O papel da classe operária e de seu Partido de vanguarda

Por Victotio Codovilla, via Nuestra América, traduzido por Teylor Lourival

Permitam-me, agora, referir-me a um problema candente, o do papel da classe operária e de seu partido de vanguarda, o partido marxista-leninista, que é colocado em dúvida por certos teóricos ditos marxistas e por setores chamados de “desenvolvimentistas” (1).

Do lado de alguns dos chamados “desenvolvimentistas” do campo burguês e pequeno burguês se propaga a inconveniência da existência de partidos políticos marxistas-leninistas, pois eles vão contra a chamada “aliança de classes”, criando então obstáculos — segundo dizem — para o desenvolvimento da economia nacional.

Ainda quando estes setores fazem políticas, em muitos casos política aventureira, se declaram contra a política e pedem ao movimento sindical que se despolitize, que deixe de lado os princípios da luta de classes e que forme uma só “comunidade” com os padrões e com o Estado para defender interesses que, segundo eles, são comuns. Ainda que se apresentem com distintas roupagens, no fundo não fazem mais do que defender a política econômica e social da ditadura governante.

Como é sabido, este trabalho oculto também é realizado por certos dirigentes sindicais peronistas e não peronistas, que falam contra a necessidade da existência de partidos democráticos e pela criação de movimentos apolíticos para impulsionar o “desenvolvimento” da economia nacional e assegurar o “bem-estar” de todo o povo.

Esta política tem por objetivo desviar o proletariado das lutas por suas reivindicações econômicas e políticas imediatas, obrigá-lo a aceitar as migalhas que lhes dão seus exploradores e liquidar o papel dirigente do proletariado na revolução democrática, agrária e anti-imperialista. Por conseguinte, é preciso denunciar com força o caráter reacionário desta política e desmascarar seus lacaios.

Nós, comunistas, somos partidários convictos de que o proletariado participe em frentes únicas com outras organizações políticas e sociais, e quanto mais amplas, melhor. Como é sabido, tomamos a iniciativa para que eles se constituam. Mas, ao mesmo tempo sustentamos que o movimento sindical, assim como os partidos políticos, lutando por pontos programáticos comuns, devem manter sua posição independente. Em todo caso, os comunistas nunca abdicaremos de nossa ideologia e da independência orgânica e política de nosso partido.

Por outro lado, desde o campo dos “cavaleiros das fraseologias ultra-revolucionárias” também se propaga a ideia de que o proletariado não precisa de um partido político marxista-leninista para jogar o papel dirigente na revolução democrática, agrária e anti-imperialista, com vistas ao socialismo; pois dizem que ao aceitar este princípio ficariam à margem do partido revolucionário, já que não estariam dispostos a participar em uma frente comum de luta com os comunistas.

Esta gente propõe substituir o partido da classe operária por um movimento socialmente heterogêneo no qual, junto com revolucionários marxistas-leninistas, possam atuar renegados de toda espécie expulsos do partido ou aventureiros da pior qualidade.

Além disso, sob o pretexto do aburguesamento dos operários das cidades, estes mesmos “revolucionários” consideram que o fundamental não é o trabalho entre a classe operária a fim de conquista-la para a causa revolucionária e fazê-la desempenhar um papel dirigente, mas sim que o essencial é o trabalho de cooptação de camponeses e estudantes, designando-lhes o papel dirigente do movimento de libertação nacional e social.

Não é necessário sublinhar que os camponeses são uma das forças motrizes da revolução democrática, agrária e anti-imperialista e que o trabalho a realizar entre eles deve ser em função de atraí-los como aliados do proletariado. Tampouco cabe dúvida, como acontece em nosso país, que os estudantes conquistaram um posto de honra na luta conjunta com os operários por reivindicações comuns e na luta geral pela emancipação nacional e social de nosso povo.

Mas os “revolucionários” aos quais fazemos referência não se propõem assinalar a importância destes fatos em função desta luta geral, mas sim negar claramente a concepção leninista da aliança operário-camponesa sob a hegemonia do proletariado e de seu partido de vanguarda, o partido comunista, com a finalidade de realizar a revolução democrática, agrária e anti-imperialista, com vistas ao socialismo.

Agora, bem; ao negar o papel do proletariado, chegam à conclusão, como Regis Debray, de que “a luta de libertação nacional sobre bases anti-imperialistas não pode ser construída sob a égide do marxismo-leninismo e da classe operária em países coloniais ou semi-coloniais”.

Esta “teoria” que se quer fazer vender como original, não o é. Foi difundida na América Latina principalmente pelo agente do imperialismo yankee Haya de la Torre, na década de 20 a 30 e foi combatida e pulverizada pelos marxistas-leninistas de cada país do continente; as conclusões da Conferência dos partidos comunistas da América Latina, realizada em Buenos Aires em 1929; os trabalhos de Mariátegui, de Mella e de tantos outros. E, anos mais tarde, quando recrudesceu o aprismo (2), os marxistas-leninistas da América Latina, entre eles o camarada Arismendi, refutaram de novo suas concepções anti-marxistas e sua política capitulacionista frente ao imperialismo. (3)

A experiência está posta, pois, hoje como ontem, quem tem interesse em diminuir ou negar o papel dirigente do proletariado e de seu partido de vanguarda, o partido comunista, qualquer que seja o argumento utilizado, leva água ao moinho dos inimigos da classe operária, do povo e da nação.

1 — Desenvolvimentismo é a corrente política que propicia a maior injeção de capitais estrangeiros e a tecnificação da agronomia em vez da reforma agrária.

2 — Aprismo é o movimento político do Peru, seguidor do partido Aliança Popular Revolucionária Americana (PARA), fundado por Victor Raúl Haya de La Torre em 1924.

3 — R. Arismendi: La Filosofia del marxismo y el señor Haya de la Torre, editorial Anteo, 1946

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