Por Vladímir Ilitch Lênin, via Marxists.org, traduzido por Gabriel Henrique Marucci
Sr. Velikhov, proprietário, membro da Duma Estatal e do Partido dos Kadets, editor da Gorodskoye Dyelo[1], publicou em sua revista um artigo em defesa do congresso de Kiev de representantes urbanos da “burocracia intelectual”.
Essa expressão maliciosa, emprestada da imprensa reacionária, denota a intelligentsia democrática, quem, sejam conhecidos, ofenderam os pobres proprietários ao analisar as “instituições dos proprietários” e exigir clareza política. A “burocracia dos intelectuais”, reclama o Sr. Velikhov, tentou “essencialmente impor um papel político-geral ao congresso”.
O Sr. Velikhov chama essa tendência no congresso de “política” e contrasta com outra tendência, “municipal”.
As visões deste último ele esboça da seguinte forma:
A revolução, disseram os representantes urbanos, passou e não é provável que se repita no futuro próximo. É provável que não tenha sido completamente bem-sucedida porque as classes revolucionárias [quais classes? Diga o que quer dizer, Sr. Velikhov!] agiram naquele momento sem ter adquirido conhecimento e experiência suficientes e não foram treinadas para assumir o poder do Estado. O extenso itinerário de reuniões, slogans, discursos grandiloquentes e resoluções de protesto não satisfaz mais ninguém e aparentemente já está ultrapassado. À nossa frente, há um tremendo trabalho cultural de natureza prática.”
É assim que um proprietário fala. Ele mostra o ponto de vista do senhor de escravos, tanto em sua moralidade quanto em seu desejo de esquecer que no momento decisivo a burguesia passou para o lado dos feudais. Ele repete de uma maneira peculiar algumas frases “pseudo-marxistas” que ouviu em algum lugar, provavelmente entre os liquidacionistas:
Na Rússia, onde o proletariado da classe trabalhadora ainda é pequeno em números e fraco, onde, mesmo de acordo com o Capital de Marx, o governo deveria passar de aristocracia fundiária para a burguesia urbana na próxima etapa do desenvolvimento histórico, atacar a burguesia, desprezá-los, impedir suas tentativas de lutar contra o presente sistema político e o regime significa colocar o freio no progresso natural. (Gorodskoye Dyelo, 1913, nº 20, páginas 1.341-1.342).
Absolutamente, absolutamente “de acordo com Marx”!
Meu caro proprietário progressista e até constitucional-democrático! “As tentativas da burguesia de lutar contra o atual sistema político” nunca foram impedidas pelos marxistas. Você nunca será capaz de mostrar um único caso de “luta” em que o “proletariado fraco” não participou mais energeticamente. Os marxistas e os trabalhadores não desprezaram nenhum caso de “luta” burguesa contra os senhores feudais.
Mas você não se lembra, você que cita Marx, desses exemplos históricos que se tornaram cada vez mais frequentes desde 1848, da burguesia traindo a luta contra os senhores feudais e passando para o lado deles?
A história russa, também, está repleta de tais exemplos, especialmente em 1904 e ainda mais no outono de 1905, ainda mais no inverno daquele ano e depois na primavera de 1906, e assim por diante.
Você não consegue entender, Sr. Proprietário que cita Marx, que os interesses da luta contra os senhores feudais exigem que aqueles burgueses que falam sobre a luta e, por suas ações, a traem, sejam expostos, atacados e desacreditados?
Notas
[1] Gorodskoye Dyelo (Assuntos Urbanos) – uma revista quinzenal do Kadet dedicada à questões de economia e administração municipal; foi publicada em São Petesburgo de 1909 a 1918.