, abolição de toda lei militar, igualdade de direitos para trabalhadores estrangeiros e nativos (um ponto particularmente importante para aqueles Estados imperialistas nos quais, como a Suíça, números altíssimos de trabalhadores estrangeiros são explorados enquanto têm todos seus direitos negados). Ademais, podemos exigir o direito de cada centena, digamos, de habitantes de um dado país de se formarem associações voluntárias de treinamento militar, com eleições livres de instrutores pagos pelo estado, etc. Apenas nessas circunstâncias poderia o proletariado adquirir treinamento militar para si mesmo e não para seus senhores de escravos; e a necessidade de tais treinamentos é imperativamente posta pelos interesses do proletariado. A revolução russa mostrou que todo sucesso do movimento revolucionário, até mesmo as vitórias parciais, como a tomada de certa cidade, ou certa vila fabril, ou a conquista de determinada ala do exército, inevitavelmente compele o proletariado vitorioso a executar um programa semelhante.
Finalmente, é lógico que o oportunismo jamais poderá ser derrotado por simples programas; será derrotado apenas por atos. O maior e mais fatal erro da falida Segunda Internacional foi que suas palavras não corresponderam aos seus atos, que tenha cultivado o hábito da inescrupulosa fraseologia revolucionária (note a presente atitude de Kautsky e Cia. em relação ao Manifesto da Basileia). Ao abordar a demanda por desarmamento a partir dessa perspectiva, devemos primeiro levantar a questão de seu significado objetivo. Desarmamento enquanto ideia social, por exemplo, uma ideia que brota de e pode afetar um certo meio social, e que não é invenção de um lunático ou de um grupo, brota, evidentemente, da “tranquilidade” peculiar prevalente, a título de exceção, em certos estados pequenos que, por determinado tempo, estiveram à parte das veredas bélicas e sanguinárias do mundo, e esperam permanecer assim. Para estar convencidos disso devemos apenas considerar os argumentos elencados, por exemplo, pelos noruegueses que advogam pelo desarmamento. “Somos uma pequena nação,” dizem. “Nosso exército é pequeno; não há nada que possamos fazer contra as grandes potências (e, consequentemente, nada que possamos fazer para resistir ao envolvimento forçado em alianças imperialistas com um ou outro grupo de grandes potências!). Nós queremos ser deixados em paz em nossos quintais e continuar com nossa política de quintal, demandar desarmamento, arbitragem obrigatória, neutralidade permanente, etc.” (“permanente” como nos moldes belgas, sem dúvidas?).
Os pequenos esforços dos pequenos estados para manter distância, o desejo pequeno burguês de se manter o mais distante possível das grandes batalhas da história do mundo, de tomar vantagem da posição relativamente monopolista de alguém para se manter em passividade empacada – esse é o meio social objetivo que assegura às ideias de desarmamento um certo grau de sucesso e popularidade em determinados países pequenos. Esses esforços são, com certeza, reacionários e completamente baseados em ilusões, porque, de uma forma ou de outra, o imperialismo arrasta esses países pequenos para o vórtice da economia e política mundiais.
Podemos citar o caso da Suíça. Seu ambiente imperialista prescreve objetivamente dois cursos para o movimento operário. Os oportunistas, em aliança com a burguesia, buscam transformar o país em uma federação republicana democrática monopolista que prospera em lucros de turistas burgueses imperialistas, para fazer dessa posição de tranquilidade monopolista tão lucrativa e tranquila quanto possível. Em realidade, essa é uma política de aliança entre uma minoria privilegiada de trabalhadores de um país privilegiado e a burguesia desse país contra a massa proletária. Os social-democratas suíços genuínos estão se esforçando para usar a relativa liberdade da Suíça, sua posição “internacional” (proximidade das mais cultas nações, o fato de que a Suíça, graças a Deus, não tem “uma língua própria”, mas usa três línguas do mundo) para expandir, consolidar e fortalecer a aliança revolucionária entre os elementos do proletariado revolucionário de toda a Europa. Ajudemos nossa própria burguesia a manter enquanto possível seu monopólio de negócio tranquilíssimo no charme dos Alpes; talvez um centavo ou dois cairão nos nossos bolsos – esse é o conteúdo objetivo das políticas dos oportunistas suíços. Ajudemos a soldar a aliança das seções revolucionárias proletárias francesas, alemãs e italianas para derrubar a burguesia – esse é o conteúdo objetivo das políticas dos social-democratas suíços revolucionários. Infelizmente, ainda está longe de ser apropriadamente realizada pelas “esquerdas” suíças, e a decisão esplêndida do congresso do Partido Aarau de 1915 (aceitação da luta de massas revolucionária) ainda é letra morta. Mas esse não é o ponto do que estamos discutindo no momento.
A questão que nos interessa agora é: a demanda por desarmamento corresponde a essa tendência revolucionária entre os social-democratas suíços? É óbvio que não. Objetivamente, a “demanda” por desarmamento corresponde à linha oportunista e estreitamente nacional do movimento operário, linha que é restringida pela perspectiva de um Estado pequeno. Objetivamente, “desarmamento” é um programa extremamente e especificamente nacional dos pequenos países; certamente não é o programa internacional da social-democracia revolucionária internacional.
P.S: Na última publicação da inglesa Revista Socialista [Socialist Review][6] (Setembro, 1916), órgão do oportunista Partido Trabalhista Independente, achamos, na página 287, a resolução da conferência partidária de Newcastle – a recusa a apoiar qualquer guerra empreendida por qualquer governo mesmo se, “de fato”, seja uma guerra de “defesa”. E, numa nota editorial na página 205 da mesmo volume, lemos a seguinte declaração: “Em nenhum grau aprovamos a rebelião de Sinn Féin [rebelião irlandesa de 1916]. Não aprovamos a rebelião armada de forma alguma, tão pouco quanto aprovamos qualquer outra forma de militarismo e guerra.”
Há alguma necessidade de provar que esses “anti-militaristas”, que tais advogados do desarmamento, não em pequenos, mas em grandes países, são os mais perniciosos oportunistas? E ainda, teoricamente, eles estão até certos em encarar a insurreição enquanto uma “forma” de militarismo e guerra.
Notas editoriais
[1] Referência ao artigo de Karl Kilbom A Social-Democracia Sueca e a Grande Guerra e ao de Arvid Hansen, Certas Características do Movimento Operário Contemporâneo na Noruega, ambos publicados na Sbornik Sotsial-Demokrata N.2, dezembro 1916.
[2] Referência ao artigo de Lênin O Panfleto de Junius, escrito em de julho de 1916 e publicado em 1 de outubro do mesmo ano.
[3] Abrüstung.
[4] Entwaffnung.
[5] Referência ao paradigma militar prussiano.
[6] Revista mensal publicada em Londres pelo Partido Trabalhista Independente de 1908 a 1934.