Por Wilhem Reich. Traduzido por Jean-jacques Scherer Peres. Trecho retirado do texto “Reforming the Labor Movement”, presente na coletânea “Sex-Pol Essays, 1929-1934”, da Vintage Books Edition, de 1972.
A consciência de classe surge de duas formas. A das massas é diferente da dos dirigentes. (Exemplos do primeiro tipo: as necessidades do adolescente, como a necessidade de suas próprias acomodações de vida; a recusa do trabalhador de fábrica em aceitar um corte em seu pagamento; a fúria das pessoas da SA quando são desarmados. Exemplos do outro tipo: um conhecimento de como os mecanismos da crise tomam curso; uma compreensão técnica dos planos econômicos do socialismo; a compreensão das contradições imperialistas e das corridas armamentistas ao redor do mundo, combinada com a mais atenciosa empatia com as necessidades das massas.)
A força política de uma organização ou um movimento é em última instância determinada não pela sua intenção ou seu programa, mas pela sua força de massas, por quais elementos da massas vêm tomar parte. Portanto, o mesmo destino não devia estar guardado para o revolucionário como esteve para Goebbels, que limpou-se do massacre de 30 de Junho, 1934, uma vez que ele não era representante de uma base de massas pela qual pudesse ser responsabilizado e que poderia ter levado ele a acabar no lado “certo” [which might have made him come down on the “right” side].
Uma questão crucial: Em que aspectos sou eu, um revolucionário, influenciado por hábitos religiosos, burgueses ou morais? De que formas, portanto, estou debilitado em meu trabalho revolucionário? Em que pontos eu, também, tendo a confiar na autoridade?
O mínimo que deveríamos esperar é que a direção revolucionária agirá, não subjetivamente mas também objetivamente, no interesse revolucionário.
Onde enganos forem cometidos, é imperativo que correções sejam levadas a termo não apenas na instância inferior como na instância superior.
A linha política deve ser submetida constantemente ao controle das bases. (Discussões internas do partido.)
É errado dar passos políticos silenciosamente, e frequentemente em segredo. Isso frequentemente semeia confusão e gera incompetência. Para todo passo político, uma prestação completa de contas deve ser colocada aos membros do partido. Os fracassos que ocorrem deveriam ser ocasião para uma verdadeira autocrítica, que não meramente distribua culpa mecanicamente para a instância inferior do partido (“As decisões do X Congresso do Partido não foram executadas propriamente”).
Nessa conexão, o problema da direção deve ser levantado. Deve haver uma renovação do pessoal nas médias e superiores instâncias dos quadros funcionais. Quem quer que aja e o faça ignorantemente… quem quer que prove relutante em agir… não está preparado para dirigir – e a pressão das massas deve leva-lo a admitir isso.
É essencial encontrar e preparar a priori as formas pelas quais vamos evitar a burocratização de uma organização revolucionária viva. Por que um trabalhador comum tão prontamente se torna um mandarim quando é indicado a uma função? A melhor advertência reveladora: a atitude ético-sexual a respeito da pretensão de jovens de casar.
Como devemos detectar o futuro vira-casaca, o espião da polícia, o renegado, o inconfiável nos momentos decisivos, mesmo antes dele perceber ou se dar conta disso? (Vaidade, maneiras insinuantes, mitigar suas posições nos debates, simpatia excessiva ou exposição forçada ou abstrata de um ponto de vista revolucionário, etc.)
Quais são os sinais reconhecíveis do revolucionário firme? (Atitude exterior simples, capacidade de contato direto com o povo, simples conduta honesta [straighforward] nos comportamentos sexuais, ausência de palavrório [phrase-making], claro uma emocional, mas acima de tudo, uma convicção arrazoada em favor do socialismo, sem tendências mandarinescas quando confiados de tarefas, ausência de atitude patriarcal em relação a mulheres e crianças.)
Composição do partido em no processo de sua construção: qualidade, não quantidade no núcleo! Um núcleo (o partido), mais a matriz de massas simpatizantes (antes os carregadores de crachás do partido). Um procedimento de teste na admissão de outros.
Nada de sobrecarga dos quadros em função [functionaries]! Absolutamente, forneça-lhes tempo livre. Não seja indiferente a vida privada; ao invés, ajude-lhe em seu ordenamento! Sempre tenha substitutos preparados e prontos para entrar. Trabalho alocado em proporções toleráveis. Reuniões breves e pontuais! Criticismo buscado se apontado; reclamações críticas rigorosamente rejeitados! Primeiro, sempre entenda o ponto de vista do outro! Evite a aproximação “dispersiva”, e a “campanha” intermitente; ao contrário prove o que é mais fundamental e urgente, até que a ação esteja encaminhada como pensada por si mesma.
Sem heroísmo desnecessário! Não se orgulhe do martírio, conserve seus recurso! Não há arte ou fama em cumprir pena. Mas pode ser necessário a maior arte para evitar cumprir pena. Não se gabe de “solidariedade proletária”. Ao invés disso, realmente pratique a solidariedade (pense em como isto faltou no caso de “Rote Hilfe”[1]).
Conflitos pessoais e relações frequentemente perturbam o trabalho político! (Por exemplo, uma esposa que auto-centrada e envolve seu marido; ou vice-versa.) Aprenda como não rejeitar o pessoal, mas politizá-lo.
Em nosso pensamento, devemos aprender a passar por mudanças. Isso deve ser distinguido da falta de convicções. Nossa adesão a organização e a ideias transmitidas pode bloquear o caminho de enxergar a realidade viva, e nós devemos aprender a reconhecer isto. (A organização revolucionária, e nossa consciente solidariedade nesta, são as bases para o trabalho revolucionário do indivíduo. Ainda assim, onde a organização se torne um susbstituto inconsciente para pátria ou família, o foco agudo da realidade pode ser obscurecido.)
Além disso no que toca a assuntos internos do partido, sempre se volte para a tribuna aberta que é partido (isso, é claro, em tempos de legalidade). Proceder com questões internas secretas do partido é danoso. Qualquer um que precise esconder sua opinião não é um de nós. O mesmo diz respeito a qualquer um que subordine a causa revolucionária a serviço das táticas ao invés do contrário.
Desenvolver a própria iniciativa significa, inequivocamente, olhar a vida firmemente e disso retirar suas consequências.
[1] Organização alemão vinculada ao KPD de solidariedade aos presos políticos criada como resposta as detenções da Ação de Março a partir de deliberação do IV Congresso da Internacional. A crítica de Reich não sabemos a que se refere.